Prisa vende media capital a vários investidores

Negócio ainda não é oficial, uma vez que foi feita apenas uma declaração de intenções. Reguladores vão ter de avaliar.

Nada o fazia esperar – até porque está em curso uma oferta pública de aquisição (OPA) da Cofina sobre a Media Capital – mas a Prisa anunciou a venda da sua participação na Media Capital a vários investidores, num negócio  de 36,8 milhões, o que representa um bónus de 63% em relação à OPA lançada pela Cofina sobre a Media Capital. 
Em comunicado, a Prisa explica que, «depois de realizada, através de uma entidade financeira, uma prospeção de mercado para a procura de potenciais investidores, a Vertix, filial integralmente participada pela Prisa, assinou, com variados investidores, acordos independentes de compra e venda de ações da Media Capital, que representam a totalidade da participação acionista (64,47%) mantida pela Vertix na sociedade portuguesa». Sabe-se que Cristina Ferreira poderá ser uma das acionistas, uma vez que tinha já demonstrado essa intenção.

Os acordos, segundo a Prisa, realizaram-se simultaneamente, «mediante transmissões independentes em bloco de ações por um preço total de 36,8 milhões de euros», o que representa uma valorização implícita da empresa (enterprise value) de 150 milhões de euros.

A Prisa diz ainda que esta foi uma operação autorizada pela Pluris – empresa de Mário Ferreira, já acionista da Media Capital – «no âmbito do pacto de acionistas assinado com a Vertix» e que  «está condicionada à obtenção de um waiver de determinados credores financeiros da Prisa, bem como à autorização das autoridades reguladoras portuguesas que possam revelar-se necessárias».

Recorde-se que a Prisa – que é dona do jornal espanhol El País – iniciou o processo de desinvestimento na Media Capital, tendo reduzido a sua participação de 94,69% para 64,47% no passado mês de maio, quando o empresário Mário Ferreira comprou 30,22%, através da Pluris Investments, numa operação de 10,5 milhões de euros.

Entretanto, a Media Capital reagiu ao negócio. Em comunicado, o grupo explica que foi informado pela Prisa que os «respetivos contornos legais e operacionais, se suportam na auscultação feita a eminentes juristas, com destaque para um parecer elaborado a pedido da Prisa pelo Professor Doutor Paulo Mota Pinto, dando conforto legal, no entendimento da Prisa, à execução da operação, no contexto do quadro legal e regulatório que se lhe aplica, cumprindo assim as obrigações regulatórias e legais que se lhe aplicam».

Um dos novos acionistas será a CIN. À Lusa, o presidente executivo da empresa, João Serrenho, lembra que o negócio ainda não está fechado e que ainda «é preciso pedir autorizações, o que não é pouco». Para já, diz o empresário, foi apenas feita uma «declaração de intenções».

 

Negócio legal

Ao SOL, Francisco Alves, analista da corretora Infinox explica que, «de acordo com a Prisa, as vendas das ações da Media Capital a vários investidores não necessitam de uma autorização prévia por parte da ERC, e por isso não existe nenhuma ilegalidade».

O analista avança que, com esta venda, a OPAda Cofina sobre a Media Capital – que o grupo até já tinha aconselhado os acionistas a rejeitar – poderá ficar sem qualquer efeito se o negócio com pequenos investidores avançar. Neste caso, se a Cofina quiser, poderá reclamar; no entanto, poderá não ter sucesso: «Poderá recorrer, no entanto, se não existir qualquer ilegalidade, a Cofina não conseguirá fazer nada», diz Francisco Alves. O analista diz ao SOL que os próximos passos serão «investigar intrinsecamente o negócio realizado». 

No entanto, a efetivação do negócio tem ainda de passar pela aprovação dos credores do grupo espanhol. Questionado sobre se estes credores poderão pôr fim ao negócio, o analista da Infinox mostra dúvidas: «Existe essa possibilidade, mas, estando tudo válido, penso que seja improvável acontecer».

Francisco Alves acrescenta ainda que o «processo será avaliado pela Entidade Reguladora [para a Comunicação Social], mediante os termos propostos».

OPA continua
Uma vez que foi apenas assinada uma declaração de intenções, a OPA à Media Capital continua, como explica ao SOL fonte da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). «O procedimento de análise pela CMVM da OPA anunciada pela Cofina seguirá os seus termos, dado não estar sujeita a qualquer condição quanto à manutenção da participação pela Prisa no capital do Grupo Media Capital. No presente, aguarda-se a determinação da contrapartida mínima por auditor independente», diz o regulador, acrescentando que «a aferição pela CMVM da potencial existência de concertação entre a Prisa e a Pluris prosseguirá, não sendo afetada pela futura e eventual (porque sujeita ainda a apreciação em Assembleia Geral da Prisa) alienação da participação detida ainda pela Prisa no capital da Grupo Media Capital».