Aproxima-se o dia das eleições autárquicas de 2021 e de Norte a Sul do país, incluindo as ilhas, os portugueses vão eleger os executivos das Câmaras, os deputados de outras tantas Assembleias Municipais e os membros de milhares de Juntas e Assembleias de Freguesia. São 308 autarquias e assembleias municipais e 3092 freguesias que vão a votos, entre candidatos dos partidos com assento parlamentar, como o PS, o PSD, o PCP, o CDS-PP, o IL e o Chega, de partidos sem representação na Assembleia da República e de movimentos de independentes, que são cada vez mais.
Há quem tenha praticamente a eleição garantida, há lutas renhidas, propostas e críticas, debates e pichagens partidárias ou não, com mais ou menos humor e mais ou menos provocatórias ou informativas. Há um burburinho por todo o país, a poucos dias do momento em que se definirá mais um passo na história política da democracia. E dos partidos. E dos seus líderes.
PS ganha, mas PSD pode ter mais capitais de distrito
Neste capítulo, tudo indica que os holofotes mediáticos, na noite eleitoral, vão centrar-se na sede do PSD, cujo atual líder conquistou o lugar precisamente na sequência dos piores resultados do partido em eleições locais, em 2017, quando arrecadou apenas 98 autarquias, contra as 161 do PS.
Com as dúvidas dissipadas quanto ao vencedor da noite – em termos absolutos o PS continuará a ter a liderança da ANMP, mantendo-se destacado no número de presidências de câmara conquistadas –, a curiosidade maior estará na recuperação que o PSD conseguirá fazer e na eventual conquista pelos sociais-democratas da maioria das capitais de distrito – em 2017, o PS ganhou oito e o PSD outras tantas (a CDU duas e os independentes as outras duas). Ora, 2021 pode ser o ano em que os sociais-democratas passam a deter mais capitais de distrito do que os socialistas, caso haja viragens em concelhos-chave como Coimbra e Funchal (do PS para o PSD), Castelo Branco (para o independente que ganhou pelo PS em 2017) e mesmo que o PS conquiste a Guarda ao PSD e Évora ao PCP.
De facto, a maioria das capitais de distrito não mostram sinais de estar à beira de uma mudança de cor política, mas outros pontos do país não estão tão estáveis, e as contas parecem beneficiar o PSD, caso consiga vencer os socialistas em determinadas capitais de distrito, ou caso os socialistas percam também algumas câmaras para outras cores políticas.
Estão previstas 15.900 mesas de voto por todo o país, o que reflete um aumento de 35% perante as 11.740 mesas instaladas em 2017. Esta é uma das novidades nestas eleições autárquicas, que vem de mãos dadas com o aumento do seu horário, passando as mesmas a fechar às 20h.
Em 2017, 45,03% dos portugueses não exerceram o seu direito de voto nas eleições autárquicas, o que significou uma relativa diminuição em relação a 2013, quando o valor se estabeleceu nos 47,4%. Ainda assim, os valores são relativamente altos, rondando a metade dos eleitores inscritos… De todo o modo, as campanhas eleitorais mais mediáticas não parecem estar minimamente preocupadas com este facto, dedicando-lhe pouco ou quase tempo nenhum. Nas eleições presidenciais de 2021, por exemplo, 60,76% dos eleitores não votaram para escolher o Presidente da República.
A ação mais mediática contra abstenção de que houve registo nesta campanha eleitoral reuniu a Associação Empresarial do Minho (AEMinho) e a Associação Empresarial de Braga (AE Braga), que se juntaram ao Movimento Cidadania Contra a Indiferença.
João Tiago Machado, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, lamentou ao DN não «poder responder afirmativamente com muito otimismo» quando questionado sobre as expectativas da abstenção no dia 26. «O melhor combate à abstenção são melhores candidatos. O Estado, claro que tem de facilitar tudo e anda a fazê-lo», disse.
as fasquias de Medina e moedas
O palco maior das eleições autárquicas é, por regra, o da capital. Em Lisboa, o lugar de presidente da Câmara é muitas vezes trampolim para altos cargos na política nacional, partidária e institucional. Daí que as eleições autárquicas ganhem uma enorme outra dimensão.
Em 2015, Fernando Medina assumiu o lugar deixado por António Costa ao leme da Câmara de Lisboa quando foi eleito secretário-geral do PS e formou a ‘geringonça’ com o PCP e o BE para apear Passos Coelho do poder.
