Querida avó,
Costumo aproveitar as férias de verão para ler vários livros. Como as férias este ano são praticamente inexistentes, não consigo ler tanto quanto gostaria. No entanto, gostaria de partilhar contigo que estou a ler o livro Napoleão Vem Aí!, de Domingos Amaral, um escritor que ambos gostamos muito.
O livro leva-nos ao Portugal da época da primeira invasão francesa. Fala-nos da possível vinda de Napoleão a Portugal, após a fuga de Dom João VI para o Brasil. Tal como a nação portuguesa, Ana e Miguel sofreram uma provação terrível, pois ele apoiava os ingleses e ela foi amante de vários franceses. Considerada uma traidora à pátria, terá Ana sido morta por um patriota ou será Miguel, o marido enganado, o principal suspeito, como acusa o general Galopim, pai de Ana?
Tudo isto temos que descobrir lendo o livro.
Gosto imenso dos livros do Domingos Amaral, que no fundo nos conta, através das suas histórias, os Retratos Contados de Portugal (pelo seu olhar). Do mesmo autor gostei imenso da trilogia Assim Nasceu Portugal. Três livros que nos ajudam a saber mais sobre a história e as estórias de Portugal.
Mas o meu livro preferido do Domingos é sem dúvida o: Quando Lisboa Tremeu. Escusado será dizer que o tema está relacionado com o terramoto de 1755. O livro tem um enredo muito bom e um ritmo alucinante, que nos leva a uma Lisboa tão diferente da atual. Vais gostar imenso. Daria um belo filme.
Tu que és mais contemporânea, e apaixonada por policiais e espiões, já sei que tens outro livro preferido deste mesmo autor. Quando terminar a silly season gostaria imenso de contar com o testemunho do Domingos Amaral para os Retratos Contados. Não só para falar dos seus livros, mas, acima de tudo, para falar da importância do seu pai na nossa democracia e da importância que teve (e tem) na vida dos netos.
Parece-te bem? Boa semana. Bjs
Querido neto,
Que bom que te lembraste do escritor Domingos Amaral. Por acaso, agora até estou a reler um livro dele! Chama-se Enquanto Salazar Dormia, e lá pelo meio fala dos refugiados que a Ericeira acolheu.
A veia de escritor foi Domingos Amaral buscá-la ao pai: Freitas do Amaral escreveu uma excelente biografia de D. Afonso Henriques e outra de Gorbatchov. Seja em que profissão for é sempre complicado ser ‘filho de…’ (Por isso gostei tanto quando um dia, ia eu a entrar na Universidade Lusófona, uma rapariga veio ter comigo e perguntou «é a mãe do Prof. André?»).
No nosso caso, eu e a minha filha temos apelidos diferentes, eu sou Vieira, ela é Fonseca, e o meu marido assinava Castrim. Por isso quem não sabe, não vai lá dar. Mesmo assim, tinha ela começado a trabalhar numa revista, o patrão chamou-a:
«Disseram-me que eras filha do Mário Castrim. É verdade?»
«É».
«E por que não disseste nada?»
«Porque ninguém me perguntou…».
Mas por esse mundo há muitos casos de escritores filhos – ou pais – de outros escritores famosos. Estou-me a lembrar, no Brasil, do Luis Fernando Veríssimo, filho do Érico Veríssimo, ambos grandes escritores (embora, para mim, não haja maior escritor que o Érico Veríssimo, meu autor de infância, de adolescência, de idade adulta) e tão diferentes um do outro!
Ou, ainda no Brasil, o Carlos Drummond de Andrade, pai da poetisa Maria Julieta Drummond (que morreu tão cedo…).
Por cá, por exemplo, lembro-me da escritora Cristina de Carvalho, filha do poeta António Gedeão; das escritoras Ana Margarida de Carvalho e Rita Taborda Duarte, filhas do escritor Mário de Carvalho.
E da poetisa Maria Andresen, filha de Sophia de Mello Breyner, que quase ninguém conhece! Tem três grandes livros de poesia – Lugares; Livro das Passagens; e Lugares-3. E as pessoas deviam mesmo lê-la.
E, como se diz nos tribunais dos filmes americanos, I rest my case!
Bom fim de semana. Bjs