«O hub de Alverca tem uma área útil quase três vezes superior ao hub Montijo. Custa três vezes menos do que o hub Montijo. O hub Alverca e Portela formam canal aéreo como Paris-Vinci. O hub de Alverca na primeira fase conta nova pista de 2.600 metros mais terminal low-cost. O hub de Alverca está a 15 minutos de Lisboa, enquanto o hub do Montijo fica a 40 minutos e o hub de Alcochete a 60 minutos». É desta forma que é apresentado a solução Alverca pelo grupo de cidadãos que defende essa localização como melhor hipótese para dar apoio ao aeroporto da Portela. Argumentos que já estão no mãos dos grupos parlamentares com assento na Assembleia da República.
Questionado pelo Nascer do SOL por que razão esta localização tem sido afastada pelo Executivo, José Furtado diz: «Só pode ser por birra do Governo».
De acordo com o estudo que foi apresentado ao Parlamento e a que o Nascer do SOL teve acesso, o hub Alverca estaria operacional em dois anos e meio, a avaliação ambiental já foi entregue e a somar a estes benefícios está ainda a disponibilidade imediata do local. Mas as vantagens não ficam por aqui. Neste espaço, segundo o mesmo documento, já existe acesso rodoviário, ferrovia quadruplicada e mais dois taxiways.
Uma solução destas, de acordo com o mesmo grupo, iria colocar a nova infraestrutura «em segundo lugar no ranking europeu e em nono lugar no mundial». Ao mesmo tempo, «as pistas desfasadas longitudinalmente melhoram a segurança nacional», revela o documento a que o nosso jornal teve acesso.
José Furtado, especialista português no setor e responsável pelo desenvolvimento deste projeto, enumera outras vantagens, nomeadamente no que diz respeito ao impacto com a natureza: «A pista do Montijo tem três pontos de forte conflito com grande concentração de aves de médio e grande porte num ambiente que ainda está preservado. A pista de Alverca só terá conflito com bandos de aves (em menor número e com menor envergadura) em um ponto a sul que, no presente, tem o habitat totalmente estragado por parte do dique do mouchão ter colapsado há três anos – desde então a ilha está submersa por água salgada no ciclo das marés».
Segundo o seu estudo, os efeitos também serão menores em termos de ruído, afetando menos 300 mil pessoas. As ligações ferroviárias da solução hub Portela + Montijo são criticadas. «Está totalmente desligada da rede ferroviária, está condenada mais cedo do que tarde por razões ambientais/ civilizacionais e não tem visão nacional. O mesmo acontece com a solução hub Alcochete, que é prejudicada pela elevadíssima distância e por estar num ramal: cinco vezes mais que concorrentes diretos Madrid e Barcelona (ambos com Metro e Suburbano); mais do dobro da distância da maioria dos outros aeroportos, enquanto as solução hub Alverca-Portela estará no top 3 europeu em termos de ligações expresso, metro, suburbano, entre outros». Além disso, o hub Alverca custa 1/3 do Montijo e 1/5 de Alcochete (ver infografia).
Montijo e Alcochete ‘arrasados’
Ainda na semana passada, o Governo decidiu avançar com um processo de avaliação ambiental estratégica onde terá três alternativas: duas incluem o Montijo (que parece ser a opção preferida do Executivo) e uma volta a colocar em cima da mesa o aeroporto em Alcochete.
Mas, no entender do mesmo estudo, o hub Montijo «fecharia a principal base área-multifunções do país; «afetaria para sempre a operacionalidade do Porto de Lisboa; sem espaço ou tecido económico envolvente para potenciar cidade-aeroportária e o tem risco de acidente muito elevado».
Também a solução Alcochete é ‘chumbada’. «A escolha Alcochete assentou na estimativa de custo do master plan da solução OTA sobreposto sobre incerta implantação no perímetro do Campo de Tiro. Hoje, a conceção do efetivo master plan é radicalmente diferente em quantidades / sofisticação, mais a ponte rodoferroviária Chelas-Barreiro agora só é precisa se o NAL for em Alcochete, mais as consequências nas pistas do Montijo têm de ser somadas, mais cenário de alterações Climáticas era uma dúvida e agora é uma realidade».