Desde então, e após vencer as eleições autárquicas de 2017, Medina tem governado a capital.
Na cabeça da oposição a Medina surgiu Carlos Moedas, antigo comissário europeu e membro do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian. À cabeça da coligação entre PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança, intitulada Novos Tempos, Moedas lançou-se na corrida à capital com o apoio entusiasta da direita e algumas propostas inovadoras, como a criação de «uma fábrica de unicórnios» no Beato, como exemplo ilustrativo dos seus planos para o Hub Beato, e de como pretende «fazer de Lisboa a capital de inovação da Europa».
Em 2017, Medina não atingiu a maioria absoluta nas eleições autárquicas, ficando-se pelos 42%. Agora, quatro anos depois, e a avaliar pelas sondagens divulgadas nos últimos tempos, apesar de Carlos Moedas ainda garantir ter esperança numa vitória, volta a estar na fasquia da maioria de Medina. A outra, mais importante para as contabilidades internas entre os sociais-democratas, é se Moedas conseguirá ou não bater os 32% que PSD e CDS arrecadaram nas eleições de 2017.
Animação nos arredores
No distrito de Lisboa, e mesmo em concelhos onde a vitória poarece não ser questão, a luta autárquica não perde fôlego.
Na Amadora, por exemplo, o grande destaque vai para a candidata do PSD (em coligação com CDS-PP, PDR e MPT), a advogada Suzana Garcia, que ganhou popularidade através da sua frequente presença em programas televisivos e que enfrentará a socialista Carla Tavares, que dirige a autarquia desde 2013. Uma autarquia, aliás, que é governada pelo PS desde 1997.
Já em Sintra, a eleição autárquica ronda o mítico Basílio Horta, que lidera a autarquia desde 2013, e que é há longos anos uma figura presente na política portuguesa. Ricardo Baptista Leite é o concorrente da coligação entre PSD e CDS, que traz também de Cascais o candidato à Assembleia Municipal – António Capucho.
Se Basílio foi fundador do CDS e ‘emigrou’ para o PS (ainda que como independente), Capucho é um antigo peso-pesado do PPD-PSD que saiu do partido com Passos Coelho e acabou a regressar com Rui Rio. Mas tudo aponta que a eleição de Basílio será como trigo limpo.
Quem também está há longos anos na política portuguesa é Isaltino Morais, presidente da Câmara Oeiras e um dos candidatos independentes imbatíveis nestas autárquicas. Isaltino Morais governou este concelho entre 1986 e 2002 (PPD/PSD), seguindo-se uma outra fase como autarca – desta vez de forma independente – entre 2005 e 2013, e, novamente, em 2017. A campanha do autarca ficou marcada pela polémica contra a decisão da Comissão Nacional de Eleições, que o obrigou a remover vários conteúdos das redes sociais e a tapar outdoors na via pública.
Tal como, aliás, Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais desde 2011. Carreiras, que sucedeu a António Capucho e venceu em 2013 e 2017, é novamente candidato, para um último mandato, com a coligação Viva Cascais (PSD/CDS-PP). A luta autárquica em Cascais não mostra grandes obstáculos para a reeleição de Carreiras, mas há uma novidade neste ano: João Rodrigues dos Santos, irmão do pivô da RTP José Rodrigues dos Santos, é o cabeça de lista da candidatura do Chega a Cascais, e poderá dificultar a repetição da maioria absoluta.
Ainda no distrito de Lisboa, há um concelho que não esperava ter tantas dúvidas para as próximas autárquicas, e muito menos poir uma inesperada morte. Trata-se de Torres Vedras, onde Carlos Bernardes, presidente da autarquia, foi encontrado morto em casa, em maio deste ano. A GNR avançou na altura que o presidente da Câmara foi encontrado «morto com uma faca» na sua cama. A repentina morte de Carlos Bernardes, o socialista que tinha chegado ao poder em 2015, colocou um ponto de interrogação nas forças do PS neste concelho do distrito de Lisboa, que tinha já anunciado Bernardes como recandidato. Pouco depois da sua morte, a até então vice-presidente Laura Rodrigues assumiu as rédeas da autarquia, e acabou por tornar-se na candidata socialista às eleições de 2021.
