A lei aprovada pela AR, proposta pelo PSD, sobre a obrigatoriedade de titulares de cargos políticos e públicos declararem a pertença a associações aplica-se aos maçons?
Na minha opinião, não se aplica. A meu ver a lei é clara ao excecionar da obrigação a matéria que contende as liberdades políticas, como é o caso da liberdade de consciência. Ora, estando esta intimamente relacionada com a filiação maçónica, na minha opinião a lei não se aplica.
Considera que o secretismo que pauta a maçonaria continua a fazer sentido nos novos tempos em que a transparência é cada vez mais uma exigência da sociedade?
Em democracia a maçonaria não é secreta. Foi secreta quando foi necessário defender a democracia. É justamente ao contrário. Em democracia o único segredo que subsiste é o segredo iniciático, que é vivenciado interiormente e por isso é intransmissível.
O que pensa do facto do Grande Oriente Lusitano continuar a não admitir mulheres como seus membros?
Essa matéria não é uma matéria da competência do Grão Mestre. Apesar disso, eu assumo – e estou em condições de assumir o compromisso – que não irei esconder essa questão, que não farei de conta que ela não existe, e que promoverei um amplo e profundo debate sobre o assunto. Sendo o Grão Mestre o centro da união, este não deve tomar partido neste debate, sendo certo que o Grande Oriente Lusitano será sempre no futuro aquilo que os seus membros quiserem que ele seja.
As mulheres devem continuar a ser relegadas para uma organização maçónica autónoma?
A forma como a pergunta está feita tem como pressuposto a ideia de que a grande loja feminina de Portugal tem um estatuto de menoridade relativamente ao Grande Oriente Lusitano. Ora eu rejeito liminarmente essa ideia.
Qual o papel da maçonaria na sociedade moderna. E quais são os limites da sua atuação?
A Maçonaria deve ser uma instituição defensora dos valores democráticos, dos direitos humanos – necessariamente, também, dos novos direitos humanos emergentes (como o meio ambiente, a utilização da informática, a bioética, ou a inteligência artificial etc.) -, uma elite moral, uma vanguarda social interveniente, uma instituição promotora do mérito e uma instituição que pratica a solidariedade. Em relação aos limites: são para mim o respeito pela lei e a salvaguarda do interesse público.
Que balanço faz dos mandatos de Fernando Lima que, por ter estado 10 anos no cargo, acaba por ser o grão mestre com mais tempo na história da maçonaria?
O balanço é, do meu ponto de vista, positivo na exata medida em que, ao longo destes dez anos, o Grão-Mestre Fernando Lima criou as condições para resolver duas questões que, do meu ponto de vista, são centrais para o Grande Oriente Lusitano. A primeira está relacionada com a política patrimonial e com a criação de condições do ponto de vista económico e financeiro para o robustecimento do Grande Oriente Lusitano – condições essas que permitirão implementar projetos de maior dimensão, permitindo, designadamente, criar obra na área social, na sociedade portuguesa. O segundo aspeto tem a ver com um trabalho – que, obviamente, não está concluído – que é muito importante do ponto de vista da comunicação no que diz respeito a uma certa normalização do relacionamento do Grande Oriente Lusitano com a comunidade, com os órgãos de soberania e com a opinião pública em geral.
O facto de viver em Guimarães não o vai impedir de acompanhar o dia a dia do GOL? Ou o facto de ser grão mestre proporciona-lhe alguma vantagem económica que lhe permite a estar mais tempo em Lisboa?
O Século XIX já vai longe. Hoje a realidade é diferente. Julgo que todos reconhecerão, no Grande Oriente Lusitano, que eu sempre estive próximo de todos independentemente das distancias geográficas. Não há nenhum território em que o Grande Oriente Lusitano está presente e tenha menos dignidade. E a obediência é uma só: consequentemente, o grão mestre do Grande Oriente Lusitano é de Guimarães, de Lisboa, do Norte, do Algarve, dos Açores, da Madeira, de Cabo verde, de Macau, é de todos os membros do Grande Oriente Lusitano. Em relação à segunda pergunta: nunca me movi por interesses – particularmente na maçonaria. Não represento os interesses. Devo, aliás, dizer que abomino os interesses e, com toda a franqueza, se o mais importante para mim fossem as questões financeiras eu não era candidato.
E o facto de ser um ilustre desconhecido na sociedade não lhe parece que seja uma menos valia para o cargo?
Quem pensar que quem é grão mestre adjunto do Grande Oriente Lusitano – como eu – não tem relacionamentos perfeitamente estabelecidos na sociedade portuguesa, não conhece o Grande Oriente Lusitano. Obviamente, esses relacionamentos não se andam a propagandear nem a revelar porque, naturalmente, se o fizesse, eu estaria a demonstrar que não estava preparado para o exercício da função a que me candidato, que é a função de Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano. De todo o modo, não deixo de dizer que o grande desafio é a notoriedade e reconhecimento publico da organização – do Grande Oriente Lusitano e da maçonaria. E é justamente nessa notoriedade que estou empenhado em trabalhar.