Antes da noite de 26 de setembro, muito se falou sobre o futuro do Partido Social-Democrata e as eleições autárquicas ocupavam praticamente sempre um lugar central na discussão. Em 2017, o PSD teve os piores resultados autárquicos da sua história e essa realidade augurava dificuldades, especialmente tomando em conta as diferentes sondagens, que não mostravam um futuro risonho aos sociais-democratas. À hora do anúncio das projeções pelos diferentes canais televisivos, no entanto, os augúrios mudaram, o vento mudou de direção e uma cor pintou os ecrãs: o laranja do PSD. A coligação Novos Tempos (PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança), liderada por Carlos Moedas, entrava em empate técnico com Fernando Medina nas várias projeções, acabando, mais tarde, contados os votos, por ser anunciada a surpreendente vitória na capital; em Coimbra, cantava-se cedo e sem sombra de dúvida, também, a vitória para o social-democrata José Manuel Silva (em coligação com CDS-PP, PPM, Volt, RIR, Aliança e Nós, Cidadãos), que alcançou mesmo a maioria absoluta; e no Funchal acabava o domínio socialista para regressar a capital madeirense aos sociais-democratas, ao mesmo tempo que Portalegre se tornava mais uma capital de distrito a passar para do PS para o PSD.
Os carrascos do partido de Rui Rio pareciam ter falhado nas suas previsões e o presidente do partido ganhava um novo ar depois de apurados os resultados na maioria dos concelhos, que davam sinais que, afinal, os rumores sobre a morte política do líder do PSD eram manifestamente exagerados. Rui Rio, no entanto, demorou o seu tempo até se pronunciar sobre os resultados, apesar de mostrarem importantes vitórias em concelhos-chave do país, falando apenas depois da uma e meia da manhã, numa longa noite eleitoral.
Moedas surpreende O grande destaque foi naturalmente para Lisboa, onde os resultados autárquicos obrigaram os candidatos, jornalistas, comentadores e o país a esperar até à contagem do último voto para perceber quem seria o próximo presidente da autarquia lisboeta. Afinal, as projeções iniciais colocavam Moedas e Medina num empate técnico e a contagem dos votos não parecia desempatar essa luta. Aparentemente, as sondagens que definiam como difícil a tarefa de Moedas de atingir os 32% conseguidos pelo PSD e pelo CDS-PP (quando combinados os seus resultados individuais) em 2017, não se revelaram sequer próximas da realidade, pois o cabeça de lista do movimento Novos Tempos esteve em renhida luta com Medina, e, no fim do dia (ou da noite, neste caso), acabou mesmo por bater o socialista.
Capitais ‘laranja’ A noite foi também de troca de cor política em várias capitais de distrito, com Coimbra e o Funchal a passarem das mãos do PS para o PSD. Em Coimbra, aliás, a vitória social-democrata verificou-se ainda cedo na noite eleitoral, colocando um fim à presidência do ‘dinossauro autárquico’ socialista Manuel Machado, que liderou a Câmara entre 1989 e 2001, e que tinha regressado à autarquia em 2013. Agora, no entanto, entre frustração e sem outro remédio do que aceitar os resultados eleitorais, Manuel Machado despediu-se do lugar onde passará a estar o antigo bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva.
Já no Funchal, os sociais-democratas cantavam também vitória à medida que a capital madeirense voltava a pintar-se de laranja, depois de, em 2013, os socialistas terem sequestrado este bastião dentro da ilha tradicionalmente social-democrata através de coligações várias. O anúncio foi feito pelo próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional madeirense, que tem uma forte ligação com o próximo presidente da Câmara do Funchal. Pedro Calado foi vice-presidente de Albuquerque entre 2017 e 2021, no Governo Regional, depois de ter também servido como seu ‘vice’ na autarquia do Funchal.
Outra das capitais de distrito ‘roubadas’ pelo PSD foi Portalegre, o concelho dominado, até à noite de domingo, pelo movimento Candidatura Livre Independente por Portalegre. Os sociais-democratas bateram Adelaide Teixeira, colocando Fermelinda Carvalho à frente da autarquia do Alto Alentejo.
Os sociais-democratas, no entanto, perderam a Guarda, que tinham conquistado em 2017 com maioria absoluta, para o movimento Pela Guarda. Liderado por Sérgio Costa, esta candidatura conquistou 36,2% dos votos, enquanto o PSD ficou abaixo, com 33,7%.