A ausência de António Costa na cimeira de líderes mundiais na COP26, em Glasgow, decidida à última hora, logo após Portugal entrar numa crise política, devido às dificuldades em aprovar o orçamento de Estado, “denota uma falta de priorização desta matéria” por parte do Governo português, acusou Inês de Sousa Real, porta-voz do PAN.
De facto, esta cimeira climática tem sido marcada pela ausência de vários chefes de Executivo. Talvez a mais significativa seja a do líder chinês, Xi Jinping, que ainda prometeu aparecer num discurso à distância, mas depois limitou-se a oferecer uma declaração por escrito – algo que tem sido apontada como uma condicionante da COP26, dificultando que as negociações tenham resultados concretos.
“Isto tem de ser um momento de urgência, de ação, e para isso tem de haver o real compromisso por parte de todos os governantes, incluindo o nosso primeiro-ministro, em combater a crise climática”, salientou a líder do partido Pessoas-Animais-Natureza, em declarações à agência Lusa.
“Seria fundamental essa presença para que haja um real compromisso de todos os governantes, de todos os países, de combate à crise climática”, continuou Inês de Sousa Real. “E isso não se faz marcando uma ausência nesta cimeira”.
Faltando Costa, o Governo português será representado na COP26 pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, que nas vésperas desta cimeira se mostrava pouco otimista, temendo que impacto da atual crise energética mine a vontade política de levar a cabo uma transição verde, deixando para trás os combustíveis fósseis.
A ausência do primeiro-ministro português na COP26 é particularmente sentida, dado que Portugal pretendia apresentar-se com um líder climático, como “o país que foi o primeiro no mundo que disse que ia ser neutro em carbono” em 2050, descrevera o ministro do Ambiente e da Ação Climática, à Lusa.
Aliás, Portugal já se tinha comprometido em reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 40% até 2030, quando foi assinado o Acordo de Paris, em 2015, tendo revisto esse compromisso para uma ambiciosa redução de 55%. Além disso, a expectativa é que Portugal contribua, ao longo de dez anos, com 35 milhões de euros para financiar a transição energética em países em desenvolvimento, que não beneficiaram tanto das energias fósseis – ainda assim, o mundo continua bem distante da meta de reunir 100 mil milhões de dólares (mais de 85 mil milhões de euros) para tal.
Ausência “dececionante” Além da de Xi Jinping, outra ausência notória é a do Presidente russo, Vladimir Putin, algo “dececionante”, nas palavras do seu homólogo americano, Joe Biden, numa conferência de imprensa após a cimeira dos G20, em Roma, onde se preparou a COP26.
“Apercebi-me da importância de encontros frente a frente com tantos dos líderes, da importância de relações pessoais sólidas, isso nunca deixa de me surpreender. Quando olhamos as pessoas olhos nos olhos, conseguimos fazer coisas juntos”, reforçou o Presidente americano.
Biden partira para a cimeira com a desvantagem de não saber se consegue aprovar domesticamente as suas promessas climáticas, devido ao bloqueio no Congresso, dado que o seu partido não se consegue entender. O facto de ter sido apanhado a dormitar enquanto ouvia um discurso na COP26 (ver página 7) certamente não o ajudou a deixar boa impressão.