Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz deverão assumir as respectivas candidaturas à liderança do PSD no rescaldo das eleições autárquicas de 26 de setembro. Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva ainda estão a ponderar um eventual avanço. Já Rui Rio tem a sua recandidatura dependente dos resultados autárquicos, sendo que só ‘uma catástrofe’ à imagem da que Pedro Passos Coelho sofreu em 2017 corresponderá a um «encontrão para tombar», como já fez questão de sublinhar.
É, então, este o cenário das candidaturas ao partido: Paulo Rangel quer e pode, Miguel Pinto Luz quer e pode, Luís Montenegro pode, mas não se sabe se quer; Jorge Moreira da Silva quer, mas não sabe se pode… e Rui Rio, porque depende das autárquicas, nem sabe se quer nem se pode, mas tem o aparelho de prevenção para voltar a apresentar-se a votos. Sendo que, quantas mais candidaturas se apresentarem contra si, menos hipóiteses terão de o apear.
Paulo Rangel, que já disputou a liderança do PSD contra Passos Coelho e Aguiar-Branco, em 2010, lança-se ao partido numa altura em que, segundo um destacado quadro do PSD, se sente «finalmente libertado». Porquê? Porque, no espaço dos últimos dois meses, foi alvo de ‘ataques pessoais’ que tiveram, contudo, o efeito oposto: por um lado, humanizaram-no perante o eleitorado e, por outro, «serviram para ele, pela primeira vez na vida, ter a certeza absoluta do que quer fazer». E o que quer fazer? Conquistar o PSD.
Razão suficiente para «trair Rio», nas palavras mais amargas de uma outra fonte ligada à atual direção do partido. «Rio reconduziu Rangel nos cargos todos que ele tinha, deu-lhe todo o espaço mediático para ele poder crescer a nível europeu e até aceitou o seu pedido para que segurasse José Manuel Fernandes (candidato por Braga às europeias)», argumenta a mesma fonte. E, não obstante a «solidariedade de Rio», Rangel «montou uma estrutura, que vem do Parlamento Europeu e tem muito dinheiro, para andar a fazer campanha paralela durante estas autárquicas».
Segundo esta fonte, Rangel está a ir às povoações e cidades onde Rio, por questões de agenda, não consegue ir: «O Rangel está a ir às sobras, mas está a ir a todo o lado», havendo já «contactos» e «promessas» para o futuro. Fala-se, por isso, dentro do PSD, num «golpe palaciano» semelhante ao que Montenegro tentou fazer a Rio, em janeiro de 2020.
Encarregue da mercearia de Rangel – ou seja, do aparelho interno do PSD – estará Pedro Rodrigues, «que foi colocado por Rio como deputado e mal pôde espetou-lhe a faca».
Não obstante todas as fontes ouvidas pelo Nascer do SOL corroborarem que Rangel já está, de facto, «no terreno a arregimentar tropas», os críticos de Rui Rio afastam qualquer espécie de ‘traição’. Para estes, Rangel está «simplesmente no terreno», como estão «Miguel Pinto Luz ou Montenegro». Considerando que «até apoiantes do Rio o convidam» e que este «não apresentou moção de censura», Rangel não espetou qualquer ‘facada’ ao presidente Rui Rio. Pelo contrário: foi é «vitima das guerras televisivas». Enquanto uns defendem que um dos canais privados está a ser a plataforma da candidatura de Rangel, outros defendem exatamente o oposto.
Batalha alaranjada começa em outubro
Apesar de Rangel ter aberto o jogo antes da campanha eleitoral autárquica, a convicção dos sociais-democratas é que até às eleições autárquicas o PSD andará silencioso. Pinto Luz, Montenegro ou Moreira da Silva não anunciarão as suas candidaturas antes de dia 26 de setembro.
Certo é que será logo em outubro que se realizará o Conselho Nacional dos sociais-democratas que avaliará os resultados das autárquicas e o mais provável – e prenunciado por todos – é que agendará o próximo congresso do partido e novas diretas, com Rangel já na grelha de partida.
Há, no PSD, quem esteja convencido de que Pinto Luz não irá a jogo «para não sofrer outra vez uma derrota». Todavia, ao que o Nascer do SOL apurou, Pinto Luz irá mesmo novamente a jogo. O atual vice-presidente da Câmara de Cascais e antigo secretário de Estado de Passos Coelho, – que, em 2020, contra Montenegro e Rio, obteve 9,5% dos votos – manteve-se politicamente ativo neste último ano. Entre um website atualizado, uma participação no MEL e visitas a populações, Pinto Luz está efetivamente «no terreno e com tropas preparadas», sendo Santarém a área do país onde tem mais poder cor-de-laranja. Apesar de o PSD ser um partido que não é fã de ‘terceiras-vias’, fonte social-democrata garante ao Nascer do SOL que Pinto Luz, por ser ter «preparado com mais tempo e ter reunido novos apoios dentro do partido», está «mais forte do que há dois anos». Duas coisas ainda jogam a favor de Pinto Luz: o espaço que conquistou há um ano e o facto de ser o mais novo dos eventuais candidatos. Por estas razões, Pinto Luz recandidatar-se-á ao PSD.
Montenegro ou Moreira da Silva pela ala Passista
Com a indisponibilidade de Pedro Passos Coelho para regressar à política ativa no futuro mais próximo, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva são os dois nomes que reunem mais apoios na ala passista.
Para já, tanto um como outro dão sinais de que estão a ponderar uma eventual candidatura à liderança do PSD. Mas ambos nada adiantarão antes das eleições autárquicas de 26 de setembro.
Luís Montenegro reuniu 46,8% do partido. E não obstante fonte interna do PSD garantir ao Nascer do SOL que «Montenegro será candidato», que «as tropas dele estão asseguradas» e que ele é que é o verdadeiro «challenger» de Rio – ao contrário de Rangel –, outra fonte próxima assegura que o antigo líder parlamentar não tomou nenhuma decisão quanto a uma possível candidatura.
O que deixa espaço a Moreira da Silva, que, segundo fontes-sociais-democratas, também «anda no terreno».
O antigo deputado do PSD, tal como Montenegro, também representa a ala passista. «Contudo, enquanto Montenegro mobiliza massas, Moreira da Silva mobiliza quadros», explica ao Nascer do SOL uma fonte do PSD.
Moreira da Silva não tem aparelho nem distritais, mas tem «um conjunto de pessoas que pertencem à sua plataforma». designadamente sociais-democratas dos seus tempos de líder da JSD, que não têrão hoje tanto peso nem capacidade de mobilização do partido. Razão pela qual, apesar de querer, Moreira da Silva terá alguma dificuldade em angariar uma base de apoio que lhe permita avançar contra Rangel ou Rui Rio.