Está o caldo entornado em Setúbal, onde a atual presidente da Câmara Maria das Dores Meira – que está prestes a findar o seu terceiro e último mandato – se envolveu numa acesa troca de acusações com João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação.
Meira, que foi candidata à Câmara Municipal de Almada nas eleições autárquicas de 2021 pela CDU, foi alvo de uma reflexão pública por parte do Secretário de Estado, que aproveitou o espaço da sua página pessoal do Facebook para atirar farpas à autarca. Tudo começou a 28 de setembro, quando João Costa acusou “a cumplicidade silenciosa da quase anterior presidente da Câmara Municipal de Setúbal perante a vedação do usufruto de espaços da Serra da Arrábida pelos novos proprietários”, uma ação que, defendeu, “só surpreende quem acreditou nos seus emocionados e inconsequentes anúncios de expropriações e ações em tribunal, que não passaram disso mesmo há mais de um ano e meio”.
Estavam lançadas as primeiras flechas da batalha, onde João Costa não deixou de referir que “o Parque das Merendas, parte da história e da alegria de tantos setubalenses, está encerrado com o pretexto de ser lugar de interesse arqueológico e querem convencer-nos de novas indignações”.
Para fechar, o Secretário de Estado não poupou nas críticas: “Que se engane quem gosta de ser enganado. Que se vergue perante os que se instalam com dinheiro quem só nas palavras diz que a Arrábida é de todos. Que venham dizer isto e aqueloutro por esta tomada de posição. Este é um assunto que me irrita e não o escondo. Almada livrou-se de boa. Ainda fechavam as praias da Costa.”
Os comentários não caíram nada bem a Maria das Dores Meira, com quem o Secretário de Estado diz ter ‘privado’ sobre a “preocupação com a agressividade dos novos proprietários da Quinta da Comenda em relação ao moinho usado pelos escuteiros há mais de 30 anos”.
Um detalhe que a autarca não deixou de apontar na sua resposta à acusação de João Costa, definindo a alegada partilha de conversas privadas como sendo “indigna de quem ocupa um cargo governamental”. “Além das afirmações destituídas de rigor e verdade que produziu; além da absoluta falta de educação e deselegância do comentário, para não ir mais longe, dá-se ao luxo de, publicamente, revelar conversas que diz ter mantido comigo”, referiu a autarca de Setúbal, que aproveitou o momento para, no ambiente da revelação de alegadas conversas privadas, tornar público que o Secretário de Estado lhe terá, alegadamente, perguntado se “já tinha as malas feitas”, referindo-se à sua candidatura à Câmara Municipal de Almada. “[o Secretário de Estado] respondeu-me que eu tinha mesmo de me candidatar para tirar Inês de Medeiros de Almada, porque lá as pessoas gostavam do PS, mas não gostavam da presidente da Câmara. […] Reagi com a formalidade que a conversa exigia, mas fiquei estupefacta com a falta de solidariedade entre dois camaradas do mesmo partido e, acima de tudo, com o que pode ser entendido como falta de retidão deste senhor secretário de Estado”, atacou a mesma.
A resposta de João Costa não demorou a vir, numa mensagem de “repúdio” às declarações de Maria das Dores Meira, acusando a “fantasia e autoilusão” da mensagem. “Não comento o tom nem sequer especulo sobre as causas do momento de delírio, mas esclareço dois aspetos que poderiam pôr em causa a minha honestidade e caráter”, começou por explicar o secretário de Estado, antes de proceder a um desmentido, onde garantiu não ter tido conversas privadas institucionais com a Presidente da Câmara Municipal de Setúbal sobre a Arrábida. “Foi enquanto setubalense e escuteiro que lhe pedi ajuda face ao arrombamento de um moinho com roubo de material pelos novos proprietários. […] Alegar que esta foi uma conversa entre dois titulares de cargos políticos é apenas sugerir que, por eu ocupar um cargo político, estou impedido de qualquer pronúncia ou opinião sobre a gestão feita pela Presidente”, continuou, antes de esclarecer também ter tido o “grato prazer” de “acompanhar o trabalho da Inês de Medeiros e da sua equipa em Almada ao longo dos últimos 4 anos”. “É que ela escolheu Almada e não apenas continuar presidente onde quer que fosse, porque acredita no serviço público e não apenas em si própria”, atacou João Costa na conclusão da sua publicação.
Delírios místicos A conversa, no entanto, não ficou por aí. Dores Meira fez questão de continuar a troca de acusações, apontando o dedo a João Costa por questionar a sua saúde mental ao falar em “delírios” no seu discurso. “Se houve delírio, não foi meu, mas sim de quem, no dia seguinte ao falecimento de um alto responsável camarário, e em mais uma demonstração de total deselegância e falta de bom senso, telefonou para outros responsáveis municipais a pedir o lugar do morto para um familiar”, atacou ainda a autarca, recorrendo ao baú para manter acesa a discussão com o secretário de Estado. Desta vez, no entanto, e até à hora de fecho desta edição, João Costa não dera ainda qualquer resposta pública a estas acusações.