A terceira sessão do julgamento de Sandro Bernardo e Márcia Monteiro, pai e madrasta de Valentina, a menina de nove anos encontrada morta em Peniche, em maio de 2020, decorreu, esta sexta-feira, no Auditório Municipal da Batalha. Nesta sessão, foram reproduzidas as declarações de Sandro Monteiro no primeiro interrogatório judicial, na altura da detenção, que confirmam a versão dos factos contada pela madrasta.
Recorde-se que, na quarta-feira, foram ouvidas as declarações de Márcia Monteiro, que alegou que as agressões a Valentina começaram quando o pai descobriu que a menina era vítima de abusos sexuais por parte de um amigo da mãe. No entanto, para o Ministério Público, "não resultam quaisquer indícios de cometimento de tal ilícito, uma vez que o relatório da autópsia não evidencia a existência de qualquer sinal de contacto/abuso sexual".
Sandro Bernardo contou que confrontou a filha sobre os "papelinhos" que a menina enviava aos "amigos da escola" para lhe mexerem nas partes íntimas, algo que terá negado. Foi nessa altura que começaram as agressões. "Dei-lhe uma tareia. Fiquei com a mão escaldada de tantas bofetadas", revelou. Márcia Monteiro terá assistido.
No dia da morte, depois de achar que a criança era vítima de abusos sexuais por parte do padrinho – que lhe pedia para tocar nos seus genitais em troca de passeios de bicicleta e outras coisas –, Sandro voltou a confrontar a filha. Queria saber se tinha existido alguma penetração sexual.
"Ela não falava. Continuava sem querer falar. Sei que ela tem medo de água e levei-a para a banheira e ameacei-a com água quente. Ela continuava calada. Eu mandava água quente à menina, para os pés e para o corpo. Ela disse para eu parar e que me contava, mas eu parava e ela continuava calada", confessou.
De seguida, percebeu que Valetina "começou a ter convulsões" e a "desfalecer". Levou-a para a cozinha, mas não quis chamar ajuda médica com medo que vissem as marcas "da tareia". "Fiquei em pânico, com receio das marcas que ela tinha", disse.
No entanto, confessa que nunca questionou o padrinho porque a "Valentina não era certa". "Nunca perguntei nada ao tal Pedro [o padrinho] sobre os tais abusos, eu sabia que a Valentina não era certa, queria ter a certeza da história toda. Queria que a Valentina contasse tudo para depois ir à polícia fazer queixa", explicou Sandro.
Depois terão saído de casa e Raúl, o filho de 13 anos de Márcia, ficou a tomar conta da menina, tal como a madrasta havia relatado. No entanto, ao contrário do que disse a mulher, Sandro afirma que Raúl nunca ligou à mãe a avisar que a menina "estava a espumar da boca".
Quando chegaram a casa, "já não ouvia o coração da Valentina". "Veio-me à cabeça, não sei, pânico, medo", disse.
Questionado sobre as agressões, Sandro afirma que nunca apertou o pescoço da menina. "Houve uma altura em que ela me caiu das mãos. Mas acho que ela não bateu em nada. Não sei. Não me recordo. Não quero estar a mentir. Mas nunca a empurrei contra móveis ou paredes", relatou.
Já em casa, ameaçou o filho de Márcia. Disse-lhe para ficar "caladinho" porque podia ficar sem ver a mãe e as irmãs.
O relato de Sandro confirma tudo o que foi contado pela madrasta, com exceção do telefonema do filho. Sandro confirmou também que discutia frequentemente com a mulher, mas nega agressões físicas.
"A Márcia estava contra tudo o que eu fiz, dizia para parar [as agressões], eu dizia para ela não se meter", disse o arguido. "Na casa de banho, a água quente não estava no máximo, mas queimava. A Márcia tentava desligar a água, e pedia para eu parar, sempre que ela se punha entre mim e a Valentina eu afastava-a".
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