1. A política atual é feita com doses fortíssimas de marketing. Mensagens fortes ao serviço das ideias e a televisão é o meio privilegiado para as divulgar. As eleições americanas têm sido o expoente máximo internacional destas estratégias onde temos assistido a espetáculos deploráveis que são, na minha opinião, verdadeiros atentados à democracia.
Mas esta política baseada em estratégias comunicacionais faz escola e internacionalmente vemos diversos líderes usarem e abusarem dos meios de comunicação como forma de fazer chegar as suas mensagens ao eleitorado. Daí a importância das tentativas de controlo dos meios de comunicação como forma de assegurar a fidelidade e transmissão dos seus ideais.
A realidade atual é claríssima: aparecer na televisão dá votos e quanto mais vezes melhor, sobretudo em ‘prime time’ dos telejornais principais de cada dia. Para isso há que criar factos que sejam falados e discutidos até à exaustão e, sobretudo, ter frequentes aparições públicas com televisões atrás.
Marcelo gere isso com mestria. Diariamente comenta quase tudo, procurando trazer tranquilidade em momentos crispados como tantos que têm sucedido no seu mandato, prestes a ser renovado pelo voto popular. Mas deixem que lhes diga que Costa e Catarina não lhe ficam muito atrás. Entretanto, Jerónimo lá se vai modernizando, aparecendo até com inusitada frequência.
Sobre este Orçamento que todos sabemos irá passar, seja com a abstenção do Bloco, seja com a abstenção do PCP/PEV/PAN e duas deputadas independentes, vimos diariamente assistindo a diversas cenas de teatro, com toda a esquerda ocupando esse tal prime time dos telejornais de referência, criando dúvidas alicerçadas em certezas de todos defenderem os direitos dos mais desfavorecidos.
Neste aspeto de saber estar em palco, Costa e Catarina, disputam a primazia dos telejornais, sempre com declarações e raciocínios bem construídos, de fácil alcance. Por isso, mantêm ou até sobem nas sondagens, perante a passividade de um centro e uma direita nada folclóricos e ainda menos comunicacionais.
Se fizerem um ‘flash back’ pelos últimos 7 dias (até 22) podem verificar com clareza o que afirmo. Tirando um dia em que o PSD afirmou com clareza ir votar contra o OE 2021 vendo as suas posições serem amplamente divulgadas, pouco ou nada se viu quer deste partido ou do trio CDS/IL/Chega. Inexistem em televisão e, quem não aparece, esquece!
Ainda outro dia comentava a minha admiração pela resiliência do PSD, pela forma como, apesar de Rio, se consegue aguentar bem acima dos 20% de intenções de voto. Rio tem desde há muito uma postura, até louvável, de só aparecer quando tem algo de útil para dizer. Seja então assim o líder, mas por que razão não aparecem uns quantos dos seus delfins, concertadamente a explicar as ideias construtivas que o PSD terá para o país?
Por exemplo, a dizer o que proporiam diferente neste OE, exatamente onde e em quê, com propostas concretas, defendidas e divulgadas? Um mistério que custa votos e, sobretudo, deixa muitos dos eleitores nacionais a pensar que não há alternativa a esta esquerda, enquanto se vai conformando com geringonças que até têm discursos de sereia, incluindo garantias de não haver austeridade.
2. De vez em quando há deputados que ainda nos conseguem surpreender e quase sempre pela negativa. Desaparecida há meses, Joacine Katar Moreira lembrou-se de publicar no seu Instagram uma fotografia numa porta que similar às da Assembleia da República com um texto bem sugestivo (e insultuoso para Portugal): ‘Descolonizar este lugar!’ Surpreendidos? Eu também.
Sem pudor, sem qualquer ponta de respeito, Joacine – eleita deputada pelo ‘Livre’ do qual saiu em conflito com Rui Tavares – lembrou-se de fazer prova de vida e logo pelas piores razões, insultando todo o povo português, mais uma vez confundindo lamentáveis exceções com a nação que a acolheu e até elegeu.
Pode valer tudo em nome da democracia? Ou a liberdade de expressão que foi conquista de Abril pode ser vilipendiada por qualquer um, mesmo deputado? Caro Dr. Ferro Rodrigues, não se lhe oferece dizer nada? Porque nada sabe dizer sobre isto quando tão pressurosamente opina sobre tanta coisa ou porque ainda está estupefacto?
Entretanto, Ventura agradece. Joacine angariou-lhe mais uns votos!
P.S. – Fico siderado com a obsessão da ligação ferroviária Lisboa/Porto. Será que o objetivo é descontinuar o Aeroporto Sá Carneiro? Já acredito em tudo, sobretudo depois de ouvirmos Costa a atropelar o pai de um seu ministro ao relembrar uma capa do Público de 1999 e garantir que daqui por 10 anos não verão manchete igual no Público! Notável!