por Felícia Cabrita e Vítor Rainho
As atitudes dos negacionistas em Odivelas, a 14 de agosto, quando tentaram agredir o vice-almirante Gouveia e Melo, responsável pela task force da vacinação contra a covid-19, e os insultos de assassino e de capitanear um genocídio que encheram as redes sociais, alarmou o Serviço de Informações e Segurança (SIS) que entendeu que o melhor, para prevenir confrontos graves, era rodear o militar de medidas de segurança à semelhança do que já acontecera à ministra da Saúde, Marta Temido, e à diretora geral da Saúde, Graça Freitas. Os três rostos da vacinação andam agora sempre acompanhados de um elemento do corpo de segurança pessoal da PSP para evitar hipotéticos agressores.
Em declarações ao Nascer do SOL, o submarionista confirma as medidas de segurança tomadas: «Pensei que não era necessário, mas não quero desrespeitar as preocupações dos outros. Mas é uma decisão que acaba por ser útil. Imagine que há uma provocação qualquer e eu sou obrigado a reagir! Seria péssimo para a imagem do processo de vacinação porque os militares não se podem defender. Portanto, o facto de haver este interface,é bom».
Desde que Gouveia e Melo foi nomeado para liderar o processo de vacinação que a intelligence portuguesa tem vindo a avaliar o nível de risco em torno do submarinista, mas foi após os acontecimentos no passado dia 14, num centro de vacinação de Odivelas – em que Gouveia e Melo foi empurrado e vaiado por um grupo de manifestantes negacionistas – que o SIS, que já vinha monitorizando as redes sociais, percebeu que o ambiente incendiara. Os serviços fizeram nova reavaliação e entenderam que havia um agravamento do risco e elaboram um relatório que enviaram à PSP, a solicitar que acionassem as medidas de proteção adequadas.
Vice-almirante não queria segurança
Segundo fontes contactadas pela Nascer do SOL o vice-almirante não terá achado grande piada à ideia: «Começou por dizer que aquilo tinha sido apenas um episódio parvo que já estava controlado. Mas, como militar que é, acabou por aceitar por respeito às instituições».
Pode parecer estranho um militar ser ‘protegido’ por um polícia, mas as regras são mesmos essas e se no caso de Marta Temido e Graça Freitas faz todo o sentido terem um guarda-costas, no caso de Gouveia e Melo talvez se pretenda evitar que o militar responda a prováveis provocações – em Odivelas depois de ter sido apupado e confrontado fisicamente à entrada do recinto, fez questão de sair pela mesmo porta, enfrentado os negacionistas, tendo dito: «As pessoas têm direito à sua opinião e têm direito a manifestar-se. A vacinação é livre, as pessoas apresentam-se à vacinação de forma livre, por isso não há mais nada a dizer». E, na ocasião, Gouveia e Melo não deixou os manifestantes que lhe chamaram assassino sem resposta. «O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. Morreram mais de 18 mil pessoas em resultado desta pandemia. A pandemia é que é a verdadeira assassina e eu estou aqui para contribuir, pelo contrário, para esclarecer as pessoas».
Para os negacionistas, Gouveia e Melo é mesmo o rosto do ‘diabo’, pois conseguiu organizar o processo de vacinação com uma mestria militar elogiada a todos os níveis, tendo já sido vacinados, com pelo menos uma dose, mais de oito milhões e quatrocentos mil portugueses. Um feito impressionante mesmo a nível militar. O vice-almirante transformou-se mesmo numa espécie de pop star, havendo muitos que o querem ver na política, eventualmente a concorrer ao cargo de Presidente da República, algo que já negou taxativamente. «Sou apenas um militar a cumprir uma missão e quando a acabar quero ir escrever outra».
O SIS já tinha decidido colocar também a ministra e a diretora geral de Saúde sob proteção social devido ao que os negacionistas têm escrito nas redes sociais – o grupo que é contra a vacinação tem sido seguido pelas secretas portuguesas.
Guarda-costas e agentes que vão à frente
O SIS classificou a ameaça à ministra da Saúde, à diretora geral de Saúde e ao responsável da task force da vacinação como de grau 3, quando o máximo é de 5. Assim sendo, o trio do combate à pandemia, antes de se deslocarem a algum lugar, terão a garantia que as secretas portuguesas já avisaram a PSP da necessidade ou não de colocarem agentes fardados no local que irão visitar. Com essa informação, a PSP decide o número de agentes que envia.
Não são muitos os políticos ou figuras nacionais que têm direito a serem protegidos pelo corpo de segurança pessoal da PSP. Em termos institucionais, são acompanhados por guarda-costas o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e os ministros da Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros.
Depois há os tais casos sinalizados pelo SIS, como os três nomes referidos, ou o juiz Carlos Alexandre, por exemplo.
Há outros membros do Governo que, por estarem envolvidos em polémicas com impacto mediático podem, à semelhança de Marta Temido, também ter as costas protegidas. Houve alturas em que os ministros do Trabalho foram obrigados a ser escoltados, pois não podiam ir a lado nenhum sem serem importunados.
Além de juízes, também árbitros são muitas vezes protegidos, ou alguns grupos de extrema-esquerda que são ameaçados por skinheads ou outros elementos de extrema-direita.
A estes juntam-se ainda entidades estrangeiras creditadas em Portugal, que além da sua segurança pessoal podem também ter a PSP a auxiliar.