Curioso como esta solução da ‘geringonça’ conseguiu federar os partidos e personalidades à sua direita numa reunião promovida pelo Movimento Europa e Liberdade. Mais curioso ainda ver como foi fácil para os partidos integrantes da ‘geringonça’, através dos seus comunicadores oficiais, passarem a mensagem que esta foi ‘a reunião das direitas’.
Vamos lá então partir deste pressuposto – significa pura e simplesmente que o centro inexiste ou quiçá, passou a ser representado pelo PS de António Costa, com a esquerda a começar no PS de Pedro Nuno Santos! Só espero que estas ilações não constituam ofensa ou algo que possa ser abrangido pela nova lei da censura (‘Carta de Direitos Humanos na Era Digital’), promulgada pressurosamente por Marcelo, sem votos contra no Parlamento.
Tal como em 1933, esta lei onde hoje concluímos para espanto geral que a esquerda e direita comungam de valores idênticos no que toca a cercear a liberdade de expressão. Muitos já manifestaram a sua repugnância por esta lei, afinal tão parecida com a do Estado Novo. Só falta então sabermos onde ficam a esquerda e direita quando ambas se fundem nestas ideias, próprias de regimes totalitários, mesmo que exista o pretexto de transposição de diretivas europeias para justificar a lei. No fundo, nada como se controlar a democracia, sempre em nome da democracia!
Regressando então a essa reunião do MEL, onde, entre painéis de elevado valor acrescentado, discursaram (entre outros oradores) por esta ordem, alguns dos políticos de maior relevo dos últimos anos como Cotrim de Figueiredo, Francisco Rodrigues dos Santos, Paulo Portas, Ventura, Poiares Maduro e Rui Rio. Sem dizer nada, a figura de Passos Coelho, porque apareceu, porque sabe ser ‘dono dos seus silêncios’, acabou por ‘falar’ mais que toda a gente.
Há tempo referi, entre amigos, que a figura de PPC se está a tornar messiânica e isso lhe seria prejudicial no futuro. Mas realmente, quando vejo a esquerda a ficar tão nervosa com a sua presença, qual sombra a pairar sobre António Costa (sobretudo porque lhe ganhou as eleições em 2015) acho que talvez me tenha enganado. Acaba por ser olhado como a esperança de quem simultaneamente se opõe à Geringonça como quem se opõe a Ventura, que teme a sua moderação inteligente porque perceciona que lhe irá roubar votos.
Muito se falou na Convenção do MEL, mas não quero deixar passar sem elogiar o brilhantismo do discurso (certeiro) de Cotrim de Figueiredo dissecando com objetividade 4 (quatro) problemas estruturais de Portugal, como a estagnação económica, o desalento social, a cultura da desresponsabilização e a falta de visão de futuro e ambição – em cheio!
Merecem igual saliência as palavras duras de Portas afirmando com clareza que as «gritarias [das redes sociais e dos políticos] minam a democracia» e observando, com argúcia, que dos 12 (doze) países mais flagelados pela covid-19, 9 (nove) deles são populistas de direita ou esquerda. Rio, com um discurso tecnocrático e cansativo, perdendo-se num emaranhado de raciocínios, mais uma vez desperdiçou uma oportunidade de ouro para ser visto como alternativa a Costa, ainda por cima com televisões em direto.
Uma palavra final sobre esta Convenção: toda a gente falou da presença de Ventura que monopolizou deliberadamente as atenções dos media – colando a imagem deste encontro à sua presença. Sinceramente, o seu discurso foi mais do mesmo, fortes ‘sound bites’ que cativam quem está contra a ‘geringonça’, mas que no momento em que que aparecer alguém (Passos Coelho?) que corporize realmente uma alternativa a Costa, ponderada e credível, certamente irá esvaziar o Chega.
P.S. 1 – Tenho pensado tantas vezes como o peso do Estado que a ‘geringonça’ nos irá legar irá ser uma canga que as gerações futuras terão de arcar. Mas a TAP anda a passar dos limites quando vemos os prejuízos de Eur 1,4 MM na sua SGPS (na operacional: Eur 1,23 MM)! No meio desta hecatombe financeira, perdemo-nos em guerrinhas com uma companhia privada de aviação em vez de explicar de forma convincente aos portugueses que «não estamos a meter dinheiro bom em cima de dinheiro mau?».
P.S. 2 – Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa dixit: «Se todo o país funcionasse como no Norte, particularmente em LVT e Centro, teríamos menos 4300 mortes (na 2.ª e 3.ª vagas)!». Sinceramente, até hoje, mesmo com atrasos em consultas e cirurgias nas doenças não-covid, nunca ouvi maior crítica ao Ministério da Saúde do que esta. Alô Costa e Temido: quem cala consente?