Infeções a subir, internamentos a mostrar uma ligeira descida em Lisboa nos últimos dias mas com tendência a aumentar e mais óbitos, com oito mortes registadas na terça-feira – cinco na faixa etária dos 80 anos, o grupo com maior cobertura vacinal, duas de septuagenários e uma morte de um doente com 50 anos. São as linhas gerais da situação epidemiológica que o Governo avalia esta quinta-feira em conselho de ministros.
Ontem, a Direção Geral da Saúde teve de fazer a primeira alteração na matriz de risco apresentada no boletim diário da covid-19 para posicionar o país, que no início da semana, como o i noticiou, passou o patamar até aqui definido como crítico, de 240 casos por 100 mil habitantes.
Passou a ser apresentado o limite de 480 casos por 100 mil habitantes, que já vigorou no passado e com os casos reportados ontem o pais regista agora uma incidência de 269 casos por 100 mil habitantes. Ouvida no Parlamento, Marta Temido não antecipou mudanças na matriz de risco, sublinhando que a avaliação não resulta apenas da avaliação de incidência e do RT, que mede a velocidade da transmissão (acima de 1, tendência crescente).
A ministra da Saúde não afastou a necessidade de um novo estado de emergência, mas admitiu que a situação atual é diferente da que se verificava no início do ano em termos de internamentos e hospitais. “Não há impossibilidades totais”, mas sim “necessidades de avaliação constante”, disse, sinalizando que não só o Governo mas também a Assembleia da República e o Presidente da República têm uma palavra a dizer na decisão e “saberão em cada tempo desta evolução voltar ou não voltar a recorrer a mecanismos que a lei tem especificados”.
O Presidente, que ontem marcou as autárquicas para 26 de setembro e já afastou esse cenário, não se pronunciou durante o dia sobre as declarações da ministra da Saúde. Atualmente o estado de calamidade prolonga-se até 11 de julho, pelo que o Governo terá de decidir se a situação é prolongada e até que data ou se propõe uma alteração, que teria sempre de passar por uma proposta do Presidente da República ao Parlamento.
Todas as regiões no vermelho
Foi já depois da audição de Marta Temido na comissão parlamentar de Saúde que foi publicado o boletim diário da DGS, que revelou que na terça-feira foram diagnosticados em todo o país mais de 3 mil novos casos de covid-19, um máximo desde 11 de fevereiro.
O país está agora com uma média a sete dias de 2353 novos casos, aquém do pior cenário traçado por Marta Temido para as próximas duas semanas: uma média de 4 mil casos diários, mais de 800 doentes internados, dos quais 150 em Unidades de Cuidados Intensivos. Tanto em enfermaria como em UCI ontem desceram ligeiramente o número de doentes internados, mas as oscilações são habituais ao longo da semana, como mais altas nos primeiros dias da semana a compensar a entrada de doentes.
A nível nacional, a incidência cumulativa a 14 dias, o indicador usado para decidir que concelhos avançam e recuam no desconfinamento, está agora acima da linha vermelha dos 120 casos por 100 mil habitantes em todas as regiões. Lisboa e Algarve continuam a registar as maiores incidências e não se anteveem levantamentos de travões: são 423 casos por 100 mil habitantes na região de Lisboa e Vale do Tejo e 635 casos por 100 mil habitantes no Algarve, pelo que a maioria dos concelhos estão agora acima dos patamar limites.
Na avaliação da semana passada, 21 concelhos ficaram em risco de recuar no desconfinamento, o cenário mais provável dado o aumento dos diagnósticos em todo o país. A região Norte é a que regista o aumento mais acentuado de diagnósticos, que mais do que duplicaram na última semana. Na última avaliação, apenas o Porto recuou no desconfinamento (agora deve passar a ter horários limitados ao fi de semana) e esta semana devem andar para trás Matosinhos, Santo Tirso, Trofa, Vila Nova de Famalicão e Vila Nova de Gaia.
Além dos concelhos do Norte, tinham ficado em alerta à espera da segunda avaliação os concelhos de Albergaria-a-Velha, Aveiro, Azambuja, Bombarral, Cartaxo, Idanha-a-Nova, Ílhavo, Lourinhã, Mourão, Nazaré, Óbidos, Salvaterra de Magos, Trancoso, Vagos, Viana do Alentejo e Viseu, que ficam a saber hoje se voltam a fechar às 22h30 durante a semana e a juntar-se à lista de concelhos onde vigora o recolher obrigatório a partir das 23h. Na semana passada, ficaram 45 concelhos com esta regra, sendo provável que subam agora para 66.