Segundo com José Furtado, fazer só uma pista num aeroporto tão longe como Alcochete e mantendo Portela operacional «teria um risco igual ao desastre de Mirabel». E explica: «O aeroporto de Montreal que estava para ser o maior do mundo, foi construído mas começou a operar sem comboio, faliu e há cerca de 2 a 3 anos começaram a demolir o terminal».
Os exemplos não ficam por aqui. O especialista português no setor e responsável pelo desenvolvimento deste projeto lembra que Madrid tem seis milhões de habitantes, um produto interno bruto (PIB) superior a Portugal, está a 10 quilómetros da cidade sem portagem, tem ligação de metro, acrescido dos suburbanos e vai ter em breve passagem das ligações de alta velocidade (AV). «Alcochete seria a 55 quilómetros por ferrovia (ramal), teria duas portagens e estaria desligado da rede AV. Nem sequer dá para comparar», refere.
Beja poderá ser alternativa?
À medida que a localização do futuro aeroporto vai sendo discutida, há outras alternativas que vão sendo postas em cima da mesa. Beja é uma delas. O presidente da Câmara de Beja não tem dúvidas: desde que o aeroporto local seja «dotado de um conjunto significativo de obras que permita uma operação mais robusta de tráfego de passageiros poderá ser sempre um complemento nacional quer ao aeroporto de Lisboa, quer ao aeroporto de Faro, entre os quais se situa».
Até porque a estrutura já existe, mas em termos de placa de estacionamento de aeronaves e aerogare «é extremamente exígua», diz Paulo Arsénio ao Nascer do SOL. Por isso, só com o projeto de ampliação «se reuniriam condições mínimas para que uma operação que envolva milhares de passageiros por dia, seja exequível». Já no que diz respeito a investimentos, Paulo Arsénio não aponta para valores exatos. «À alteração substancial da aerogare existente, ampliação da placa ou construção de nova placa de estacionamento terá de se somar uma linha de alta velocidade Beja-Lisboa – de resto já prevista pela IP com velocidade de até 200 quilómetros por hora entre Beja e Casa Branca – cujo inicio de construção está projetado para 2026/2027, sendo financiada grandemente pelo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia a entrar em vigor».
A localização é um ponto-chave e o aeroporto «cumpre perfeitamente a função de pequeno aeroporto de absorve os voos de e para Lisboa e/ou Faro sempre que os slots estão preenchidos nesses equipamentos», diz o presidente de Beja. Além disso, defende que é «muito adequado» para voos charter e costuma ser muito procurado quando existem eventos desportivos, cimeiras políticas de topo ou outros. «Essa resposta, o aeroporto de Beja cumpre-a com excelência».
Está ainda muito vocacionado para aeroporto-indústria e «complementarmente serve também – e muito bem – como aeroporto de tráfego de passageiros mas sem que seja esse o ‘target’ predominante para o qual a infraestrutura foi desenhada e pensada».
Quem também defende Beja como uma alternativa à expansão do aeroporto de Lisboa é a Nerbe – Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral. «O aeroporto de Beja começa por ser um equipamento com uma vocação na indústria, onde já está a fazer o seu caminho, terá também um papel importante na carga, uma vez que, a região produz produtos altamente transacionáveis e cada vez com maior valor acrescentado e com as devidas acessibilidades, também poderá desempenhar um papel importante no transporte de passageiros», diz ao Nascer do SOL Filipe Fialho Pombeiro, presidente da entidade..
O responsável diz não ter dúvidas de que a alteração de circunstâncias provocadas pela pandemia «fez com que a Portela deixasse de ter os constrangimentos do passado e não se espera num futuro a 10 anos que os venha a recuperar». Por isso, defende, «faz-nos muito mais sentido aproveitar as infraestruturas já existentes, do que onerar os contribuintes para novas construções cuja necessidade não será premente».
