O general Ramalho Eanes apontou críticas à "demasiada centralização governativa" no que toca às Forças Armadas, comparando-o aos "erros do passado" da Primeira República e do PREC (Processo Revolucionário em Curso), durante uma conferência em homenagem ao general Loureiro dos Santos, falecido em 2018, seu companheiro nas movimentações militares do 25 de Novembro. As críticas de Eanes surgem no rescaldo da polémica tentativa de exoneração do chefe do Estado-Maior da Armada, António Mendes Calado.
“Pelo menos uma parte do Exército tem o sentimento de que existe uma certa animosidade política relativamente às Forças Armadas”, declarou Eanes, num discurso a que o Nascer do SOL teve acesso, queixando-se da "governamentalização e a ameaça decorrente, até de partidarização, que, ultimamente, se tem acelerado e intensificado”. Referia-se certamente à recente polémica à volta da tentativa de demitir António Mendes Calado, em conluio com dois dos militares na sua linha de sucessão, contou na altura uma fonte no ministério da Defesa ao Nascer do SOL.
Contudo, Eanes também não poupou a recente aprovação das alterações à Lei de Defesa Nacional e da nova Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas, que na prática centraliza o poder no Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, em detrimento dos ramos. Ou seja, é a "opção de curto-circuitar os chefes dos ramos, que são quem detém o conhecimento detalhado do emprego dos meios", considerou o antigo Presidente da República. O resultado são duas dimensões em que “o seu envolvimento é contraproducente ou gerador de novos tipos de tensões”, continuou Eanes, que, num manifesto conjunto com 28 outros ex-chefes militares, já tinha pedido um travão daquilo a que chamavam "reforma Cravinho", em referência ao atual ministro da Defesa.
São problemas que se agravaram, mas já vêm de trás, ressalvou Eanes, mostrando “incompreensão e mágoa” dado nunca ter havido “a indispensável e inadiável reforma das Forças Armadas”.