O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, só revela em novembro se será recandidato a mais um mandato, mas esta semana ficou a certeza de que o tema estará sempre na agenda, porque somam -se os adversários assumidos. Perante o anúncio de candidatura de Ana Gomes e Marisa Matias, o chefe de Estado usou um tom curto para responder: «Já sabem qual é a minha posição, do Presidente da República. O Presidente da República não comenta eleições nem candidatos. Nem as eleições regionais dos Açores nem as eleições presidenciais», declarou Marcelo, à margem de uma inauguração em Oeiras. «O Presidente da República só é Presidente da República», atirou para arrumar o assunto.
O registo de Marcelo Rebelo de Sousa não vai mudar até novembro, altura em que dirá ao país que concorre a um novo mandato de cinco anos.
Se concorrer (como é praticamente certo), o PSD dar-lhe-á apoio formal.
O CDS, mais crítico da sua atuação, tem-se resguardado e o tema não é prioritário. Contudo, esta semana, Francisco Rodrigues dos Santos, líder democrata-cristão, deixou escapar a estratégia numa frase: «Percebo esta agitação à esquerda à procura de um candidato, porque o que é verdade é que a direita não tem um candidato, mas tem um Presidente: Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com o apoio do CDS e do PSD». Francisco Rodrigues dos Santos falava numa conferência de imprensa do partido sobre a polémica em relação à disciplina de Cidadania. E foi confrontado com as movimentações à esquerda e o momento em que o CDS anunciará o seu apoio a algum candidato. Primeiro, Marcelo Rebelo de Sousa tem de dizer ao que vem.
«Só depois reuniremos os órgãos próprios do partido e deliberaremos no sentido de apoiar ou não a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa». Na direção do CDS reconhece-se que Marcelo Rebelo de Sousa ganhou anticorpos pela sua proximidade ao Governo, por isso, o processo de decisão só será desencadeado quando, e se, Marcelo Rebelo de Sousa anunciar as suas intenções. Mas ficou o registo do líder do CDS ao afirmar que a direita não tem um candidato, mas um Presidente.
No entanto, não será fácil convencer os militantes a darem apoio a Marcelo. E haverá divisões (com o cenário de um voto de protesto em André Ventura, líder do Chega). Os centristas não arriscaram fazer um grande debate sobre presidenciais porque não haveria uma figura com destaque suficiente para capitalizar votos do partido e dos descontentes do PSD_com Marcelo Rebelo de Sousa.
Esta semana, Orlando Cruz, antigo militante do CDS, anunciou, novamente, a sua candidatura a Belém. Em 2016 tentou a sua sorte mas desistiu. Agora, revelou que há quase cinco anos se reuniu com Marcelo Rebelo de Sousa. «Tive uma reunião com ele na Faculdade de Direito em que concordámos que, se eu não tivesse as assinaturas, era nele em que eu confiava». A partir daqui vai tentar apoios no CDS e no Aliança. Que ainda não tem candidato. O partido fundado por Santana Lopes decidirá o que fazer nas presidenciais ( candidato próprio ou apoio a Marcelo Rebelo de Sousa) em congresso no final deste mês. Esta é a quarta vez que concorre a Belém.
No PSD ainda falta esclarecer se Miguel Albuquerque avança, depois de o líder regional (e presidente do PSD/Madeira) ter feito saber que estava em reflexão.
Em 2015, também Alberto João Jardim, ex-líder do PSD/Madeira, admitiu uma candidatura. E colocou condições: 10 mil proponentes e apoio financeiro. Desta vez, saiu em defesa de uma candidatura do seu sucessor no Governo Regional da Madeira. Facto que foi encarado pela direção nacional como uma forma de pressão para defender os interesses da Madeira, designadamente, em relação ao Governo da República, liderado por António Costa.
Certo é que o presidente do PSD, Rui Rio, tentou aliviar a pressão em relação à decisão do Presidente da República sobre a sua recandidatura. «Percebe-se que quem está no exercício da função queira adiar o mais possível [um possível anúncio de recandidatura] para não haver confusão entre Presidente e candidato», declarou o presidente do PSD à margem de uma visita a uma exposição de mobiliário no Porto. Questionado pelos jornalistas sobre um cenário de não recandidatura de Marcelo, Rui Rio foi perentório: «Não vou, a partir daqui, dizer ao professor o que é que deve decidir». O cenário de não recandidatura de Marcelo não é encarado como provável dentro do PSD. Mas, se tal acontecesse, não haveria plano b. Pelo menos até ver.
À direita, além de André Ventura, do Chega, a Iniciativa Liberal também já apresentou candidato próprio: Tiago Mayan Gonçalves.