1. Estamos no verão. As temperaturas aquecem, as pessoas vão até às praias e se alguns (cada vez mais escassos na sociedade portuguesa) têm hábitos de leitura, entre livros ou jornais (físicos ou digitais), a maioria contenta-se em dar umas vistas de olhos na televisão, como habitualmente faz todo o ano. Não surpreende assim a preocupação dos políticos em aparecer nos telejornais, até porque ‘quem não aparece, esquece’.
Então o Governo, esse, não brinca em serviço. Com uma cuidadosa escala de férias em que até Costa se diligenciou para assegurar a primeira quinzena de agosto enquanto a nossa oposição se retira para as praias, os telejornais são ocupados por notícias covid ou por alertas governamentais. Querem um exemplo? O alerta de Costa sobre o risco iminente de incêndios, demonstrando um profissionalismo e sentido de oportunidade, únicos na política.
A oposição, essa, vai dando todo o palco ao Governo que nada desperdiça. Por estes dias rebentou a polémica sobre a decisão de vacinar os jovens dos 12 aos 15 anos, apenas mais um exemplo das indecisões da DGS, hesitante entre as conveniências e inconveniências resultantes dos riscos cardíacos daí resultantes. Pelo meio, intervenções de Marcelo antecipando a anuência da necessidade e até de Marques Mendes anunciando a decisão da DGS. Alguém da oposição apareceu a dizer que estas incongruências minam a credibilidade da DGS ou sequer a criticar? Não dei por nada. Apenas uns comentadores pontuais que não tiram férias.
Agora, Costa deu uma entrevista ao Expresso em momento cirúrgico, em vésperas de uns certamente escassos dias de férias. Sobre a remodelação governamental ‘tirem o cavalinho da chuva’ e, com habilidade, oportunidade e humor, ‘chutou’ para cima da oposição os rumores de substituições. Reforçou a ideia de um Governo a 200% num momento tão importante como este do PRR e do Portugal 2030 e ainda proferiu palavras tranquilizadoras e certeiras sobre a DGS e sua competência. No fundo, transmite um compromisso permanente, numa entrevista pensada ao pormenor.
Não há como esconder: são férias! Na política ou em qualquer profissão, para uns as férias são sagradas e um direito adquirido, suceda o que suceder. Para outros, os profissionais, as férias são igualmente um direito mas estão sempre sintonizados, sem vergonha de aparecer bronzeados quando as circunstâncias assim o exigem. Na política, as autárquicas de 26 de setembro já começaram há muito mas parece que só para os verdadeiros profissionais que não descuram oportunidades e os resultados serão também a consequência lógica de quem mais trabalhou.
2. O Census 2021 foi claro: a população em Portugal decresceu cerca de 2% desde há 10 anos. Atualmente somos 10.347,9 mil pessoas. Já em tempos aflorei este tema nestas colunas e alertei para os riscos de lá por 2050 sermos apenas cerca de 8 milhões.
Com uma economia tendencialmente estagnada desde há anos, não causa surpresa que os jovens anseiem por novos horizontes e oportunidades que acreditam encontrar no estrangeiro. A natalidade continua a decrescer (nestes 6 meses 37.675 bebés, ou seja, menos 4.474 que no mesmo semestre de 2020), a covid tem acelerado a mortalidade e, nesta realidade, não me parece ver ninguém na política realmente preocupado, nem sequer o Governo. Os impactos serão devastadores, a começar na escassez de empregos e a terminar na estabilidade da Segurança Social. Alguém acorda?
A integração dos imigrantes é uma oportunidade. Aqueles que tenho contactado e até são alguns nos últimos tempos, normalmente do leste europeu, são gente trabalhadora que se integraram perfeitamente. Falam a nossa língua e deveríamos incentivar a vinda de muitos mais. Como certamente outros de tantas nacionalidades, como existem no Alentejo de largas explorações agrícolas, facilitando a vinda das famílias e não apenas para trabalhar.
A terminar, um exemplo feliz: os olímpicos portugueses que nos orgulham, como Pichardo, expoente dourado da nossa capacidade de integração.
Como diz o povo: «A água não corre duas vezes debaixo da ponte” e, ou tomamos todos, Governo e oposição, políticas estruturantes concertadas que possibilitem o incremento das populações, devidamente articuladas com o desenvolvimento económico de Portugal a gerar emprego e a reter jovens no nosso país ou deixaremos um legado altamente problemático às gerações futuras.
P.S. – Perguntas a aguardar resposta:
1. A que velocidade ia o carro do ministro Cabrita?
2. Como é que cerca de 20% das ações do Benfica foram para a ‘preço de saldo’ a José António Santos e outros, sem o Benfica se posicionar para as adquirir?
3. A esquerda portuguesa revê-se no vandalismo ao Padrão dos Descobrimentos? Lemos Joacine e suas declarações incendiárias, registamos o silêncio de Costa sobre o tema na entrevista bem como do PS, PCP e Bloco. Ou para repudiar estão de férias?