Trindade. Freguesia remota física e digitalmente quase não tem internet ou telefone

A freguesia de Trindade, com 116 habitantes, tem dificuldades com rede telefónica e internet.

Quando se pensa em Trindade, pensa-se, ou na Santíssima, ou na Igreja no Porto – cujo perfil está retratado nas páginas ao lado. Quando se pensa em Trindade, raros serão os que pensam na freguesia de Trindade, concelho de Vila Flor, distrito de Bragança. Trindade é a quarta freguesia mais pequena do país. Tem 116 habitantes – certamente um número inferior ao de visitantes diários na Igreja da Trindade, no Porto.

Politicamente é PS, com Alípio Fernandes ao leme. Em 2017, 67 fregueses, que significaram 58,2% dos votos, revalidaram a sua confiança no PS. Em segundo lugar ficou uma coligação PSD-CDS, que, com 41 votos, arrecadou 35,6% do sufrágio. Ainda à esquerda houve mais candidaturas: dois votos no Bloco de Esquerda representaram 1,7% dos votantes, enquanto um isolado voto no Partido Comunista significou 0,8%. Este ano, a sufrágio, concorre apenas o bloco central. Alípio – que, nos últimos 20 anos, teve 16 à frente da junta, tendo a sua mulher Natércia Fernandes ficado ao leme quando o primeiro atingiu o limite de mandatos – não se recandidatará, sendo a candidatura do PS encabeçada por Abel Cotelo. Já a oposição será feita através de uma nova coligação PSD-CDS, liderada por António Alexandre Santos – “que pertence a outra aldeia” (Trindade está dividida em três aldeias). Este ano é especialmente “difícil fazer prognósticos” quanto aos resultados eleitorais, diz-nos Natércia Fernandes, que considera que o debate está “mais vivo”.

Com o PS na liderança, Trindade anda de mão politicamente dada com o seu concelho, Vila Flor. Este, com cinco vereadores, é governado pelo partido socialista, que em 2017 venceu com 47,5% de votação face aos 39,7% da coligação PSD-CDS.

A taxa de abstenção de Trindade foi francamente baixa: 31,55% face à média nacional de 45%. Em 2017, 168 pessoas estavam elegíveis para votar. A 26 de Setembro, devido ao êxodo rural, o número de eleitores baixou. Nada surpreendente, uma vez que o fenómeno se repete por quase todas as aldeias do interior. Em 1950, Trindade tinha quase 500 habitantes. Hoje, tem pouco mais do que um quinto desses.

REMOTA FíSICA E DIGITALMENTE

Não só remota geograficamente, Trindade é remota digitalmente. Mais até do que freguesias menos populosas. Ao contrário destas, que são quase como ‘comodotizadas’ por serem as ‘mais pequenas do país’, Trindade, que se enquadra na segunda categoria, revela-se um absoluto mistério no mundo digital, pouco ou nenhuma informação havendo sobre a freguesia além do número de populares e de resultados de sufrágios políticos.

Ao i, Natércia Fernandes explica que a freguesia “não tem rede, internet ou telefone em condições”. Tal, explica, tem a ver com a dificuldade orçamental que há para “colocar antenas”, uma vez que “uma das três aldeias se encontra num buraco”. A Câmara de Vila Flor também “não ajuda”. Natércia considera-a “uma entidade difícil”, notando “dificuldade em trabalhar com o Presidente” e revelando que este “ignora muito as aldeias”. Em Trindade “tem falecido muita gente” e há apenas três jovens até aos 18 anos: “Os jovens saem e não voltam. Há apenas dois irmãos, de 9 e 15 anos, e uma criança de um ano, filha de um casal búlgaro. Saem para estudar e depois não voltam”.