Rui Rio nega ter demonstrado interesse na marcação de um Conselho Nacional extraordinário para o adiamento das eleições internas. Recorde-se que o líder do PSD, antes do Conselho Nacional, havia proposto precisamente esse adiamento. Vem, contudo, agora negar ter voltado a demonstrar interesse nele. Fê-lo através de um comunicado emanado da sua candidatura. Note-se, todavia, que Rio não está a negar a possibilidade de convocar o dito Conselho Nacional extraordinário para adiar as diretas do PSD. Está, apenas, a negar ter demonstrado interesse no mesmo. Ao i, fonte da direção de Rio garante que essa possibilidade está efetivamente em cima da mesa, mas só será equacionada em caso de chumbo do Orçamento de Estado e dissolução da Assembleia da República: “O partido não pode ser apanhado com as calças na mão. Tem de ter uma liderança forte na eventualidade de eleições”.
Recorde-se que terá sido o próprio presidente da Mesa do Congresso do PSD, Paulo Mota Pinto – afeto à atual direção -, a sugerir uma nova “reflexão” sobre a realização das diretas a 4 de dezembro.
Segundo a candidatura de Rio, tal burburinho terá sido criado pela própria candidatura de Paulo Rangel, que acusa de tentar passar “notícias falsas e contrainformação” com o objetivo de “lançar a confusão” e “criar cenários especulativos em nome da direção do Partido”.
No comunicado, a candidatura de Rio reforçou a ideia de que este, no Conselho Nacional, havia apelado “à reflexão dos conselheiros e militantes em geral sobre as consequências de marcar umas eleições diretas, numa altura em que tudo fazia adivinhar que o país podia entrar numa crise política, com a eventual dissolução do Parlamento e a convocação de eleições nacionais antecipadas”. Apesar de na altura ter sido muito criticado, parece que Rio estava certo: a crise política parece aproximar-se a cada dia e amanhã deverá confirmar-se.
Rangelistas podem faltar? Entre muitas contas e continhas possíveis para conspirar uma eventual aprovação do Orçamento de Estado, há uma que tem a ver com o PSD, em geral, e com Paulo Rangel, em particular. Ao i, hoje, o constitucionalista Paulo Otero lembrava estar em cima a possibilidade de os “deputados apoiantes de Rangel ou Melo” poderem “atrasar-se, apresentar um atestado ou votar a favor do Orçamento”. Tal, em princípio – dependendo de contas -, resultaria na aprovação do Orçamento de Estado na generalidade – o que faria com que baixasse à especialidade e a sua nova votação (e eventual chumbo) fosse adiada para 25 de novembro. Consequentemente, num cenário de ‘nova nega’, as eleições antecipadas passariam para fevereiro ou março. Uma cronologia que beneficiaria o calendário de Paulo Rangel no ataque ao PSD e a São Bento. Alguns dos deputados próximos de Rangel que, especulando, poderão fazer este golpe são Pedro Rodrigues, Paulo Leitão, Pedro Alves, Emídio Guerreiro ou Margarida Balseiro Lopes. Contactado pelo i, Pedro Alves rejeitou esta possibilidade e afirmou que irá votar ao lado do partido.
É, aliás, pouco provável que tal cenário se confirme, conforme explica ao i fonte da direção de Rio: “É uma questão especulativa. Não acredito nisso. Demonstra falta de maturidade e de responsabilidade política. Como é que eles explicariam isso à militância do partido?”. Apesar de o atual líder e o seu opositor estarem ‘picados’, este social-democrata não acredita que Rangel pudesse consertar tal esquema: “Nesse caso, Rangel seria uma espécie de mandante da situação – e não acredito que Rangel se queira meter nisso”. Por fim, demonstra-se pouco confiante na aprovação do Orçamento de Estado.