Pensar em Guimarães é, inevitavelmente, pensar em reis, ruas medievais e muralhas. Por lá, em data discutível no século XII, começou a dinastia de Borgonha. Também por lá viveram os Braganças, onde construíram um Paço que, recuperado durante o Estado Novo, tornou-se um dos marcos turísticos da cidade. Em 1640, como se sabe, esses Braganças tomariam o reino aos espanhóis, ofereceriam a sua coroa a Nossa Senhora e assumiriam o governo do país até à instauração da república.
Chegados a 2021, a chama dos Braganças na cidade mantém-se viva (e não é pelo Paço). É que o seu edil, de seu nome Domingos Bragança, irá agora procurar o seu terceiro e último mandato, perpetuando assim a dinastia – agora Braganço-socialista – que se mantém na cidade nos últimos trinta anos. Primeiro através de António Magalhães, agora através de Domingos Bragança: Guimarães, além de reis, ruas medievas e muralhas é, também, socialista. Só não o foi durante dois mandatos: um, iniciado em 1979, em que António Xavier protagoniza uma vitória da Aliança Democrática e outro, em 1985, em que o mesmo protagoniza uma vitória do PSD (com apenas 0,09% de diferença do PS)
Ao seu jeito – alguns dizem, tosco – Domingos Bragança apresentou os projetos para a cidade – alguns dizem, megalómanos -, como se estivesse numa feira popular a vender farturas. Entre tiradas como “vocês vão ver como é que isto vai ficar” e “todos os vimaranenses vão ser os nosso guarda-rios”, Domingos Bragança cavalga – porque será eleito – para os seus últimos quatros anos ao trono da terra que deu à luz o país.
Na oposição, juntam-se “por Guimarães” PSD e CDS, com Bruno Fernandes, atual vereador, à cabeça para o executivo. Já André Coelho Lima, atual vereador e vice-presidente do PSD, encabeça a lista para a Assembleia Municipal. O último, que foi o ponta de lança da direita nas autárquicas vimaranenses de 2013 e 2017, decidiu este ano não avançar com uma candidatura ao executivo. Também na lista à Assembleia Municipal da coligação “Juntos por Guimarães” constam nomes como Emídio Guerreiro, deputado do PSD, ou Mário Cunha Reis, membro do CDS-PP e Porta-Voz da TEM, a corrente de opinião democrata-cristã do CDS-PP.
Guimarães como símbolo nacionalista
O Chega apresentar-se-á, pela primeira vez e através de Adão Pizarro, a sufrágio autárquico na cidade. Será particularmente interessante entender qual será o seu resultado. Isto porque Ventura tem explorado a imagem da cidade como ícone para a veia nacionalista do partido: em janeiro, durante a campanha presidencial, com o Castelo de Guimarães d e fundo (curiosamente, no mesmo sítio onde, em 1940, Salazar celebrou “os oito séculos imortais da sua história”), Ventura prometia querer “Reconquistar Portugal”. Em Fevereiro de 2020, quando os adeptos do Vitória Sport Club foram acusados de racismo sobre Marega, André Ventura foi dos poucos a sair em defesa destes: situação que, considerando a febre futebolística da cidade, certamente terá colhido simpatia dos vimaranenses. Uma sementinha política plantada por Ventura, cujos frutos poderão agora ser avaliados.
A Guimarães concorrem ainda Gil Leitão, pelo IL; Mariana Pereira da Silva, pela CDU; Rui Rocha, pelo PAN e Luís Pinto Lisboa, pelo BE.