O PSD vai votar contra a proposta de Orçamento do Estado para 2021 e o líder do partido usou os argumentos do primeiro-ministro, António Costa, sobre a estabilidade do seu Governo na lista de razões para a decisão.
«Se o Orçamento é mau, se não combate o desemprego, se não apoia as empresas e até dificulta, se distribui o que tem e o que não tem, se não dá sinais à classe média, se tem défice de transparência, se pré-anuncia um orçamento retificativo por ter receita sobrestimada, se nada faz pela reforma da administração pública para combater o desperdício e ineficiência e se o voto do PSD não serve nem para evitar uma crise política, o PSD então só pode votar contra porque esse é que é o único voto coerente com aquilo que devemos fazer», justificou o presidente social-democrata nas jornadas parlamentares para avaliar o documento.
O líder do PSD lembrou, desta forma, o que disse António Costa numa entrevista no verão. O chefe de Governo defendeu que no dia em que o seu Executivo precisasse do voto do PSD para viabilizar o Orçamento do Estado, então era o fim do Governo. Ora, Rui Rio não esqueceu estas palavras e tentou revertê-las contra António Costa. Dito de outra forma: se o PSD nem serve para travar uma crise política, não há qualquer motivo para os sociais-democratas pensarem noutro sentido de voto que não o do voto contra. Assunto arrumado para os sociais-democratas.
A declaração de Rui Rio mereceu duras críticas do lado do PS. Os socialistas dizem que o maior partido da oposição deixou cair o princípio que o orientava desde o início da pandemia: o do interesse nacional.
O discurso de Rio, que foi elogiado internamente, mereceu também ontem uma resposta dura do ministro de Estado e das Finanças, João Leão. O governante comparou a narrativa de Rui Rio ao registo do passado, leia-se de Passos Coelho, ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro. Para João Leão, a intervenção de Rui Rio cola com «discurso do PSD nos dois primeiros anos do Governo PS, entre 2015 e 2017». Mais: «Quase faltou dizer que vinha aí o diabo», atirou João Leão, numa alusão a uma frase de Passos Coelho. Por fim, insistiu que o PSD tem a austeridade no seu ADN. Os sociais-democratas lembraram ao governo que este processo não é um jogo de monopólio e que a proposta de orçamento é irrealista.