Cavaco Silva classifica a redução do horário de trabalho semanal no setor público como “um dos maiores erros do poder político”. A crítica feita à decisão do Governo liderado por António Costa surge no livro intitulado “Uma Experiência de Social-Democracia Moderna”.
O livro, apresentado em Lisboa esta terça-feira pelo ex-ministro e agora comentador Luís Marques Mendes, revela alguns dos momentos mais importantes dos dez anos em que governou o país, entre 1985 e 1995. A realização da Expo-98, o Centro Cultural de Belém ou a Ponte Vasco da Gama são alguns dos temas abordados.
O ex-primeiro-ministro dedica também um capítulo à política de saúde e escreve que “opções político-ideológicas recentes contra o setor privado da medicina, à margem de qualquer preocupação de justiça social, ou sequer de defesa do interesse público, que se juntaram ao subfinanciamento do sistema de saúde e à redução do horário semanal dos servidores do Estado para 35 horas – um dos maiores erros do poder político –, traduziram-se num verdadeiro ataque ao Serviço Nacional de Saúde, através da deterioração acentuada da qualidade dos serviços prestados aos utentes”.
Cavaco Silva garante que o seu primeiro Governo, “confrontado com a anemia de que padecia o nosso sistema de saúde, que degradara a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, atribuiu à política de saúde, desde a primeira hora, uma especial atenção”.
Para o ex-primeiro-ministro, “a primazia conferida pela social-democracia à pessoa humana determinava, sem qualquer equívoco, que o Estado tinha de garantir que qualquer pessoa carente de cuidados de saúde nunca poderia deixar de ser tratada por falta de recursos económicos”.
Pandemia Na apresentação do livro, no jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, Cavaco Silva considerou que os princípios da social-democracia continuam atuais. “Neste tempo de crise económica global, resultante da pandemia, é minha convicção que uma governação reformista orientada pelos valores da social-democracia moderna é aquela que melhor serve as populações”, disse o ex-presidente da República.
Cavaco considerou que, “por vicissitudes próprias e circunstâncias que o pais vivia, os governos do PSD anteriores e os que se seguiram, não tiveram o tempo e a oportunidade de aplicar o modelo social-democrata, que, pela sua flexibilidade, é o mais adequado às necessidades dos cidadãos”.
Marques Mendes, que apresentou o livro, classificou Cavaco como “uma personalidade singular” que teve “visão estratégica” e “capacidade reformista”. Ramalho Eanes, Passos Coelho, Eduardo Catroga, Carlos Moedas e Assunção Cristas foram algumas das personalidades que marcaram presença no lançamento do novo livro de Cavaco Silva.