De um dia para o outro, nas vésperas da retirada da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, a ofensiva talibã no norte do país ganhou ritmo, tomando dezenas de distritos, com uns trezentos soldados e agentes das forças de segurança afegãs em fuga através da fronteira com o Tajiquistão, admitiram fontes oficiais à Associated Press, este domingo. "Infelizmente, a maioria dos distritos foi abandonado aos talibãs sem qualquer combate", contou Mohib-ul Rahman, membro da assembleia da provincia de Badakhshan, que culpou a baixa moral das tropas pela derrota.
Muitos temem que este seja só o início da tomada do país pelos talibãs, com as forças governamentais flageladas por disputas entre fações políticas, e acusações de ineficiência e corrupção entre altos cargos. Nas redes sociais, começaram a circular vídeos de soldados a renderem-se, em acordos mediados por anciãos locais, sendo abraçados pelos talibãs, que lhes entregavam dinheiro para chegarem a casa, dando-lhes confiança que podiam abandonar os seus postos sem ser perseguidos ou perder a vida, noticiou o Guardian.
Nos últimos meses, o Governo afegão voltou a ressuscitar milícias conhecidas por cometer massacres de civis, como tentativa de reforçar as suas tropas, mas mesmo estes combatentes parecem estar relutantes em enfrentar os talibãs. Na capital de Badakhshan, Faizabad, vários altos dirigentes foram filmados a fugir de avião para Cabul, enquanto os militares tentavam desesperadamente reforçar o perímetro da cidade.
Entretanto, dos 421 distritos do país, cerca de um terço está completamente nas mãos dos talibãs, e muitos outros são disputados. Na ofensiva dos últimos dias, tomaram grandes porções de terreno, ainda que sem tomar nenhuma capital provincial. Mas agora cercam várias cidades, de Ghazni, no leste, até Maimana, no norte, enquanto as forças especiais afegãs, tropas de elite treinadas pelo EUA e transportadas de helicóptero para os locais em maior risco, se vão desdobrando entre cada vez mais território.