O concelho de Torres Vedras não conhece, desde 1976, outra cor política a não ser a dos socialistas, mas o PSD tem na mira acabar com esta hegemonia, aproveitando a confusão trazida pelo repentino desaparecimento do antigo autarca. Duarte Pacheco é o candidato social-democrata a esta autarquia, e conta com o apoio de Rui Rio, que visitou o concelho no início do mês, onde garantiu querer «ter muitos mais eleitos do que temos neste momento, entre eles presidentes de câmara».
Santarém seguro
Um pouco mais a norte da capital, Santarém é uma das capitais de distrito onde não se espera novidades. O PS tenta a sua sorte com Manuel Afonso, que foi vice-presidente desta autarquia entre 2001 e 2005, e que é deputado na Assembleia da República desde 2019. Mas à sua frente, no entanto, estará o atual autarca de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), que é recandidato e ocupa o lugar de presidente da autarquia desde 2012, quando o então autarca Francisco Moita Flores abandonou o lugar.
Confrontos na Margem Sul
Porém, não é preciso ir muito longe de Lisboa para se encontrar maiores dúvidas e mais acesos confrontos. Em Almada, no Barreiro e no Seixal, na margem sul do rio Tejo, os comunistas lutam por recuperar terreno perdido para os socialsitas nos últimos anos.
Em Almada, Inês de Medeiros (PS) surpreendeu em 2017 ao pôr fim a um dos mais importantes bastiões da CDU. A socialista, filha do maestro António Victorino de Almeida, tornou-se na primeira presidente da autarquia não-comunista. Agora, quatro anos depois, para manter a liderança socialista da mesma, terá de resistir à artilharia pesada da CDU: uma veterana de mil batalhas destes círculos políticos, Maria das Dores Meira, que atingiu o limite de mandatos como presidente da Câmara de Setúbal, tentará recuperar o bastião perdido.
O caso no Seixal é também particular, já que se trata de um concelho que, apesar de se ter mantido sob o poder dos comunistas em 2017, te m sobre si os olhos do PS, que, caso vença em todas as frentes, completaria pela primeira vez o triângulo Almada-Seixal-Barreiro, já que este último concelho foi também arrebatado aos comunistas em 2017, e poderá continuar nas mãos dos socialistas, apesar da também forte aposta da CDU.
Mais perto do Sado, em Setúbal, Maria das Dores Meira deixou a sucessão bem entregue a André Martins, que não deverá ter dificuldade em confirmar a vitória dos comunistas.
O seu principal opositor é Fernando Negrão, vice-presidente da Assembleia da República e candidato social-democrata a Setúbal, concelho a que concorreu em 2005, ficando em segundo lugar.
Moreira á terceira
Rumando a Norte, no segundo concelho do país, o clima autárquico está quente, mas Rui Moreira, o candidato independente que conquistou a Câmara portuense em 2013, e que quer agora alcançar o terceiro mandato consecutivo, tem caminho aberto para mais uma vitória. Se os seus adversários insistiram no caso Selminho e no facto de o presidente ter de responder em tribunal, em novembro deste ano, após ter sido acusado de favorecer a imobiliária da família num negócio com a Câmara Municipal do Porto, o autarca tem conseguido manter-se acima das querelas e os debates televisivos foram o exemplo perfeito disso. Frente aos seus diferentes adversários políticos, como Tiago Barbosa Ribeiro, do PS, ou Vladimiro Feliz, do PSD, Moreira reiterou que a sua família «nada ganhou com isso [caso Selminho]» e foi convincente para os portuenses. «O caso Selminho não é um tema político. Não quero dar a Rui Moreira uma oportunidade para se vitimizar», referiu o candidato socialista, no mesmo debate, onde Vladimiro Feliz garantiu, como já o tinha feito anteriormente, que não se candidataria se estivesse na mesma situação que Moreira.
Vítor Rodrigues bem embalado
Também a caminho de um terceiro mandato na Câmara de Vila Nova de Gaia está Eduardo Vítor Rodrigues, que, em 2017, conquistou as eleições autárquicas neste concelho com 61,68% dos votos. Agora, quatro anos depois, essa solidez na autarquia será posta à prova, numa altura em que tem como adversário principal o social-democrata José Cancela Moura, que ocupou o lugar deixado pelo antigo selecionador nacional António Oliveira, que desistiu da corrida autárquica pouco depois de ter sido anunciado como candidato pelo PSD. Não há incertezas.
