“Posso estar enganado, mas toda a gente sabe que este projeto é indispensável”. Foi assim que Miguel Morgado, defensor de uma coligação entre os partidos de direita, abriu o debate sobre “a necessidade de convergência à direita e ao centro”, no primeiro dia da Convenção do MEL.
O projeto a que se referia o antigo deputado do PSD, próximo de Passos Coelho, é a federação das direitas. Morgado não tem dúvidas de que, “mais cedo ou mais tarde, com estes protagonistas ou com outros”, a direita vai perceber que é indispensável avançar com “uma grande alternativa política capaz de derrotar o socialismo e as esquerdas radicais”.
O debate sentou à mesma mesa responsáveis do PSD, CDS e Chega e ficaram claras as dificuldades em conseguir um entendimento. Miguel Pinto Luz, ex-candidato à liderança do PSD, começou por analisar “o atual estado da direita” e não tem dúvidas de que este debate não existiria se Passos Coelho estivesse na liderança. Ou seja, os novos movimentos, como o Chega ou a IL, só apareceram, porque “o PSD foi incapaz de dar soluções aos liberais, aos mais conservadores e até aos sociais-democratas mais empedernidos”.
O ex-autarca de Cascais aproveitou para criticar a liderança de Rui Rio, que apontou como um dos problemas do centro-direita. “A verdade é que não tem adesão popular. Não é entendido como uma verdadeira alternativa”. Pinto Luz foi mais longe e disse acreditar que esse “problema” será resolvido “em breve”.
Engolir um sapo Cecília Meireles, deputada do CDS, é defensora de uma “convergência à direita”, mas antes disso quer discutir qual é a utilidade para o país dessa aproximação. “A direita tem parar de se discutir a si própria e tem de começar a discutir aquilo que quer para o país”. A centrista deixou algumas ideias para esse debate, como a necessidade de premiar o mérito e assumir um discurso coerente em relação ao papel do Estado.
A deputada centrista argumentou que a direita não pode defender menos Estado e ao mesmo tempo alinhar com os protestos em defesa da criação de “mais entidades” como aconteceu com a reposição das freguesias extintas durante o Governo liderado por Passos Coelho. O assunto foi debatido recentemente na Assembleia da República e só o CDS votou contra. “Para haver alternativa é preciso haver um conjunto de ideias coerentes e sem cada uma das forças ser clara sobre este caminho é impossível percebermos o que é que nos junta”. Se isso não acontecer, alertou Cecília Meireles, a direita corre o risco de ficar “acantonada”.
Nuno Afonso, do Chega, foi direto ao assunto e defendeu que “esta convergência é inevitável”. O dirigente não ignorou que os restantes partidos rejeitam uma coligação com o Chega, mas está convencido de que estão “a alimentar o sapo que mais tarde vão ter de engolir”, porque “ninguém vai fazer um Governo que não seja de esquerda sem o Chega”.
Passos Coelho não faltou Passos Coelho não faltou ao congresso das direitas. O ex-primeiro-ministro assistiu à abertura e aceitou responder às perguntas dos jornalistas. “Há um espaço de debate e de liberdade que é muito importante estimular e promover no país, sobretudo quando as nossas tarefas de natureza política, económica e social são sempre tão desafiantes”, afirmou.
Sobre a intervenção de Rui Rio, esta quarta-feira no encerramento do encontro, o ex-líder do PSD disse apenas que “é difícil que consiga estar dois dias inteiros” a assistir à convenção, mas terá “muito gosto em ouvi-lo”.
Passos Coelho continua a ser visto por alguns setores do PSD como o único capaz de unir a direita. A agenda pública do ex-primeiro-ministro tem sido discreta para evitar especulações sobre um eventual regresso. As “especulações infundadas sobre o seu regresso à vida política” levaram mesmo a que cancelasse a sua participação numa iniciativa, no dia 25 de março, em que iria falar sobre o futuro do país. A convenção termina esta quarta-feira com a intervenção de Rui Rio. Paulo Portas abre o segundo dia a falar sobre “os riscos e oportunidades” depois da pandemia.