Meses após a explosão que devastou Beirute e chocou o mundo, considerada das maiores explosões não nucleares da história, a justiça libanesa acusou ontem de negligência o então primeiro-ministro, Hassan Diab, por não agir face às 2,7 mil toneladas de nitrato de amónio, um material utilizado no fabrico de fertilizantes e explosivos, armazenadas há anos no porto da capital que causaram a explosão de agosto, em que morreram mais de 200 pessoas e milhares de outras ficaram feridas.
Com Diab foram acusados também de negligência Ali Hassan Khalil, antigo ministro das Finanças, bem como Ghazi Zaiter e Youssef Fenianos, ambos antigos ministros das Obras Públicas. Até agora são os mais altos dirigentes a ser acusados, numa investigação que tem sido alvo de críticas de muitos libaneses pela sua lentidão.
O juiz encarregue do caso, Fadi Sawan, irá interrogar Diab – que se demitiu dias após a explosão, mas foi encarregado de tentar formar Governo em setembro, após a queda do seu sucessor Mustapha Adib, que falhou em conseguir o apoio do Parlamento – já esta segunda-feira, avançou a Al Jazira. Em resposta, o primeiro-ministro interino declarou ter a “consciência tranquila”, assegurando que tratou da explosão de forma “responsável e transparente”, referindo-se às acusações judiciais como um ataque político.
Previamente, Diab, que tomou posse como primeiro-ministro em janeiro deste ano, já admitiu publicamente que soubera da existência de toneladas de nitrato de amónio no porto, mas apenas fora informado uns dias antes da explosão. Poderá estar na mira da justiça até o próprio Presidente libanês, Michel Aoun, que tomou posse em 2016 e também admitiu saber da existência dos depósitos.
Além disso, desde que o material foi confiscado ao largo de Beirute, a caminho de Moçambique, em 2013, já houve outros três primeiros-ministros, Najib Mikati, Tammam Salam e Saad Hariri. Todos negaram ter sido informados do assunto, mas a investigação revelou que, nos últimos seis anos, foram feitos mais de uma dezena de avisos de agentes da alfândega, militares e pessoal das forças de segurança quanto aos riscos colocados pelas toneladas de nitrato de amónio acumuladas, segundo o Guardian.