Já não existem intocáveis na sociedade portuguesa

Independentemente das medidas de coação aplicadas, a era Luís Filipe Vieira, que há alguns meses foi reeleito com 63 por cento dos votos, terá muito provavelmente chegado ao fim. 

A detenção de Luís Filipe Vieira revela várias dimensões de análise: vem mostrar que não existem intocáveis na sociedade portuguesa. Durante algum tempo, formou-se a convicção na opinião pública de que os ricos e poderosos conseguiam fugir ao radar da justiça. Era a justiça dos ricos e a justiça dos pobres. Na verdade, esta diferença mantém-se.

O dinheiro permite o acesso aos melhores escritórios de advogados, uma condição que possibilita em muitos casos o adiamento dos processos com base em recursos que se arrastam nas várias instâncias judiciais. Porém, a justiça pode ser lenta mas, mais tarde ou mais cedo, os indícios criminais determinam o andamento dos processos. De novo, surgem na ribalta os nomes do procurador Rosário Teixeira e do super-juiz Carlos Alexandre.

As suspeitas que recaem sobre Luís Filipe Vieira são graves e remetem para os negócios obscuros do mundo do futebol. Nada que surpreenda tantos são os milhões que envolve o desporto que mais mobiliza as paixões dos adeptos. O futebol agrega multidões que idolatram os clubes e os seus profissionais e que esperam transparência e credibilidade por parte dos gestores desportivos. 

Independentemente das medidas de coação aplicadas, a era Luís Filipe Vieira, que há alguns meses foi reeleito com 63 por cento dos votos, terá muito provavelmente chegado ao fim. A detenção de um presidente de um clube com a dimensão do Benfica é um escândalo.

O facto em si mesmo é grave e as suspeitas que estão associadas por maioria de razão. Tal como existem limitações de mandatos para titulares de cargos públicos, também deveria ser aplicado o mesmo princípio aos dirigentes desportivos. Luís Filipe Vieira é presidente do Benfica há vinte anos. Duas décadas é demasiado tempo. 

Esta detenção acontece dias depois da de Joe Berardo e semanas depois do próprio Vieira ter estado na comissão de inquérito ao Novo Banco onde teve uma péssima prestação, contribuindo para consolidar muitas dúvidas sobre a natureza do seu património e as dívidas de 180 milhões de euros ao Novo Banco. Por coincidência ou não, foi detido para interrogatório esta quarta-feira. A justiça fará o seu caminho. O Benfica terá que encontrar um sucessor.