Rio ‘picado’ vai a jogo com apoio das bases

Foram as bases que motivaram Rio a recandidatar-se no dia 4 de dezembro. ‘Recebíamos mensagens de tudo o quanto era lado’, disse o líder do PSD na apresentação da candidatura

Rui Rio ponderou seriamente não se recandidatar à liderança do PSD, mas os seus colaboradores mais próximos e, sobretudo, o apoio que recebeu das bases na digressão autárquica pelo país – e que se traduziram em apoios declarados nos últimos dias – fizeram-no reconsiderar e ir a jogo contra Paulo Rangel. Ontem, durante a apresentação da sua candidatura no Porto, Rui Rio admitiu isso mesmo: quem lhe deu força para voltar a candidatar-se ao partido foram os militantes – «Recebíamos mensagens por tudo quanto era lado a perguntar por que não me candidatava, de todo o lado, de pessoas que nem sei como têm o meu telemóvel».

Fonte da direção do PSD dá um exemplo prático: «Em Viseu, o presidente da distrital está com Rangel e até a maioria das estruturas locais provavelmente estará. Mas chegam-nos muitas mensagens de apoio de militantes a dizerem que não entendem a posição da distrital ou da concelhia e que consideram que o atual presidente deve continuar». Foi sobretudo com base nestas mensagens de ‘muitos militantes-base’ – «que representam uma fatia muito grande» do universo PSD – que Rio decidiu avançar. Isto porque, «se não fosse esse o pressuposto, a vitória seria muito difícil de alcançar», uma vez que «a maior parte das distritais não o apoiam». Para este dirigente, «os militantes-base acham que o que faz sentido é Rio continuar na liderança e ser candidato a primeiro-ministro».

Em declarações ao Nascer do SOL, Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e diretor da campanha de Rio, também reforça o mesmo sentimento e explica que as bases estão «deste lado» porque não «perdoam o que Rangel fez». Salvador Malheiro afirma que os militantes não compreendem como pode Rangel ser candidato contra Rio, «que apoiou há dois anos após perder as legislativas e a quem tenta tirar o tapete agora que cumpriu todos os objectivos a que se propôs: ganhar a Madeira quando já todos diziam que estava perdida para o PS de Cafôfo; ganhar os Açores contra todas as perspectivas; ganhar as presidenciais, sem que o PSsequer tenha apresentado um candidato oficial; e, finalmente, conquistar uma vitória política clarqa nas autárquicas, conquistando Lisboa, Coimbra, Portalegre, Funchal, mais capitais de distrito do que o PS e reduzindo o fosse em números de câmaras». E não poupa tiros a Rangel: «Para os militantes do PSD, agora que Rio cumpriu com tudo e que já se sente o clic da mudança no país, é que Rangel em oportunisticamente tentar cavalgar o seu sucesso?».

Críticas, aliás, também acentuadas pelo próprio Rio na apresentação da sua candidatura, ontem à tarde. Embora não mencionando nomes, afirmou que o PSD tem de «ser um partido de homens e mulheres livres», não podendo «ser uma coutada seja de quem for, principalmente daqueles que muitas vezes se movem pelo seu lugar pessoal». Afiando a faca, lançou com cheiro a Bruxelas: «O que está em causa é Portugal, é a escolha do próximo primeiro-ministro, não estamos perante a escolha de um bom tribuno ou eficaz angariador de votos partidários».

«Quando me picam…»

Ontem, na apresentação da sua candidatura, viu-se um Rui Rio assertivo, lutador, com alma e sem problema em dar nome ao seu adversário: «António Costa». 

Rio disse-se «candidato ao mandato-interno» que o «permitirá derrotar António Costa» e considerou que as diretas não serão mais do que «um passo para derrotar António Costa e ser primeiro-ministro de Portugal» – demonstrando que também sabe fazer a oposição que os seus críticos, como o oponente Rangel, o acusam de não fazer. E houve ainda tempo para reforçar a crítica sobre a data escolhida para a realização das diretas do partido: «O que o Conselho Nacional decidiu está contra o que a sensatez manda. Desta vez, isto [o eventual chumbo do Orçamento de Estado], é mais a sério – não é só um esticar de corda. Estamos a correr um risco que é desnecessário». Sobre a união do partido, Rio deu exemplos passados demonstrativos que este a havia procurado – desde Santana Lopes a Rangel – atirando: «Tudo fiz para agregar. Só pode ser agregado quem se quer agregar».

No seu entender, hoje, o PSD «está mais perto» de vencer as próximas legislativas, considerando «muito prejudicial para o partido e para Portugal se o PSD mudasse de presidente no justo momento em que o país deu sinais evidentes de abertura para votar no PSD» (no que pareceu uma referência à vitória de Moedas). «Estamos mais perto de ganhar ao PS. Não quero ver essa oportunidade destruída. Por isso, perante os militantes do meu partido e largos milhares de portugueses que em mim depositaram esperança, tenho obrigação de me recandidatar».
Numa mensagem idêntica à de Salvador Malheiro ao Nascer do SOL, Rio realçou as diferentes vitórias até então para lamentar que, após as autárquicas, o partido tenha sofrido uma «tendência autofágica». «Depois da manutenção do Governo regional da Madeira, recuperação do Governo regional dos Açores, do contributo dado para a eleição do Presidente da República, recuperação da governação da capital do país e reconquista de um conjunto alargado de metas, a única etapa que nos falta é ganhar as legislativas». Por fim, admitiu estar disponível para qualquer debate com Paulo Rangel e, numa tirada digna de qualquer nortenho, lançou: «Quando me picam eu voo melhor, e eu estou picado».

Rangelistas confiantes

No PSD, os dados estão assim lançados. E há agora pouco mais de um mês para os dois candidatos jogarem as suas cartadas.

Os apoiantes de Rangel reconhecem que Rio ganha fôlego quando é acossado, mas estão confiantes na vitória de Rangel: consegue federar os que votaram em Luís Montenegro e em Pinto Luz há dois anos e junta-lhes alguns apoios de peso ‘roubados’ a Rio: do presidente da distrital do Porto a uma importante fação de Braga, liderada por José Manuel Fernandes – que será o número em Bruxelas no caso de uma vitória de Rangel e consequente renúncia ao mandato de eurodeputado.