Salgueiro quer segundo mandato
Ali ao lado, a corrida autárquica em Matosinhos parece também apontar para um segundo mandato por parte da socialista Luísa Salgueiro, que conquistou as eleições de 2017 e que é novamente candidata com as cores do PS.
Neste concelho, o que não falta são candidatos – partidários e independentes – que pretendem acabar com um domínio total dos socialistas, que venceram as eleições autárquicas em Matosinhos entre 1976 e 2013, ano em que Guilherme Pinto – que presidia a autarquia desde 2005 com as cores do PS – rompeu com os socialistas e se candidatou como independente, conquistando 43,41% dos votos. Matosinhos é bastião socialista e 2017 foi um ano curioso, em que Luísa Salgueiro concorreu com as cores oficiais do partido, ao mesmo tempo que Narciso Miranda, que tinha sido presidente da autarquia (pelo PS) entre 1977 e 2005 concorreu como independente, tal como António Parada, que em 2013 tinha sido candidato sob a bandeira dos socialistas e que este ano é novamente candidato pelo movimento António Parada SIM!.
Agora, António Costa vai rumar, no domingo, até este concelho plantado à beira do Atlântico, para dar o seu respaldo à candidata socialista, o que indica mais uma forte aposta do PS nos principais concelhos do país.
Braga estável
Mais a Norte, já em Braga, as eleições deverão manter Ricardo Rio como presidente da Câmara de Braga, lugar que ocupa desde 2013. Rio, que concorre com a coligação Juntos por Braga (PSD, CDS, PPM, Aliança) vai enfrentar Hugo Pires, socialista, que chegou a ser secretário nacional para a organização do partido.
Nos diferentes municípios do distrito de Braga, um destaca-se pela grande popularidade de uma das suas candidatas. Em Vila Verde, a vereadora Júlia Fernandes é a candidata do PSD à presidência da Câmara Municipal, um posto que o seu marido, José Manuel Fernandes, um dos eurodeputados mais influentes do Parlamento Europeu, ocupou durante 12 anos, entre 1997 e 2009. Este concelho a Norte é um dos bastiões do PSD, onde o casal Fernandes tem estado praticamente sempre presente no Executivo, reforçando agora a posição com a candidatura de Júlia Fernandes, que mostra bons sinais de poder vir a ocupar o principal lugar da autarquia. Isto apesar das várias polémicas em torno do PSD de Vila Verde, em que o atual autarca, António Vilela, foi condenado pelo Tribunal de Braga a uma pena suspensa de três anos e meio de prisão e a perda de mandato por um crime de prevaricação.
A própria Júlia Fernandes esteve também envolvida em polémica, acusada de ter utilizado perfis falsos para promover os seus conteúdos nas redes sociais e noutros processos. Júlia Fernandes foi também envolvida no caso que ficou conhecido como Operação Éter.
Ribau à procura do sexto mandato
Em Aveiro, no concelho que serve de capital ao distrito homónimo, Ribau Esteves (PSD) lidera a autarquia desde 2013 e procura agora o seu terceiro mandato aos comandos da mesma. Recorde-se que o candidato social-democrata chegou a Aveiro em 2013 depois de ter cumprido o limite de mandatos na Câmara Municipal de Ílhavo, vizinha, onde foi presidente desde 1998.
Este ano, no entanto, a maior luta de Ribau Esteves não foi contra os adversários de outras cores políticas, mas sim contra a concelhia do PSD em Aveiro, que levou avante ação dentro dos tribunais do partido para reverter as decisões de Ribau Esteves e da distrital do partido em relação à candidatura de 2021, que é feita em coligação com o CDS-PP e com o PPM.
Com este turbilhão do PSD em Aveiro, muitos esperavam que as outras cores políticas – e principalmente o PS, que governou esta autarquia entre 1997 e 2005 – aproveitassem o desequilíbrio para ganhar terreno. Ainda assim, Ribau Esteves continua a surgir como o candidato mais popular a vencer as eleições neste concelho.