Questionado sobre o investimento necessário, Filipe Fialho Pombeiro diz que «é uma questão importante». E justifica: «O Aeroporto de Beja já está feito, custou cerca de 30 milhões de euros financiados por fundos comunitários, o equivalente a 30 quilómetros de construção de uma autoestrada». O que significa que não seriam necessários investimentos «de grande monta» neste aeroporto. No entanto, admite que «serão necessários investimentos na eletrificação e modernização da ferrovia entre Casa Branca – Beja – Funcheira, bem como, a continuação da A26 / IP 8 em perfil de autoestrada, investimentos que independentemente do aeroporto a região precisa e justifica em termos de atividade económica e que, segundo o compromisso político da região estão já previsto no âmbito do PRR».
Esta é uma infraestrutura que se encontra a meio caminho entre Lisboa e o Algarve, um ponto que pode ser visto a favor de que seja considerado como alternativa ao Montijo. «Conforme sabemos, para os passageiros o que conta não é a distância física mas os tempos que demoramos a chegar aos destinos. Com as acessibilidades referidas ficamos a 45 minutos de Faro e não mais de uma hora de Lisboa», diz ainda o presidente da Nerbe, acrescentando que a Europa conta com muitos destes exemplos. «Mas são países onde questões como a coesão territorial, o aproveitamento de recursos e o não despesismo, do dinheiro dos fundos estruturais e dos contribuintes, fazem sentido para o poder político», aponta.
Já no que diz respeito ao impacto para a região, não há dúvidas de que o aeroporto de Beja já está a ter impactos «positivos, com investimentos como o da HyFly e da Mesa mas claro, o tráfego de passageiros dinamiza regiões, se for feito de forma integrada nos clusters nacionais e internacionais, desde logo ao nível do turismo que tem, conforme sabemos, uma performance muito interessante no Alentejo e que beneficiaria muito do maior aproveitamento do aeroporto», adianta.
Já o presidente da Câmara de Beja não tem dúvidas de que o impacto seria «certamente significativo». No entanto, refere que é «difícil de determinar em todas as suas vertentes». Criação de postos de trabalho, turismo e fixação de empresas seriam os maiores impactos apontados pelo autarca. «De resto é mais difícil de avaliar. Se a grande maioria dos passageiros, como seria ou será provável, ao saírem do avião, entrarem de imediato no comboio rápido para outros destinos, nomeadamente para a área metropolitana de Lisboa, não tiraríamos daí dividendos tão expressivos quanto muitos possam pensar».
Recentemente, a ministra da Coesão, Ana Abrunhosa, defendeu em entrevista ao Nascer do SOL a importância deste aeroporto: «Embora nunca possa ser um substituto de um aeroporto nacional, porque será sempre um aeroporto regional, não perde importância por isso. Estamos a falar de uma infraestrutura que podia ter um aproveitamento maior e que está a cerca de 150 quilómetros de Faro e 150 quilómetros de Lisboa. Portanto, temos de continuar a valorizar o investimento que já fizemos e colocar este aeroporto ao serviço da região».
Uma afirmação que não surpreende Filipe Fialho Pombeiro mas que também não lhe dá grandes esperanças. «Estamos muito acostumados a que o poder político sistematicamente refira as suas preocupações a nível de coesão social. O problema é que os investimentos públicos são sempre realizados no litoral e nos grandes centros urbanos. Não se reduzem assimetrias regionais apostando tudo nos grandes centros urbanos esquecendo todo o interior do país e a prova é que, à exceção de Alqueva, não temos um único investimento público produtivo no Baixo Alentejo há largos anos. Esperemos que a ministra materialize as suas convicções», diz.
Já Paulo Arsénio não tem dúvidas de que esse apoio pode dar um ‘empurrão’, mas lembra que Ana Abrunhosa defendeu a construção de um aeroporto de raiz.
E Monte Real?
Quanto a Monte Real, poderá ser uma opção, uma vez que já tem uma infraestrutura? «A reivindicação da abertura da Base Aérea à aviação civil é feita na perspetiva de um aeroporto regional», lembra ao Nascer do SOL Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria. «A existência da Base Aérea devidamente infraestruturada permite que a utilização civil possa ser concretizada no curto prazo, o que poderia constituir uma unidade de apoio ao Aeroporto de Lisboa até á construção de nova infraestrutura», defende o autarca.
