O primeiro-ministro testou negativo à covid-19, mas vai continuar em isolamento profilático preventivo. António Costa esteve em contacto nesta quarta-feira com o Presidente francês, Emmanuel Macron, que acusou positivo.
“O primeiro-ministro mantém o isolamento profilático preventivo, aguardando que a autoridade de saúde defina o confinamento resultante do contacto de risco, na sequência da reunião de trabalho presencial que teve ontem com o Presidente francês, Emmanuel Macron”, revela, em comunicado, o gabinete do primeiro-ministro.
António Costa não apresentou sintomas e manteve a agenda de trabalho não presencial. Presidiu à reunião do Conselho de Ministros e ao encontro sobre o Plano Nacional de Vacinação por videoconferência.
Viu-se, porém, obrigado a cancelar a agenda que exigia a presença física depois da reunião, no Palácio do Eliseu, com o Presidente francês. A deslocação a São Tomé e Príncipe e à Guiné-Bissau, entre 18 e 20 de dezembro, foi um dos eventos cancelados. Toda a agenda pública que implique a sua presença física está, para já, cancelada, mas “mantém toda a atividade executiva e a agenda de trabalho, que realizará à distância”.
Até agora registaram-se dois casos positivos entre os ministros. Manuel Heitor, ministro da Ciência e Ensino Superior, testou positivo no mês de outubro, mas nunca teve sintomas da doença. Já o ministro do Planeamento, Nelson de Souza, apresentou sintomas ligeiros e deu resultado positivo no final do mês de novembro. Os dois ministros exerceram as funções em teletrabalho.
Contágio à escala europeia No centro da cadeia de infeções que pode ter atingido António Costa está Emmanuel Macron. O Presidente francês ficará em isolamento pelo menos sete dias, incluindo no seu 43.o aniversário, esta segunda-feira, assegurando as suas funções à distância. “Muito provavelmente” foi infetado no Conselho Europeu, a 10 e 11 de dezembro, informou o Eliseu à Reuters.
A primeira-dama de França, Brigitte Macron, testou negativa à covid-19, mas entrará em autoisolamento, bem como parte da liderança partidária francesa – no dia antes do Conselho Europeu, Macron almoçou com todos os líderes de bancada parlamentar. Em França, o Presidente recebeu acusações de hipocrisia, por ter recomendado que não houvesse encontros de mais de seis pessoas e o ter feito diversas ocasiões esta semana.
Logo à partida havia receios quanto à segurança de juntar o Conselho Europeu em pessoa, numa reunião que durou mais de 24 horas, quando a segunda vaga acelera na Europa. Aliás, dos 27 países-membros da UE, nem sequer compareceram os líderes de dois – o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovi, já estava infetado, e o primeiro-ministro estónio, Jüri Ratas, estava em isolamento.
Agora, o diagnóstico de Macron, que fez um teste de PCR apenas após experienciar sintomas, obrigou a um esforço de contacto de rastreios à escala europeia. O Presidente teve um calendário internacional preenchido nos últimos dias, incluindo o seu almoço com António Costa, na quarta-feira, bem como um almoço conjunto com o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Dos acima mencionados, todos entraram em quarentena ontem, exceto Von der Leyen, que ao final da tarde ainda confiava nas declarações iniciais do Eliseu de que o risco de contágio de Macron não teria começado antes de segunda-feira – a ideia de que o Presidente possa ter sido infetado no Conselho Europeu pode mudar o cenário.
Esta cadeia de potenciais contágios e isolamentos não poderia surgir em pior altura, dias antes do prazo-limite para definir a relação comercial entre o Reino Unido e a União Europeia pós-Brexit, a 31 de dezembro.
Há muito que líderes europeus se queixam da dificuldade de tratar de negociações tão detalhadas – que vão das pescas à competição justa no mercado europeu – à distância. Falou-se até na necessidade de mais uma semana de cimeira em pessoa, que agora parece impossível.
Se estas negociações são “uma corrida contra o tempo em que ambos os protagonistas querem quebrar o outro com a pressão do relógio”, como descreveu José Teixeira Fernandes, analista do IPRI-NOVA, ao SOL, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pode dar por si à beira do abismo sem ninguém com quem negociar.
Johnson, que sabe o que é ser infetado pela covid-19 (ver coluna ao lado), não deixou de desejar a Macron – considerado dos líderes europeus mais duros com Londres, cujo aval é essencial para qualquer acordo – “uma rápida recuperação”.