As sondagens à boca das urnas bastaram para pôr a candidatura de Carlos Moedas a festejar, com um empate técnico a prometer uma noite imprevisível em Lisboa e a superar as melhores expectativas da coligação Novos Tempos depois de semanas em que a reeleição de Fernando Medina era apontada como certa – há um mês as sondagens chegaram a dar 24 pontos de vantagem sobre Moedas -, mesmo sem maioria absoluta. Um “papão” acenado pelos partidos à esquerda que Fernando Medina encarou já em fecho de campanha.
Afinal, o papão foi outro e foi preciso penar pelo apuramento dos resultados na capital – sendo o epicentro da longa espera o Pátio da Galé, no Terreiro do Paço, uma escolha de Medina que, qual presságio, fugiu à tradição socialista de passar a noite eleitoral no Hotel Altis.
Os resultados oficiais chegariam já depois das 3h e confirmariam o feeling de Rui Rio sobre a vitória em Lisboa – e as críticas do líder do PSD às sondagens. Carlos Moedas foi eleito com uma diferença na casa dos 2 mil votos, com o PS a perder cerca de 10 mil votos face a 2017.
António Costa falou antes do apuramento dos resultados em Lisboa, Loures e Sintra para sublinhar que o partido teve a terceira vitória eleitoral consecutiva e que isso não mudaria mesmo se perdesse estas câmaras. “Gostaria de sublinhar que é a segunda vez na história das eleições autárquicas que um país ganha três vezes consecutivas”, disse. “Uma eventual derrota em Lisboa é uma derrota que penaliza qualquer partido”, acrescentou, sublinhando que o PS continua a ser de longe o maior partido autárquico. E Lisboa? Sem dar por fechada a noite, o que aconteceria pouco depois, o secretário-geral do PS desvalorizou o peso da derrota na capital. “O país não é só Lisboa”, disse.
Ainda falava António Costa quando Rui Rio tomou a palavra, sublinhando o “excelente” resultado do partido, que com Lisboa ainda podia ser melhor. Como viria a ser. “Estamos em muito melhores condições de conquistar as legislativas de 2023”, disse, falando de um aviso ao Governo.
Medina: derrota é pessoal e intransmissível
Foi minutos depois já no Pátio da Galé, com António Costa na sala, que a derrota em Lisboa foi assumida por Fernando Medina, no segundo momento improvável da noite: foi Medina a anunciar a vitória de Carlos Moedas quando estavam ainda 18 freguesias por apurar. “Foi um privilégio servir esta cidade durante seis anos como Presidente, faço-o neste momento de despedida com a consciência tranquila de que dei o melhor para servir esta cidade e o seu povo”, disse Medina, assumindo uma derrota “pessoal e intransmissível” e que contou com o apoio do partido em toda a linha. “Sobre o meu futuro político não sei ainda, agora será descansar nos próximos dias (…) Não me faltaram os recursos, os meios, se não a minha incapacidade de conseguir um melhor resultado do que este”, disse, sublinhando que estará empenhado numa “transição exemplar”. Razões para reviravolta eleitoral? “As razões estão na minha incapacidade de demonstrar aos lisboetas que tinha a melhor equipa”.
Moedas: “Ganhámos contra tudo e contra todos”
Eram 2h36 quando Carlos Moedas subiu ao palanque no Hotel Epic Sana, em Lisboa. “Que grande noite, Lisboa”, gritou: “Que orgulho, ganhámos contra tudo e contra todos (…) Fizemos história, fez-se história hoje em Lisboa”, acrescentou, dizendo não ter palavras para agradecer o voto de confiança dado pelos lisboetas. “Não vamos falhar. Comprometo-me com todos os lisboetas, acreditem”, continuou, agradecendo o apoio de todos os partidos da coligação. “Este novo ciclo começa em Lisboa mas não vai acabar em Lisboa”, afiançou. “Apostei tudo numa única esperança, que a política está a mudar e quer pessoas diferentes e por isso estou aqui. Os lisboetas disseram que sim a esta nova maneira de fazer política, de ouvir as pessoas, de proximidade e de transparência. (…) Os lisboetas merecem estar na liga dos campeões das cidades europeias e é isso que vamos fazer”, prometeu ainda.