Na opinião de Gonçalo Lopes, é no atual contexto pandémico que esta estrutura faz mais sentido, num momento em que «os destinos como a região centro estão na linha da frente da procura e das tendências internacionais». E garante que as vantagens são muitas: «Encontra-se a escassos 20 quilómetros do Santuário de Fátima, que representa um potencial de 400 mil a 500 mil passageiros por ano, que garantem a sustentabilidade da infraestrutura».
Já o investimento é estimado em 20 milhões de euros, mas a este montante é necessário contabilizar ainda as acessibilidades. O autarca diz que este é um «montante irrisório quando comparado com outros investimentos aeroportuários em discussão». E faz as contas: «Seria 1,3% do montante necessário para o Aeroporto no Montijo e 0,26% no caso de Alcochete, acrescendo a isto que poderia ter participação do setor privado».
Além disso, garante, apresenta menores impactes ambientais face a outras soluções em estudo: «Beneficia da existência de infraestruturas, como pista, torre de controlo. Ou seja, estamos a falar de uma adaptação e não construção de raiz».
O impacto na região seria «muito importante». Gonçalo Lopes lembra que esta é a única região do país que não possui uma infraestrutura aeroportuária: «A viabilidade desta infraestrutura e o seu impacto positivo para a região ficou cabalmente demonstrada num estudo de viabilidade encomendado pelos municípios de Leiria e da Marinha Grande à consultora Roland Berger».
Aliás, a autarquia, em conjunto com a Câmara da Marinha Grande, Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, Comunidade Intermunicipal do Oeste, Turismo do Centro de Portugal, Politécnico de Leiria, NERLEI – Associação Empresarial da Região de Leiria, ACISO/Associação Empresarial Ourém-Fátima e Gabinete Económico e Social da Região de Leiria tomaram uma posição conjunta no sentido de pressionar o Governo a abrir a Base Aérea n.º 5 (BA5) de Monte Real à aviação civil.
«Consideramos que estão reunidas todas as condições para a criação de um aeroporto civil na BA5, manifestando o nosso empenho e parecer favorável para a transformação da infraestrutura que irá servir o centro do país, sem impactos para as populações, com custos incomparavelmente inferiores e menores impactes ambientais face a outras soluções em estudo», refere uma nota divulgada pelo município de Leiria.
Nessa mesma nota, os subscritores defendem que o Governo deve «dar seguimento aos compromissos assumidos relativamente a Monte Real e assumir esta obra como estratégica para o desenvolvimento da Região Centro, que tem sido privada, nas últimas décadas, de relevante investimento público, e para a correção das assimetrias do país». Para isso, é defendida a criação de um estudo que tenha como objetivo «clarificar a viabilidade da operação civil».
Confederação do turismo afasta novas localizações
Para o presidente da Confederação do Turismo de Portugal não se deve abrir portas a mais discussões em torno da localização do futuro aeroporto.
«A CTP considera que o Governo deve manter a decisão de avançar para a construção do aeroporto do Montijo no quadro do projeto de expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa. Esta decisão resultou de várias anos de estudos e análises, que excluíram outras alternativas. Não podemos continuar permanentemente a reiniciar este processo e a adiar uma obra fundamental para a recuperação do nosso país», diz Francisco Calheiros ao Nascer do SOL.
Já na semana passada, o responsável tinha lamentado a decisão da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) de indeferir o pedido de apreciação prévia de viabilidade da construção do aeroporto complementar no Montijo devido ao parecer desfavorável de duas autarquias, o Governo pondere a possibilidade de recuperar outras opções de localização que foram amplamente discutidas e abandonadas, como é o caso de Alcochete.
«A recuperação económica do país depende do aumento da nossa capacidade aeroportuária. Quantas mais avaliações e estudos vamos precisar para tomar uma decisão sobre uma obra essencial que o próprio Governo considera de interesse nacional e estratégico? Não podemos aceitar mais um adiamento, temos de avançar para a solução que melhor responde em termos de custos, competitividade e rapidez a um problema que se arrasta há mais de cinco décadas», afirmou.
Além de tudo o mais, é preciso não esquecer que o PSD já manifestou disponibilidade para rever a lei e aprovar a proposta de retirar aos municípios o poder de veto já aprovada pelo Conselho de Ministros.
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