Castelo Branco a ferro e fogo
Um dos pontos quentes das eleições autárquicas de 2021 está no concelho de Castelo Branco, onde Luís Correia, que venceu as eleições neste concelho em 2013 e 2017 com as cores do PS, vai agora candidatar-se como independente, após o partido ter preferido nomear Leopoldo Rodrigues para as eleições de 2021. Correia foi condenado a perda de mandato em julho de 2020, por ordem do Tribunal Constitucional, por ter assinado, na qualidade de presidente da Câmara, dois contratos com uma empresa detida pelo seu próprio pai. Em fevereiro deste ano, Luís Correia acabou absolvido do processo pelo Tribunal de Castelo Branco e assim teve luz verde para se lançar à corrida autárquica neste concelho do centro do país, desta vez como independente. O Nascer do SOL sabe que Correia tem o apoio de todos os presidentes de Junta de Freguesia deste concelho, exceto do próprio Leopoldo Rodrigues, que será o candidato oficial do PS nestas eleições.
A vida não está, no entanto, fácil para Luís Correia, que liderou a autarquia entre 2013 e 2020, e que é alvo de todas as baterias do aparelho socialista ainda do tempo de José Sócrates, entre os quais se destacam antigos socráticos e também Joaquim Morão, que foi presidente da Câmara de Castelo Branco até 2013. O mesmo Joaquim Morão que, segundo o Nascer do SOL apurou, terá estado envolvido em polémica no último ano do seu mandato, quando inaugurou a remodelação do Edifício dos Paços do Concelho de Castelo Branco, a 20 de março de 2013, cinco dias antes da data em que terá sido feito o contrato de adjudicação destas mesmas obras de remodelação. Confrontado com esta situação, o antigo autarca preferiu não responder, garantindo estar fora da vida política há 8 anos.
Desta forma, neste concelho do centro do país, há quem fale numa janela de oportunidade para o PSD, que perdeu a liderança da autarquia há mais de 20 anos, e que poderá lucrar da aparente divisão dentro da concelhia socialista de Castelo Branco para levar a sua candidatura, liderada por João Belém, a bom porto. Mas Luís Correia parte como favorito.
Viseu em luta jurássica
Outro dos concelhos mais interessantes para quem não vai pregar olho na noite de 26 de setembro é Viseu, no distrito homónimo, onde a morte de Almeida Henriques abalou por completo os planos autárquicos do PSD na cidade. Em 2013, Almeida Henriques substituiu Fernando Ruas na liderança da autarquia e acabou por ficar à frente da mesma até 2021, quando o seu estado de saúde piorou, acabando por morrer, em abril deste ano.
A morte abalou as estruturas políticas de Viseu, principalmente a do PSD, que tinha Almeida Henriques como candidato candidato natural à autarquia em 2021.
Os sociais-democratas acabaram por optar pelo antigo autarca Fernando Ruas, mas a escolha não passou sem polémica. Algumas figuras ligadas ao partido acusaram a ‘rapidez’ com que se escolheu o sucessor de Almeida Henriques, já que não foi respeitado um período de luto e de reflexão após a morte do autarca e que a reunião para escolher Ruas terá sido feita no próprio dia em que decorreu o funeral do antigo autarca. Uma acusação que a própria viúva de Almeida Henriques, através das redes sociais, classificou como «uma vergonha».
A luta interna do PSD em Viseu está acesa – como provou o debate televisivo no Porto Canal –, e o Nascer do SOL sabe que a escolha de Ruas para candidato não foi, de todo, consensual, tendo os vários presidentes de Junta de Freguesia do concelho subscrito um apelo para que o candidato social-democrata à autarquia fosse João Paulo Gouveia, vice-presidente da Câmara de Viseu desde a morte de Almeida Henriques.
O facto de Ruas não ter comparecido ao funeral de Almeida Henriques nem ao momento em que o Parlamento o homenageou e de estar comprometido com perseguições a quadros que eram próximos do ex-presidente na Câmara também têm suscitado polémica.
Ao ponto de o PS alimentar ainda a esperança de uma surpresa na noite de dia 26 naquela que é a única capital de distrito que nunca mudou de cor desde 1976 – e por isso continua a ser conhecida como bastião do PSD ou ‘cavaquistão’. João Azevedo, que foi presidente da Câmara de Mangualde entre 2009 e 2019, é homem em quem os socialistas depositam toda a confiança, apesar de ter contraído uma intensa infeção por covid-19, que o chegou a colocar nos cuidados intensivos coronários do Centro Hospitalar Tondela Viseu. As próprias movimentações das mais altas figuras do PS mostram uma forte aposta dos socialistas neste concelho, que António Costa já visitou duas vezes durante a época de campanha. Também Pedro Nuno Santos já pisou terras de Viriato, ao passo que no lado do PSD, de Rui Rio, ainda não houve sinal.
