Por Henrique Pinto de Mesquita e José Miguel Pires
Uma coligação pré-eleitoral tal como a que garantiu a Carlos Moedas a conquista de Lisboa (se possível, alargada ao Iniciativa Liberal) é a estratégia que Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos têm vindo a acertar e que está só dependente de ambos conseguirem resistir na liderança dos respetivos partidos. Estava, aliás, agendada para ontem uma reunião entre ambos, em Aveiro. Contudo, viria a ser adiada para data a anunciar, por iniciativa de Rodrigues dos Santos em face da precipitação das reuniões internas do CDS-PP.
O objetivo dos líderes em exercício do PSD e do CDS-PP é criar uma alternativa de centro-direita ao PS, evitando a polarização de votos e acantonando o Chega à extrema-direita. Rio e Rodrigues dos Santos usam os dados das últimas eleições e das sondagens e justificam que a simples soma aritmética dos votos do PSD, CDS, IL, PPM, MPT e Aliança permitiria aumentar exponencialmente os mandatos conquistados pelo método de Hondt e disputar a maioria parlamentar.
Nos dois principais partidos da direita portuguesa, no entanto, o reboliço interno está a causar agitação e a colocar um entrave ao normal desenvolvimento desta possível aliança pré-eleitoral, que se traduziria num estilo de ‘Aliança Democrática 4.0’ – depois da original de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Ribeiro Telles em 1980-83; da de Durão Barroso/Santana Lopes e Paulo Portas em 2002-05; e da Passos Coelho e Paulo Portas em 2011-15.
Se no CDS-PP a ‘clarificação’ interna conheceu novos e decisivos episódios nos últimos dias, e particularmente ontem, no PSD são os próximos dias que prometem maior agitação, com a convocação de um Conselho Nacional extraordinário para decidir a antecipação do Congresso marcado para 14 a 16 de janeiro para o fim de semana de 17, 18 e 19 de dezembro.
O objetivo é que o vencedor das diretas de 4 de dezembro – seja Rui Rio ou Paulo Rangel – possa ser empossado líder ainda a tempo de poder elaborar e validar as listas de candidatos a deputados nas próximas legislativas antecipadas. E esta é a razão para a ‘guerra’ de calendários que opõe os seguidores do atual líder e do candidato assumido.
Ontem mesmo, Rio voltou a defender o adiamento das diretas e a apelar à união entre todos os sociais-democratas para se concentraram na criação de uma alternativa ao PS de António Costa.
E entre os seus apoiantes também sairam a terreiro algumas vozes, incluindo a do seu ‘vice’ André Coelho Lima, a inisistir na alteração das circunstâncias e na necessidade de o partido ponderar novamente na proposta de adiamento das diretas internas face ao cenário de eleições antecipadas.
Mas a convicção generalizada é que tanto o apelo de Rio como os dos seus seguidores dificilmente poderão ter êxito face à dimensão da última votação do Conselho Nacional (quase dois terços a favor da realização de diretas o mais rapidamente possível).
Ao Nascer do SOL, fonte social-democrata reconhece que Rio «sabe que já perdeu o Conselho Nacional» e não fará do adiamento das diretas o seu cavalo de batalha.
E se essa questão do adiamento das diretas ficar arrumada, o líder também não tentará travar a antecipação do Congresso de janeiro para dezembro – «Nesse caso, também ele está interessado numa clarificação o mais rapidamente possível para o partido se unir em torno do objetivo comum que são as legislativas e a criação de uma alternativa ao Governo do PS e de António Costa».
As opções de Rangel e a ‘ingerência’ de Marcelo
Sabendo-se que o Presidente da República tem o máximo de 60 dias para convocar eleições após o ato de dissolução da Assembleia da República e que os partidos terão de apresentar listas de candidatos a deputados até 41 dias antes da ida às urnas e, em caso de coligação, esta ter de ser previamente registada no Tribunal Constitucional, percebe-se a razão do aumento do nervosismo entre as diferentes hostes e trincheiras.
A agravar a já evidente tensão, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu receber Paulo Rangel em Belém para analisar a situação política e auscultá-lo sobre o calendário possível mesmo antes de ouvir o líder do PSD em funções.
Aliás, na sequência da audiência em Belém, Rangel já veio publicamente defender a marcação de eleições para o final do mês de fevereiro, por forma a dar espaço ao Presidente para marcar as eleições para o primeiro fim de semana de fevereiro, que é suficiente para as intenções de quem quer que seja o líder eleito pelos sociais-democratas – desta forma não podendo ser acusado de fazer a vontade a Rangel, uma vez que o prazo publicamente defendido por este foi o final de fevereiro.
Rangel, que recebeu um inequívoco sinal de apoio de Marcelo, também entretanto já veio defender o Presidente dos ataques que Rui Rio não resistiu a fazer-lhe, depois de ter sido surpreendido em direto pelos jornalistas que o questionaram sobre a audiência em Belém que manifestamente desconhecia. Rui considerou iniciativa de Marcelo de chamar Rangel a Belém e uma ‘ingerência’ «inaceitável».
O eurodeputado, que soma apoios nas estruturas do aparelho partidário, já esclareceu também que a sua estratégia passa por levar o PSD às urnas de forma isolada e sem qualquer coligação, traçando duas linhas vermelhas: o Chega não fará parte de uma solução de governo por si encabeçada e, mesmo numa situação sem alternativa de governabilidade, consigo não haverá Bloco Central.
Passistas nos dois lados da barricada
Nas trincheiras laranjas, começam cada vez mais a perfilar-se os dois ‘lados’ em confronto, com a curiosidade maior a residir na opção dos ‘passistas’.
Pedro Passos Coelho está acima das disputas internas e já se distanciou há muito, mas os seus mais próximos colaboradores e antigos assessores dividem-se entre as duas candidaturas.
Rangel anunciou esta semana que Miguel Poiares Maduro será o coordenador do seu programa eleitoral e é público que o eurodeputado conta com a esmagadora maioria dos apoiantes de Luís Montenegro e do próprio Miguel Pinto Luz, para além também, mas mais nos bastidores, do antigo braço direito de Passos Coelho, Miguel Relvas.
Já no final da semana passada, o também antigo secretário-geral adjunto do PSD no tempo de Passos Coelho e seu antigo assessor João Montenegro foi confirmado na equipa de Salvador Malheiro que dirige a campanha da recandidatura de Rui Rio. Montenegro esteve ao lado de Santana Lopes nas diretas em que Rui Rio conquistou a liderança dos sociais-democratas após a saída de Passos Coelho.