“A Geringonça ficou aquém das expectativas”

Histórico do PS defende que aliança entre PS e a esquerda não pode resumir-se ‘a uma negociata à volta do orçamento’. Alegre aconselha António Costa a reavivar os Estados Gerais.

“A Geringonça ficou aquém das expectativas”

Manuel Alegre considera que a «geringonça’ ficou aquém das expectativas». O poeta e histórico do PS, que desde o início defendeu uma aliança entre o PS e os partidos à sua esquerda, lamenta que tenha faltado «um ímpeto reformador».

Numa entrevista ao podcast do PS Política com palavra, o antigo deputado socialista disse que o Governo socialista resolveu, numa primeira fase, «problemas concretos» que herdou do Governo de direita, mas «não houve um ímpeto reformador, um projeto nacional de futuro».

Para Manuel Alegre, a aliança entre o PS e os partidos à sua esquerda não pode resumir-se «a uma espécie de mercearia à volta do Orçamento».

Ao contrário do que aconteceu na primeira legislatura, por exigência do então Presidente, Cavaco Silva, os partidos não fizeram acordos escritos. Alegre admite que teria sido melhor que «houvesse papel assinado», porque «uma convergência de esquerda tem de ser mais do que uma negociata à volta do Orçamento».

A ‘geringonça’ acabou por desfazer-se no primeiro orçamento da segunda legislatura, com o Bloco de Esquerda a votar contra. Perante esta nova realidade, o autor d’ O Canto e as Armas espera que «essa convergência possa renascer», nas com «um espírito reformador».

 

‘O PS tem de se abrir’

O crescimento do populismo foi outro dos temas da entrevista. Manuel Alegre defendeu que é preciso estar atento a esses fenómenos e o PS deve estar na linha da frente a procurar soluções para responder a problemas como as desigualdades ou a corrupção. «O PS não pode começar e acabar no Governo», afirmou.

O antigo deputado socialista, que também foi candidato presidencial, defendeu mesmo que o partido deve avançar com uma espécie de Estados Gerais, porque só enriquece a vida política ouvir a sociedade civil, como aconteceu com Mário Soares, Jorge Sampaio ou António Guterres. O_PS «tem de se abrir», alertou.

Alegre admite que a pandemia «não é fácil de gerir», mas alerta que é preciso levar a sério o crescimento do número de casos e de mortes: «Se há um confinamento, que seja a sério, que seja a doer, para que as pessoas percebam que é a sério».

Questionado sobre se o poder político falhou na mensagem e nas medidas, Alegre diz que «houve. por vezes, um problema de comunicação e também de contradições».

O histórico socialista garante que leva «muito a sério» as restrições impostas pela pandemia. «Por mim e pelos outros. Não quero ser contagiado e não quero contagiar. Arriscamo-nos a perder uma geração de avós. A prioridade das prioridades são os idosos na vacinação», disse na entrevista ao podcast do PS.