Guarda à espera
Bem perto de Viseu, a Guarda, capital do distrito homónimo, prepara-se também para as próximas eleições, e aqui as expectativas do PS são ainda maiores. O concelho que foi governado pelo PS desde 1976 até 2013, quando a coligação PSD-CDS arrebatou a autarquia aos socialistas, prepara-se agora para decidir se vai querer dar mais quatro anos a esta cor política, ou se mudará novamente de rumo.
Carlos Monteiro é o candidato do PSD, depois de ter chegado à presidência em 2019, quando o então autarca Álvaro Amaro foi eleito eurodeputado. Monteiro foi eleito vice-presidente da Câmara em 2013 e reeleito vereador em 2017 e vai agora encabeçar a lista do PSD em 2021. A sua escolha, no entanto, não foi consensual, tendo a concelhia do partido aprovado inicialmente, por unanimidade, o nome do vereador Sérgio Costa, que acabou por se candidatar como independente. Monteiro foi o nome escolhido pela distrital do partido e, em última instância, pela nacional.
A divisão entre os sociais-democratas poderá ser-lhes fatal e os socialistas, encabeçados por Luís Couto, acreditam que dificilmente a autarquia voltará a fugir-lhes agora como fugiu desde 2013.
Coimbra acesa
Em Coimbra, Manuel Machado, que é presidente da Câmara Municipal desde 2013, e que presidiu a esta mesma autarquia entre 1990 e 2001, é novamente o candidato socialista a este concelho no centro do país. Machado, que é também dirigente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, é um dos denominados ‘dinossauros autárquicos’, com grande experiência nesta área, apontando agora para o terceiro mandato seguido à frente desta autarquia.
Pela frente, no entanto, terá José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, que é cabeça de lista da coligação entre PSD, CDS-PP, PPM, Volt, RIR, Aliança e Nós, Cidadãos. Coimbra é um dos principais objetivos do PSD para estas eleições autárquicas e os sociais-democratas acreditam mesmo que poderão tirar os socialistas desta capital de distrito.
Na corrida está também o independente Jorge Gouveia Monteiro, com o movimento Cidadãos por Coimbra. Militante do PCP desde 1976, Gouveia acabou por se desfiliar dos comunistas em 2017, altura em que foi cabeça de lista por este mesmo movimento independente nas eleições autárquicas.
Merecedoras de destaque são ainda as eleições autárquicas na Figueira da Foz, onde Pedro Santana Lopes vai concorrer, como independente, depois de ter presidido a este concelho entre1997 e 2001. O panorama é sorridente para o autarca, que teve uma série de problemas burocráticos com a legalização da sua candidatura, mas que surge no topo das intenções de voto dos figueirenses. A maioria absoluta é a meta e a única dúvida que persiste.
Peniche com direito a marina
Em Leiria, capital de distrito, as eleições autárquicas colocam frente-a-frente Gonçalo Lopes (PS), atual autarca deste concelho do centro, que ocupa o lugar desde a saída de Raul Castro, em 2019, e Álvaro Madureira, do PSD. O mesmo Raul Castro que foi presidente da Câmara da Batalha entre 1990 e 1997, e que vai agora concorrer, como independente, a essa autarquia, depois de ter abandonado o lugar como presidente da Câmara de Leiria.
Quem está também nesta corrida autárquica é Luís Fernandes, do Chega, que foi, durante 12 anos, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Diversão. Em 2013, Fernandes foi eleito membro da Assembleia Municipal de Pedrógão Grande pelo PSD, como independente, acabando por renunciar em 2019, na sequência dos fogos de 2017 no concelho. Já na atualidade, é conselheiro nacional no Chega, bem como presidente da distrital de Leiria.
Ainda no mesmo distrito, no entanto, há um grande ponto de interesse. Peniche não é bastião de ninguém e tem sido partilhado por várias cores políticas ao longo dos anos. Desde 2017 que o concelho é liderado pelo independente Henrique Bertino, que se recandidata ao lugar em 2021.
