Ex-deputada diz que o partido perdeu a ligação com seus eleitores durante a liderança de Assunção Cristas. Teresa Caeiro, que deixou a política ativa há quase um ano, encara a derrota nas últimas eleições legislativas como ‘uma tremenda desilusão’ e avisa que não vai ser fácil recuperar.
Deixou a política ativa nas últimas eleições legislativas, em 2019. Tem sentido falta da atividade política?
Entrei no mundo da política em 1995, como assessora jurídica do grupo parlamentar do CDS/PP na Assembleia da República. Ao fim de quase 25 anos na política corremos o sério risco de no acomodarmos ou de nos saturarmos. Não quis que isso me acontecesse e acho que tomei a decisão acertada.
Continua a acompanhar a atividade política?
Acompanho com todo o interesse e atenção. Umas vezes com entusiasmo outras com desencanto. Acho que todos os portugueses deveriam acompanhar a atividade política, pois é das decisões políticas que dependem, em grande medida as nossas vidas.
O CDS perdeu vários deputados nas últimas eleições legislativas quase há num ano. Passou de 18 para 5 deputados. Como é que viu este resultado?
Com uma tremenda desilusão. Algures durante a legislatura passada o CDS perdeu a ligação com os eleitores e simpatizantes de sempre, sem que tenha conseguido alargar o seu espetro. Foi uma derrota muito traumatizante e que, face ao que vejo agora, demorará muito tempo a sanar.
Essa derrota levou à demissão de Assunção Cristas e à eleição de Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder da Juventude Popular. É o líder certo para o partido ou preferia alguém com mais experiência numa altura delicada para o CDS?
O Francisco Rodrigues dos Santos não foi o candidato que apoiei no congresso, mas não tenho dúvidas sobre a sua integridade, empenho e persistência nas suas convicções, várias das quais não partilho. Devemos reconhecer que a herança que recebeu é tremenda e sê-lo-ia para qualquer um, independentemente da sua idade e experiência.
Não vai ser fácil recuperar?
Reconstruir o CDS a partir de cinco deputados é um trabalho hercúleo que só será possível com um partido unido.
Há quem fale no risco do CDS desaparecer ou tornar-se um partido pouco relevante. Julga que existe esse perigo?
Se não existisse esse risco não me colocaria a questão. É necessário antes de mais apurar as razões desse risco e evitar que se concretize pois o CDS continua a ser um partido extremamente importante para a democracia portuguesa, que nos tempos que correm tem de ser salvaguardada. O CDS é um partido fundador da democracia e isso está no seu ADN, ao contrário do de outros.
Como é que vê o aparecimento de novos partidos como o Chega e a Iniciativa Liberal que, aparentemente, estão a conseguir crescer?
Como democrata, respeito e saúdo o aparecimento de partidos legalmente constituídos e com representantes democraticamente eleitos. Acho, aliás, salutar que numa democracia viva e plural assim o seja. O que me parece absolutamente indesejável, porém, é que os partidos ‘mais antigos’ se desvirtuem na tentativa de cativarem os nichos dos novos partidos. O que devem fazer, isso sim, é uma introspeção para verem onde falharam.
O que acha do Chega de André Ventura?
É um partido que alcançou representação parlamentar em eleições democráticas. Não tenho que achar nada porque não sou eleitora do Chega.
A confirmar-se o crescimento do partido do Chega, nas próximas eleições, o PSD e o CDS devem abrir as portas a entendimentos para um futuro Governo ou essa hipótese deve ser excluída?
Não me cabe falar pelo PSD que, aliás, já exprimiu a sua posição. Quanto ao CDS, sou da opinião que deve encontrar o seu caminho, estabelecer as suas matrizes, fixar as suas prioridades e solidificar o seu programa. E prossegui-lo, prossegui-lo, prossegui-lo… Parece-me impossível que um partido com a história e com os princípios humanistas do CDS pudesse fazer entendimentos com um partido que, nomeadamente, considera a pena de morte referendável.
Qual é a sua opinião sobre a reação do Governo á pandemia?
Todos os países, dos mais desenvolvidos aos mais indigentes, foram apanhados desprevenidos pelo covid-19 e foram reagindo à medida que o monstro progredia. Assim aconteceu em Portugal, resguardando-se sempre nas normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), com planos de contingência incipientes, outras vezes inexistentes, ora tomando medidas atrasadas, ora lutando com a falta de pessoal. Mas tudo ponderado, face à realidade nacional e internacional, acho que o Governo, trilhando caminhos desconhecidos, tem feito um esforço por ir aproveitando os melhores exemplos e tentando o impossível equilíbrio entre a prudência sanitária e a sobrevivência económica.
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