Depois da fuga de João Rendeiro para o estrangeiro, a Justiça desconhece também o paradeiro de pelo menos 15 quadros apreendidos ao ex-banqueiro e que continuaram na casa em nome da mulher, na Quinta Patino, em Cascais. Além disso, tem suspeitas de que duas obras foram falsificadas.
Com Rendeiro ainda em paredeiro incerto, e alvo de dois mandados de detenção internacional, esta semana foram levadas a cabo buscas na moradia onde o ex-banqueiro e a mulher Maria Jesus Rendeiro viveram nos últimos anos, a cargo da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária. Das 124 obras listadas, 15 não foram encontradas nas diligências. A juíza titular do processo, Tânia Loureiro Gomes, mandou retirar as obras da casa e, segundo avançou a TVI, esta sexta-feira deu cinco dias à mulher do ex-banqueiro para devolver as obras em falta. A juíza extraiu ainda uma certidão para a abertura de inquérito contra Maria de Jesus Rendeiro, que incorre no crime de descaminho, que de acordo com o Código Penal pode ser punido com pena de prisão até cinco anos, «se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal».
Entretanto, noticiou o Público, Maria de Jesus Rendeiro já informou o tribunal de que encontrou metade das obras em falta, uma delas pendurada na garagem e logo no dia em que decorreram as buscas. Ao que o SOL apurou, as diligências varreram toda a casa onde as obras se encontravam dispostas. A apreensão das primeiras obras de arte na posse do ex-banqueiro e no Centro de Arte da Fundação Ellipse remonta a novembro de 2010. Na altura, foi apreendida uma coleção estimada em cerca de 50 milhões de euros, noticiou então a imprensa, estando em causa cerca de 800 obras.
À época, Rendeiro negou ser dono das obras. Já em 2015, foi noticiado que um solicitador de execução e um avaliador tinham voltado a estar na casa do ex-banqueiro na Quinta Patino, então também arrestada, para fazer o inventário de obras de arte na posse da família na sequência de um arresto decretado em tribunal em março daquele ano para o pagamento de créditos no valor de 4,7 milhões de euros a lesados do BPP. O Correio da Manhã noticiou na altura que tinham sido marcados e avaliados mais de 50 quadros e esculturas.
Em abril, numa entrevista ao Sapo, o ex-banqueiro afirmou que houve um empréstimo do BPP à Fundação Ellipse «de 30 ou 40 milhões de euros, que serviu para comprar obras de arte», dizendo na altura não ter «muitas dúvidas de que a Ellipse vai integrar a coleção do Estado e vai para o Centro Cultural de Belém».
Já em 2006, fala do seu gosto pessoal pela arte numa entrevista publicada no Jornal Económico. «Tudo passa, a única coisa que fica são as ideias. Os presidentes passam, os presidentes das empresas passam, e o que é fica? Fica um quadro. O modelo de negócio numa empresa é algo que não passa. Os artistas, e de certa maneira os empresários, partilham o mesmo ‘common ground’, que é a importância do poder das ideias. É por isso que um grande número de empresários que conheço gostam de arte, de uma maneira pouco estruturada, pouco universitária», assumindo que era um prazer seu conhecido. Encara a arte como negócio? «A arte é sobretudo um bem de fruição e um estilo de vida; é uma maneira de estar num circo, de ir às feiras de arte, de ir a casa dos coleccionadores, de estar com os artistas».