Pela frente está, no entanto, a concorrência do social-democrata Filipe de Matos Sales, e do socialista Ângelo Marques, que, entre as várias propostas, pretende construir uma Marina Urbana de Recreio neste concelho, uma medida que poderá aumentar a sua popularidade entre os eleitores, e para a qual o mesmo já lançou a hipótese de contar com o apoio de António Costa.
Évora em dúvida e Moura é atração
As eleições autárquicas no Alentejo tem um factor adicional de interesse nas eleições de domingo. Qual? Em 2017 o partido Chega ainda não tinha sido fundado… mas agora, a estrutura política dirigida por André Ventura ganhou forte peso nesta região, tal como se refletiu nas eleições presidenciais – onde Ventura, candidato a Presidente da República, arrecadou uma considerável percentagem de votos. Em alguns concelhos, aliás, Ventura foi mesmo o segundo mais votado, ultrapassando Ana Gomes e João Ferreira, o candidato comunista à Presidência da República, o que reflete a mudança nos padrões eleitorais desta região, onde a CDU mantém uma forte influência.
Foi, aliás, essa a razão da canidatura de André Ventura à Assembleia Municipal de Moura, concelho onde em duas juntas de freguesia ganhou mesmo a Marcelo Rebelo de Sous – Póvoa de São Miguel e Sobral da Adiça.
Em Beja, na capital do distrito, assistir-se-á a um dos principais duelos PS/PCP, já que esta é uma autarquia onde os dois partidos têm alternado o poder desde 2009. A CDU dominou esta capital de distrito desde 1976 até 2009, quando os socialistas venceram as eleições autárquicas. De seguida, em 2013, os comunistas recuperaram o poder, que voltaram a perder em 2017, quando o atual autarca e recandidato, Paulo Arsénio, venceu as eleições. Agora, em 2021, os socialistas estão convecidos que Arsénio voltará a ganhar e conquistará o direito a um segundo mandato.
Já na capital do distrito de Évora, a luta entre PS e PCP está mesmo muito renhida, jogando os socialistas uma forte cartada com o candidato José Calixto, que presidiu a Câmara de Reguengos de Monsaraz desde 2009 até agora. A Câmara de Évora é liderada pelo comunista Carlos Pinto de Sá, que chegou ao poder em 2013, e que se recandidata agora ao terceiro mandato.
Porta
egre deixa de ser independente?
No Alto Alentejo, a Candidatura Livre e Independente por Portalegre (CLIP) gere a autarquia que serve de capital ao distrito homónimo e a atual autarca, Adelaide Teixeira, é novamente candidata ao concelho alentejano. Desde 2013 que a candidata independente lidera a autarquia, mas é preciso referir um grande decréscimo no número de votos obtidos entre 2013 (42,44%) e 2017 (31,60%) para este movimento independente, o que faz o PSD arregalar os olhos, a poucos dias das eleições de 2021, apostando claramente em recuperar o concelho, capital de distrito, que perdeu em 2013. Recorde-se ainda que a própria Adelaide Teixeira chegou a ser presidente da autarquia entre 2011 e 2013 com as cores do PSD, depois da renúncia do então autarca José Mata Cáceres.
Os sociais-democratas estão confiantes na recuperação do concelho, com a candidatura de Fermelinda Carvalho, em coligação com o CDS-PP. A candidata chegou ao limite de mandatos como presidente da Câmara de Arronches, no mesmo distrito, e vai agora tentar a sua sorte em Portalegre.
Algarve de todas as cores
Um pouco por todo o distrito de Faro quase todos os concelhos mostram-se estáveis e a reeleição é a maior probabilidade. Mas, ainda assim, há pormenores que vale a pena realçar e que poderão tornar mais interessantes estas eleições autárquicas.
Em Portimão, por exemplo, a candidatura independente de Luís Carito, antigo vice-presidente desse mesmo município, fez tremer as águas e poderá influenciar a contagem final dos votos. Não se prevê uma vitória para Carito, que foi vice-presidente desta autarquia entre 2005 e 2013, com as cores do partido socialista e que agora é candidato independente, cabeça de lista do movimento Portimão Mais Feliz, que junta CDS-PP, Nós, Cidadãos! e Aliança. A grande questão neste município prende-se com a influência que a candidatura de Carito poderá ter nos resultados, onde está também na corrida Rui André, que atingiu o limite de mandatos à frente da Câmara de Monchique, que arrebatou aos socialistas em 2009. Candidata também é Isilda Gomes (atual autarca), pelo PS, partido que sempre venceu as eleições autárquicas em Portimão, desde 1976.
