O Governo e a task-force de vacinação decidiram avançar com os primeiros postos móveis de testagem à covid-19 na rua para fazer face ao aumento de infeções na capital, que tem afetado sobretudo jovens adultos. O primeiro pacote de medidas depois de Lisboa passar a linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes foi anunciado esta terça-feira à tarde mas não fica afastado um recuo no desconfinamento, no concelho ou nas freguesias mais afetadas. Essas são decisões tomadas semanalmente em conselho de ministros, que volta a reunir-se quinta-feira.
Na semana passada, apesar de já estar com 118 casos por 100 mil habitantes, Lisboa não ficou entre os 12 concelhos sinalizados, pelo que esta será a primeira semana em que entra no grupo de concelhos “em alerta” e só à segunda avaliação consecutiva com tendência de aumento de casos é que alguns concelhos têm visto ser reapertadas as restrições. O Governo ainda não disse se equaciona algo diferente no caso de Lisboa, o concelho maior do país, mas até aqui tem reforçado que as regras são as mesmas para todo o país e para já mantêm-se.
“Temos uma matriz bem definida de risco neste momento, com linhas vermelhas e RT’s bem definidos. O que temos de fazer é, de acordo com essa matriz, irmos confinando ou desconfinando de acordo com uma forma mais ou menos cirúrgica. Em Lisboa ou em qualquer outra parte do país”, reiterou ontem também o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales. “A matriz de risco é a nossa estrela polar e que até novas orientações nos continuará a orientar.”
Na sexta-feira será apresentada no Infarmed a proposta de medidas a adotar daqui para a frente mas a ideia de rever a matriz de risco, que até aqui fixa como linhas vermelhas um RT superior a 1 e mais de 120 casos por 100 mil habitantes, não está ainda fechada. Por agora, são essas regras que vigoram e o concelho de Lisboa está agora, revelou André Peralta Santos, da DGS, com uma incidência cumulativa de 143 casos por 100 mil habitantes e um RT de 1,14, um agravamento face à última semana.
Significa que nos últimos 14 dias foram diagnosticados na capital 728 casos. Analisando os boletins da DGS, constata-se que nos últimos 14 dias foram diagnosticados em todo o país 5832 casos, mais de 3 mil na última semana, pelo que apenas o concelho de Lisboa representou assim 12,4% dos casos diagnosticados no país neste período.
Em Lisboa, metade dos casos confirmados nos últimos dias 14 dias situam-se entre os 20 e os 40 anos e é esse grupo etário que é essencialmente o alvo do reforço da campanha de testagem, que na semana passada aumentou ligeiramente em Lisboa (+2,2%) mas com um aumento de positividade, o que indicia que a malha de deteção em vez de apertar continuou a alargar. Ainda assim, a positividade está em níveis baixos (2,2%), abaixo do patamar de alerta para o desconfinamento definido (4%) e muito abaixo do que esteve ao longo do final de 2020 e início deste ano.
Testes nas faculdades, residências e escolas Serão duas as vertentes na testagem. Por um lado, a comunidade estudantil. Já esta quarta-feira vai ser reforçada a testagem nos estabelecimentos do ensino superior e será feito também um programa de sensibilização e testagem em residências universitárias. Aos relatos de que há cada vez mais jovens a recusar testarem-se e se existirá algum regulamento específico, a resposta do secretário de Estado Adjunto da Saúde foi de que se manterá uma “cultura de sensibilização”.
Já esta quinta-feira serão testados alunos, docentes e pessoal não docente das escolas do ensino secundário do concelho de Lisboa. A partir da próxima semana estão previstas ações de testagem nas escolas do pré-escolar, 1º ciclo e secundário já não apenas em Lisboa mas em todos os concelhos que estiverem com mais de 120 casos por 100 mil habitantes.
Era algo que já estava previsto na estratégia de testagem desde fevereiro, que determinou testagem periódica nos estabelecimentos de ensino nestes concelhos, mas não definiu qualquer periodicidade – apenas em instituições como lares determinou que se fizessem testes de 14 em 14 dias. Já de 14 a 18 de junho serão testados docentes e não docentes do 2º e 3º ciclo, sendo que as aulas acabam a 18 de junho para 9.º, 11.º e 12.º anos e a 23 de junho para 7.º, 8.º e 10.º anos.
Hostels, pensões, táxis e estafetas A segunda vertente será testagem dirigida a outros grupos-alvo. Esta quinta-feira será reforçado o programa de testagem junto de migrantes e requerentes de asilo, nomeadamente em hostels e pensões, que já no desconfinamento do ano passado tiveram alguns surtos. Será também reforçada com unidades móveis a testagem de populações vulneráveis como sem-abrigo.
Testes na ‘noite’ de lisboa É já a partir da sexta-feira que a testagem vai para rua. Durante o dia, vai haver uma iniciativa dirigida a prestadores de serviços de entregas, táxis e TVDEs promovida pela Câmara Municipal de Lisboa. À noite, a partir das 19h e até às 22h, vão estar pelo menos quatro unidades móveis de testagem na rua em locais de maior concentração: 24 de julho, Cais do Sodré, Bairro Alto, S. Pedro de Alcântara, podendo haver mais, indicaram os responsáveis.
Já na segunda-feira serão ativados os primeiros postos de testagem em transportes, o que também já estava previsto no plano de operacionalização de testagem. Para já, Fernando Almeida, do Instituto Ricardo Jorge, responsável pela task-force de testagem, adiantou que haverá um destes pontos de testagem na Gare do Oriente.
Também a partir da segunda-feira foi anunciado que haverá unidades móveis em zonas estratégias, nomeadamente zonas de restauração como bairros típicos, comércio e hotelaria e mercados e feiras, numa parceria entre a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e a Câmara Municipal de Lisboa.
Não foram assim anunciadas iniciativas durante o fim de semana, quando se realizam por exemplo a maioria das feiras e mercados, mas no conselho de ministros poderão vir a ser tomadas decisões adicionais.