Paulo Marcelo, um segurança do Aeroporto de Lisboa, afirmou, esta quarta-feira, durante o julgamento da morte de Ihor Homeniuk, a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, que ouviu "gritos agonizantes", como se fosse um "cão a ser espancado", vindos do interior da sala onde o cidadão ucraniano estava fechado com os três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), agora acusados da sua morte. O segurança disse ainda em tribunal ter presenciado uma agressão com um bastão.
Paulo Marcelo admite ter sido um dos seguranças que atou os pés de Ihor com fita adesiva por este estar sempre inquieto. Segundo a testemunha, os gritos aconteceram após essa "noite turbulenta", depois de os inspetores terem entrado na sala onde Ihor tinha sido colocado, altura em que “ouviu pancadas”.
Questionado pelo juiz e pela procuradora sobre o tipo de sons que tinha ouvido, Paulo Marcelo explicou que eram "gritos agonizantes", como "ai, ai, ai" e sons semelhantes a um cão a levar pancada. A testemunha revelou ainda que foi espreitar a porta da sala e que viu o cidadão ucraniano algemado nas costas e de joelhos, inclinado para a frente e que viu um dos inspetores com o pé na cabeça da vítima. Nesse momento, assistiu também a uma agressão com um bastão nas costas de Ihor.
"Fui até à porta e não devia ter ido. O Ihor estava rodeado pelos inspetores. Tinha as mãos atadas atrás das costas, de joelhos no chão e com um pé na cabeça/nuca", relatou a testemunha. "Sai daqui. Isto não é para ninguém ver", disse-lhe um dos inspetores, ordem a que obedeceu prontamente. O segurança disse também ao tribunal que o inspetor conhecido por possuir um bastão era Duarte Laja, um dos arguidos.
Questionado sobre se tinha abandonado o turno "descansado", o segurança confessou que "não" uma vez que aquele "não foi um dia normal".
Recorde-se que três inspetores SEF – Duarte Laja, Luís Silva e Bruno Sousa – estão ser julgados pelo homicídio de Ihor Homeniuk e enfrentam uma pena de até 25 anos de prisão. O crime ocorreu em março de 2020, pouco tempo depois do cidadão ucraniano ter sido impedido de entrar em Portugal por não ter visto de trabalho.
O Estado português pagou, no mês passado, uma indemnização, fixada pela Provedoria de Justiça em 712.950 euros, aos herdeiros da vítima. Foi a maior indemnização de sempre pela morte de cidadãos em território nacional.