A saída de Rui André de Monchique poderá abrir oportunidade ao PS neste concelho.
Já em Faro, a situação parece indicar que Rogério Bacalhau continuará no seu lugar à frente da capital algarvia, com as cores da coligação Unidos por Faro (PSD, CDS-PP, IL, MPT, PPM). Bacalhau foi eleito pela mesma coligação em 2013, seguindo-se a reeleição em 2017. Agora, terá pela frente o socialista João Marques, mas tudo aponta para uma vitória folgada do atual autarca.
VRSA em polvorosa
Um dos concelhos algarvios que tem estado na ribalta nesta campanha eleitoral é Vila Real de Santo António, bem perto da fronteira com Espanha, que fez manchetes em abril deste ano. Naquela altura, a então presidente de Câmara, Conceição Cabrita, acabou por renunciar ao mandato, por suspeitas de corrupção associadas com um negócio de imobiliário. Os sociais-democratas voltaram assim a virar-se para Luís Gomes, que liderou a autarquia entre 2005 e 2017. Gomes está de volta à corrida eleitoral, onde foi, aliás, alvo de polémica. A poucas semanas das eleições autárquicas, Paulo Manuel ‘Karussa’, independente das listas do PS a Vila Real de Santo António, chamou ‘panasca’ ao cabeça de lista do PSD, através de um comentário na rede social Facebook. Karussa não ficou por aí, acusando Luís Gomes de ‘não merecer o pão que come’. E o POSD exigiu a sua retirada das listas por ‘homofobia’.
De olho nas ilhas
As eleições autárquicas chegam também às ilhas.
Nos Açores, e especificamente em Ponta Delgada, o PSD procura mais uma noite eleitoral a seu favor, num dos seus grandes bastiões. Depois da saída de José Manuel Bolieiro da presidência da autarquia – para tomar as rédeas do Governo regional –, Maria José Duarte assumiu a presidência da autarquia. Ainda assim, a atual autarca será candidata em 2021 à presidência da Assembleia Municipal e não à presidência da Câmara. Para o lugar no executivo, o PSD apresentou Pedro Nascimento Cabral, líder parlamentar do PSD/Açores no Parlamento regional.
Funchal volta a ser laranja?
Se o PSD tem fortes expectativas de vencer em Ponta Delgada, dado o seu positivo histórico neste concelho, no Funchal a perspetiva de conquistar a autarquia é também forte, mas para isso terá de pôr um fim ao controlo do PS no município, que se instalou em 2013, quando Paulo Cafôfo se tornou autarca, título que manteve até 2019.
Agora, com as eleições de 2021 na mira, o PSD apresentou Pedro Calado como seu candidato oficial ao concelho, que é capital da Região Autónoma da Madeira. Calado foi vice-presidente do Governo Regional, entre 2017 e 2021, e foi vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal, entre 2012 e 2013, quando Miguel Albuquerque geria o Executivo da autarquia.
Norte muda na continuidade
Bem a Norte do país, em Viana do Castelo, a população vai despedir-se de um dos ditos ‘dinossauros autárquicos’. José Maria Costa atingiu o limite de mandatos como presidente da Câmara de Viana do Castelo e abrirá caminho para novos candidatos e novos nomes no concelho a Norte. Luís Nobre Pereira será o candidato socialista, numa corrida em que o PSD, em coligação com o CDS, é representado por Eduardo Teixeira.
Bem perto de Viana do Castelo estão os concelhos (capital de distrito) de Vila Real e Bragança, onde as eleições autárquicas também não deixam grandes dúvidas. Em Bragança, onde, em 2017, o PSD atingiu 57% dos votos, Hernâni Dias candidata-se ao seu terceiro mandato e não vai haver novidade. Já em Vila Real, a história é outra, e é o PS que mantém a hegemonia do concelho desde 2013, quando o arrebatou aos social-democratas. Rui Santos é o atual autarca e recandidato, procurando o terceiro mandato à frente da autarquia transmontana, ao mesmo tempo que o PSD aposta em Luís Tão para recuperar o concelho perdido – mas é muito difícil.