Ventura foi ao encontro das direitas garantir que quer governar, Poiares Maduro afastou coligação com o Chega e Passos não quer regressar

A resposta sobre se o PSD deve ou não estar disponível para uma aliança com o Chega foi dada por Miguel Poiares Maduro.

“A direita clássica deve ou não dar-se com a nova direita?”. A pergunta que tem atormentado o PSD foi colocada, no segundo e último dia da Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), pelo próprio André Ventura. O líder do Chega foi direto ao assunto e, na intervenção que encerrou os trabalhos da parte da manhã, deixou claro que quer ir para o Governo.

“O Chega nunca foi nem nunca será um partido de protesto. Queremos governar”. O líder e deputado do Chega está convencido de que “não haverá Governo à direita sem o Chega” e a direita não pode ignorar essa “grande transformação”. 

Ventura provocou burburinho quando entrou na sala e fez questão de ir cumprimentar o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que estava a assistir ao debate sobre “a ditadura do politicamente correto”. 

André Ventura já manifestou publicamente o desejo de que Passos Coelho regressasse à política ativa e quando subiu ao palco acusou Rui Rio de não conseguir “fazer o seu papel de oposição à direita” e de ser brando com o PS, dando o exemplo do fim dos debates quinzenais. “À esquerda mais hipócrita da Europa não se dá bombons. Dá-se pancada política”. 

A resposta sobre se o PSD deve ou não estar disponível para uma aliança com o Chega foi dada depois do almoço por Miguel Poiares Maduro na abertura do debate sobre “o caminho das liberdades” com Álvaro Beleza, Nuno Garoupa, Henrique Neto e Teresa de Melo Ribeiro.   

O ex-ministro de Passos Coelho deixou claro que o futuro da direita não deve passar por cedências aos extremos políticos. “De pouco serve unir todo o espaço não socialista se as diferenças no seu seio forem tão ou mais graves do que as que nos separam do outro lado. O país não pode ficar refém de uma escolha entre dois projetos políticos oportunísticos, incoerentes e incapacitados pelas suas cedências respetivas aos extremos políticos”, disse. 

O empresário e ex-deputado socialista deu a receita a Rui Rio para resolver o problema com o partido de André Ventura.

“Se eu fosse o dr. Rui Rio, limitava-me a colocar numa folha de papel dez causas que os portugueses possam dizer que desejam. Aqueles que aderirem são bem-vindos. Os que recusarem, paciência”, sugeriu Neto, que integra o conselho consultivo do PSD. 

O segundo dia do chamado encontro das direitas, no Centro de Congressos de Lisboa, abriu com uma intervenção de Paulo Portas. 

Likes e gritaria O ex-presidente do CDS defendeu que a pandemia mostrou que os governos populistas não sabem gerir situações complexas. “Vejam os 12 piores casos do mundo em número de contágios e em número de fatalidades. Desses doze piores casos no mundo, nove têm ou tiveram governos populistas ou governos de coligação com populistas à esquerda e à direita”. 

Paulo Portas terminou a intervenção a alertar que “a democracia está, em certo sentido, transformada numa gritaria”. 

Para o ex-ministro, que liderou o CDS durante 15 anos,  “governa-se dependente da gritaria nas redes, governa-se para os ‘likes”, e isso incentiva o populismo, porque “ninguém tem ‘likes’ por ser moderado”.
Numa intervenção sobre “os riscos e oportunidades” a seguir à pandemia, Paulo Portas defendeu que “o triunfo da chamada democracia digital” leva “ao triunfo das opções mais extremas e à rarefação da moderação, porque ninguém tem ‘likes’ por ser moderado e ninguém é aplaudido por procurar um compromisso”.

O regresso de Passos Pedro Passos Coelho assistiu à intervenção de Paulo Portas, mas afastou a hipótese de a sua presença nesta convenção representar um eventual regresso à política ativa. “Nada disso, nada disso, nada disso”, garantiu. 

No primeiro dia, o ex-primeiro-ministro defendeu que a convenção do MEL representa “um espaço de debate e de liberdade muito importante estimular e promover no país”.

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