Novo ciclo abre brechas entre estrategas do PS

Contrariando a ‘geringonça’ de Pedro Nuno Santos, ex-membro do secretariado defende ‘nova proposta’ para ‘novo ciclo’, com ‘novos aliados’ e ‘novos protagonistas’.

Amigo pessoal de António Costa e membro do Secretariado nos últimos seis anos – saiu após o último Congresso de Portimão –, José Manuel Mesquita, contrariando a estratégia publicamente assumida por Pedro Nuno Santos – pró-renovação da ‘geringonça’ –, veio defender que o «novo ciclo» que se inicia com as eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022 deve ter uma «nova proposta» do PS, com «novos aliados» e «novos protagonistas».

Em artigo publicado na edição desta sexta-feira do jornal Público, José Manuel Mesquita começa logo a disparar: «Se é verdade que as reformas não se podem fazer com todos, não é menos verdade que terão que se fazer com alguém».

Mesquita reconhece que, para o Partido Socialista, chegou ao fim um ciclo político. «Um ciclo que foi marcado essencialmente por duas tarefas fundamentais: na primeira legislatura, a recuperação das sequelas da troika e, nos dois anos desta legislatura, enfrentar e resolver a pandemia», continua o socialista, declarando o PS de António Costa competente nestas matérias, «summa cum laude».

Na mesma semana em que Pedro Nuno Santos veio reiterar a defesa da ‘geringonça’ como solução reeditável no futuro – «Não foi um parentesis» –, Mesquita afasta perentoriamente a opção de manter viva a aliança com o PCP e o BE, considerando que está aberto «um novo ciclo», que «implica nova estratégia, novos aliados e novos protagonistas».

Mobilizar energias, vincular decisões e construir resultados são os três objetivos que, na ótica de José Manuel Mesquita, deverão fazer parte da estratégia do PS, defendendo que «Portugal necessita dessa nitidez estratégica, que já não pode ser essencialmente circunstancial – ultrapassar ou recuperar dificuldades objetivas –, mas aspiracional».

O ex-dirigente socialista reconhece a existência de um  intenso cansaço, «próprio de uma persistente pandemia, de um prolongado desgaste socio-empresarial, e de um longo exercício governamental». É aqui que Mesquita volta a sugerir que os protagonistas políticos mudem, garantindo que o referido cansaço «é uma silenciosa contagem decrescente que não se compadecerá com a manutenção dos mesmos protagonistas».

«Uma maioria estável, reforçada e douradora não se obtém porque se comprova que é a melhor saída, mas porque se demonstra que é o melhor caminho (que se tem a estratégia, os aliados e os protagonistas). A um novo ciclo deve corresponder uma nova proposta. Cabe ao PS saber fazer esse exercício», conclui José Manuel Mesquita.