Um grupo de trabalhadores da Direção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV) enviou esta segunda-feira uma carta aberta a António Costa na sequência das críticas lançadas pelo primeiro-ministro depois da morte de mais de 70 cães e gatos, vítimas de um incêndio em dois abrigos ilegais, em Santo Tirso.
"Retivemos com mágoa e sentimento de profunda injustiça as suas palavras", começou por ser sublinhado na carta, na qual é também mencionada uma lei em que foram aprovadas medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais e estabelecida a proibição do abate de animais errantes como forma de controlo da população. Segundo o grupo de trabalhadores, sem o apoio técnico científico da DGAV.
"A lei 27/2016 foi publicada sem o apoio técnico científico da DGAV, o que nos parece verdadeiramente inadmissível, tendo em conta o acima enunciado e o facto de a defesa do bem-estar animal ter estado na génese da mesma. Ora, isto determinou que a lei 27/2016 tivesse sido implementada com a mesma lógica que se constroem casas a partir do telhado, sem base de sustentação que lhe dê solidez, eficiência e durabilidade", pode ler-se.
Além disso, este grupo de trabalhadores da DGAV critica ainda o facto de esta lei ter sido aprovada e "pouco" ter sido feito no período transitório. "Sabemos, tal como o senhor também sabe, que é preciso mudar mentalidades, e, sobretudo, ter mecanismos no terreno que permitam operacionalizar essas mesmas leis. Pouco foi feito no curto período transitório, pela educação dos cidadãos quanto às questões decorrentes e consequentes do abandono dos animais. A DGAV desde o primeiro dia que se ofereceu para participar nestas ações educativas", rematou, reforçando que antes de ter sido aplicado esta lei "deveria ter sido posta no terreno uma campanha massiva de esterilização de animais em canis e animais errantes, para evitar a sua reprodução descontrolada".
Os trabalhadores ainda "o esvaziamento de recursos humanos e financiamento de que a DGAV tem sido alvo e que necessariamente impacta na nossa capacidade de ação".
O primeiro-ministro António Costa, recorde-se, não poupou críticas ao trabalho da DGAV após a morte dos animais em Santo Tirso. ”Quanto à orgânica do Estado: temos de repensar, porque a Direção-Geral de Veterinária não está feita para cuidar de animais de estimação e manifestamente não tem revelado capacidade ou competência de se ajustar à nova realidade legislativa”, referiu, na altura.