António Costa está preparado para reunir com os partidos, no âmbito das negociações para o Orçamento de Estado para 2022, numa tentativa de encontrar um acordo para viabilizar o mesmo. “Nesta semana vamos ter reuniões e queremos reunir com todos os partidos”, revelou à Lusa fonte do Executivo, que diz continuar “a trabalhar com vista a alcançar mais aproximações com os partidos: PCP, BE, PAN, PEV e deputadas não inscritas”. “Na sequência das declarações que fizeram nesta semana dirigentes do BE sobre o acordo escrito, o Governo solicitou ao BE que envie o conteúdo e os termos do que entende ser este acordo escrito”, continuou ainda a mesma fonte.
Em resposta, os bloquistas emitiram um comunicado, no domingo, relembrando que “o único dado novo dos últimos dois dias é que passaram mais dois dias sem que o Governo desse resposta relevante aos nove pontos negociais propostos pelo BE no início de setembro”, e prometendo tomar a iniciativa de enviar ao Governo propostas de articulado destes pontos.
As declarações do Executivo de António Costa surgiram depois de o Bloco de Esquerda, bem como o Partido Comunista, durante a semana passada, terem ameaçado votar contra a proposta de Orçamento de Estado para 2022, na generalidade.
Ameaçou-se uma crise política, e cavaram-se trincheiras por toda a parte. Tanto António Costa, que definiu um cenário de eleições antecipadas como sendo “completamente irracionais”, como Marcelo Rebelo de Sousa, que apelou a um entendimento e chegou mesmo a questionar se o novo Orçamento é “tão diferente assim deste que vá compensar custos desta paragem”, comentaram as ‘negas’ do BE e do PCP.
As próximas semanas serão cruciais para que o PS consiga ver o seu Orçamento viabilizado, e entre as cartas no baralho socialista está a bazuca europeia, que chegou a ser definida como sendo um “livro de cheques socialista”, pela deputada Cecília Meireles, e que o ministro das Finanças, João Leão, usou como arma de arremesso. “A inexistência de um novo Orçamento cria dificuldades na execução do PRR”, acusou o ministro, que reconhece que “há soluções que podem ser exploradas”, mas que o “chumbo do OE cria dificuldades adicionais”, numa entrevista ao Eco. João Leão foi ainda assertivo: Se o país tiver de viver em duodécimos, não haverá garantias da execução total da chamada bazuca, acusou.
CRÍTICAS À ESQUERDA Mariana Mortágua, deputada bloquista, esteve em entrevista ao jornal Público na semana passada, defendendo que o Bloco exige “um acordo político com o Governo”, se o mesmo quer ver o Orçamento do Estado para 2022 viabilizado. O mesmo acordo, defendeu a deputada bloquista, deve incluir, por escrito, “medidas orçamentais” e “medidas da organização da sociedade e da economia”.
Quem também se mostrou insatisfeito com as preparações para o Orçamento do Estado para 2022 foi o Partido ecologista “Os Verdes” (PEV), que defendeu que, por esta altura, no ano passado, as mesmas estavam muito mais avançadas do que atualmente. No sábado, José Luís Ferreira, deputado e dirigente do PEV, esteve em conferência de imprensa, em Lisboa, e confessou acreditar que “há indícios que apontam para” um possível fim da denominada ‘geringonça’, que ajudou o Partido Socialista a conquistar o poder em 2015, após uma série de negociações com os partidos à esquerda.
Ainda na onda de rejeição sinistra, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, lamentou a falta de “grande evolução” nas negociações do Orçamento e acusou “aquilo que chegou até agora por parte do Governo” de serem “coisas claramente insuficientes”.
Os comunistas surpreenderam, durante a semana passada, ao admitir votar contra a proposta de Orçamento socialista, afirmando Jerónimo de Sousa, na sexta-feira, depois de ser recebido pelo Presidente da República, ser ainda necessário saber se existe ou não “essa disponibilidade por parte do PS para continuar a considerar” as propostas do PCP.