A organização não-governamental Save The Children afirmou, esta terça-feira, que há crianças a serem decapitadas por radicais islâmicos na região de Cabo Delgado, em Moçambique.
Recorde-se que a violência armada na região começou há mais de três anos e está a provocar uma crise humanitária, com mais de duas mil mortes e 670 mil deslocados. Alguns dos ataques foram reivindicados por milícias do grupo radical islâmico Al-Shabaad.
Num texto, publicado no seu site, a organização revela que tem falado com algumas famílias deslocadas que reportam "cenas de horríveis de assassinatos".
"Naquela noite a nossa aldeia foi atacada e as casas foram queimadas. Quando tudo começou, eu estava em casa com os meus quatro filhos. Tentámos fugir para a floresta, mas eles levaram o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque também seríamos mortos", contou Elsa, nome fictício, uma mãe de 28 anos. O filho tinha apenas 12 anos.
Outra mãe, de 29 anos, afirma que o filho de 11 anos também foi morto pelos radicais. "Depois de o meu filho de 11 anos ter sido morto, compreendemos que já não era seguro ficar na minha aldeia. Fugimos para a casa do meu pai noutra aldeia, mas alguns dias depois os ataques começaram lá também. Eu, o meu pai e as crianças passámos cinco dias a comer bananas verdes e a beber água de bananeira até termos o transporte que nos trouxe até aqui [ao campo de refugiados]", contou.
Segundo dados da Save The Children, "quase um milhão de pessoas enfrenta fome severa" por causa do conflito armado. Cerca de metade de pessoas afetadas pela violência são menores de 18 anos.
"A ajuda é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos", refere Chance Briggs, diretor da organização em Moçambique. "Enquanto o mundo estava focado na covid-19, a crise de Cabo Delgado cresceu e foi menosprezada", acrescentou.