O PS prepara-se para dar liberdade de voto nas presidenciais de 2021 na próxima comissão nacional do partido, no dia 24. Mas a corrida a Belém revelou esta semana as divergências internas no partido por causa da candidatura da ex-eurodeputada socialista Ana Gomes.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou que o PS não a deveria apoiar e disse-o de forma clara numa entrevista à TVI: «Se a Ana Gomes é uma boa candidata? Na minha opinião, sim, enriquece o debate democrático. Se é uma boa candidata para ter o apoio do Partido Socialista, na minha opinião, não». Esta declaração acabou por merecer resposta pronta do ministro das Infraestruturas e da Habitação. Pedro Nuno Santos, que tem ambições futuras para uma candidatura a líder do PS, não se coibiu de avisar o seu colega de partido (e o primeiro-ministro também) que é o PS e não o Governo que define quem se deve apoiar nas presidenciais. Mais, saiu em defesa de Ana Gomes num sinal de que lhe pode vir a dar apoio:«As pessoas não servem para o PS para fazer umas coisas de vez em quando, serem eurodeputadas, serem candidatas à câmara municipal ou membros do Secretariado Nacional, e depois, de um momento para o outro, passarem a ser vilipendiadas porque não lhes dá jeito». Esta troca de declarações em público revelou também que o pedido do primeiro-ministro, António Costa, para que o seu governo fosse recatado no debate presidencial, caiu em saco roto. Neste quadro há ainda um outro dado a reter. No PS já se fazem alinhamentos para o futuro no dia em que o primeiro-ministro quiser sair de cena. Ninguém sabe quando esse dia chegará (Costa já disse que tinha vontade de concorrer a um terceiro mandato), mas nas estruturas mais alinhadas com Pedro Nuno Santos, não é de descartar que se declarem apoios públicos a Ana Gomes, contra quem defende que o partido deve dar espaço no PS a quem prefira votar em Marcelo Rebelo de Sousa para um novo mandato presidencial.
Ana Gomes, por seu turno, somou mais um apoio oficial esta semana: o do PAN. A líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, fez o anúncio, defendendo que a ex-eurodeputada do PS «é a única candidata progressista, humanista, europeísta e que sente a emergência climática que vivemos, que pela sua independência e pela transversalidade das suas ideias é capaz de agregar diferentes campos políticos, ativismos, gerações e diferentes sensibilidades, capaz de levar a eleição a uma segunda volta e de vencer estas eleições». O PAN junta-se, assim, ao Livre na lista de apoios da candidata que arranca a sua pré- campanha já no dia 5 de outubro.
Este fim de semana, também Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, apresenta as linhas gerais da sua candidatura no Pátio da Galé, na Praça do Comércio, em Lisboa.