1. Aí estão os dados económicos do 2.º trimestre 2020 a referir que Portugal sofreu uma quebra de 16, no PIB, o 4º maior decréscimo da Zona Euro (15% face a idêntico período de 2019). Entre os Estados-membros, ficámos depois da Espanha (-22,1%) – país do qual dependemos fortemente na nossa economia (o que não augura nada de bom), seguindo-se França (-19%) e Itália (-17,3%).
Entretanto, os dados do desemprego, não sugerem tal descalabro. Em julho 2020, o IEFP refere a existência de cerca de 407 mil desempregados, depois de, em junho 2020, o INE referir uma taxa de desemprego de apenas 7% em Portugal. Ou seja, estamos perante um autêntico milagre: o PIB decresce em valores históricos e consequentemente decresce o número de empregos, mas o desemprego não acompanha esta quebra?
Obviamente que esta situação não faz qualquer sentido. Julgo que o segredo está na classificação de «subutilização de trabalho» que de acordo com o INE passou a abranger 748,7 mil pessoas. De facto, há um desemprego latente que o Verão até ajuda a camuflar, mas se o Turismo não recuperar (como é o mais provável, porque retomar com medos demora muitos anos e pode haver segunda fase da covid-19) e o layoff simplificado não for reposto, iremos finalmente cair ‘na real’, dando total razão a Eugénio Rosa que vem referindo e justificando que o desemprego real já atingia 636 mil pessoas em junho passado.
2. Ao regressar de férias, Costa veio de imediato socorrer a sua ministra da Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, fustigada por uma entrevista em que, parafraseando Catarina Martins, «foi infeliz». Foi generosa a líder do Bloco assim como o primeiro-ministro, altamente elogioso para o trabalho da ‘sua’ ministra, demonstrando que andam de ‘braço dado’ para o Orçamento de 2021.
Uma ministra que aceita dar uma entrevista ao Expresso cerca de uma semana depois de ter recebido um relatório da Ordem dos Médicos sobre a tragédia do lar de Reguengos, tema relacionado com a sua área e confessa não o ter lido, na minha atividade seria apelidada de «incompetente». Acrescem algumas outras frases como a que deu o título à notícia «o meu objetivo não é apurar a responsabilidade de surtos nos lares», de imediato referida como «descontextualizada» pela assessoria comunicacional para percebermos que a ministra está como ‘peixe fora de água’.
A ajudar ao desconchavo, Marcelo, quando questionado sobre o tema, de imediato referiu a existência de quatro relatórios sobre o acontecido no lar, demonstrando um domínio sobre a matéria que esperaríamos da ministra. Lá está… as imagens que percecionamos são muitas vezes díspares da realidade.
Dar entrevistas implica preparação prévia aturada senão, com forte probabilidade, vêm ao de cima frases que legitimam dúvidas sobre a preparação e competência das pessoas para determinado lugar. Desta vez, sucedeu com a ministra e apenas a teimosia de Costa a segura, com evidentes danos colaterais para o Governo e certamente em sondagens futuras. Assim, em época estival, beneficiando de uma oposição há muito em férias, Costa conta que as pessoas se esqueçam e em que rapidamente irão surgir novos assuntos para a comunicação social ajudar ao esquecimento.
3. Este tema dos lares parece ser mesmo um dos ‘calcanhares de Aquiles’ do Governo, sobretudo em tempos de covid. Segundo notícias publicadas, após legislação em vigor desde 29 junho (porquê tão tarde?), terão sido realizadas cerca de 500 inspeções a lares, de um total de 2.526 existentes (segundo Marta Temido). Estão prometidas inspeções a mais 1.000 lares ainda este mês. Esperamos pelas conclusões e de preferência sem filtros partidários.
Uma última palavra para o flagelo dos lares ilegais, um tema que é transversal aos governos e intemporal, cuja resolução, tem sido adiada. Aqui deixo uma sugestão: porque não alargar o novel conceito de estatuto do cuidador informal principal? Uma realidade é certa: as atuais restrições só dificultam a sua solução.
P.S. – João Galamba, confrontado com divergências expressas por Clemente Pedro Nunes (Professor Catedrático do IST) sobre o tema do hidrogénio, ao invés de explicar a sustentabilidade do investimento que preconiza, optou por insultar grosseiramente o seu opositor e continua como secretário de Estado? Afinal, que valores defendem o ministro e o primeiro-ministro?