As divergências entre Pedro Nuno Santos e António Costa vêm de trás e as eleições presidenciais apenas as evidenciaram. Numa contenda eleitoral em que o PS deu liberdade de voto aos seus militantes.
Entre os apoiantes de Ana Gomes, como Manuel Alegre, houve acusações de que o PS desertou do ato eleitoral. Pedro Nuno Santos decidiu escrever um artigo de opinião no Público para explicar (e aprofundar esta ideia) as consequências de não se ter um candidato oficial na corrida a Belém. E não foi parco em palavras. “Ora, ao ter optado por não marcar presença no debate político das presidenciais, o PS contribuiu involuntariamente para a afirmação do candidato da extrema-direita. Se tivesse apresentado um candidato próprio, o PS até poderia ter perdido a corrida eleitoral de 24 de janeiro, mas teria reforçado a polarização entre esquerda e direita e, com isso, a estabilidade da nossa democracia”, escreveu o governante e um dos principais rostos do partido ( se não o principal) quando se fala em alternativas no PS após a saída de António Costa.
Para Pedro Nuno Santos, “se não tivesse surgido a candidatura de Ana Gomes, André Ventura teria muito provavelmente ficado em segundo lugar”. Assim, se a ex-eurodeputada socialista não tivesse entrado no combate eleitoral, André Ventura poderia apresentar-se “ao país como a verdadeira oposição ao sistema, ou seja, à democracia que conhecemos”, sublinhou.
O também dirigente nacional lembra que “a extrema-direita só será derrotada quando as pessoas que estão zangadas com os políticos, em geral, deixarem de o estar” e faz uma análise do que deve ser o posicionamento dos socialistas.
Conotado com a ala mais à esquerda do PS (e um dos obreiros da geringonça em 2015), Pedro Nuno Santos acredita que quem internamente “acalente a ideia de transformar o PS num ‘partido do centro’, na expectativa de assim conseguir apoio eleitoral que permita ao partido manter-se no poder”, não estará a ver bem o filme.
“Uma estratégia de diluição político-ideológica numa amálgama centrista, sobretudo se confortável com o crescimento da extrema-direita ao ponto de tornar a direita democrática dela refém para poder regressar ao poder, levaria não apenas à desfiguração da sua identidade socialista, mas também, a prazo, à substituição da polarização virtuosa entre esquerda e direita pela polarização entre forças democratas e antissistema, em que as segundas se assumiriam como a legítima “oposição” à democracia social em que vivemos”, alertou Pedro Nuno Santos no artigo.
E termina apontando o que considera dever ser o caminho do PS: “ A nossa missão deve ser a de nos afirmarmos como um partido popular, socialista e capaz de federar as esquerdas à volta de um programa ambicioso e de esperança”.