Está para trás o Conselho Nacional do PSD. Informação a reter: Rangel saiu vencedor; as diretas foram antecipadas para dia 27 de novembro e o Congresso antecipado para entre 17 e 19 de dezembro. A única surpresa foi Rio ter pedido para se “abrirem” os cadernos eleitorais: já lá vamos.
Realizou-se, no passado sábado e em Aveiro, o Conselho Nacional extraordinário do PSD. As duas fações beligerantes estavam representadas: Rio, de um lado; Rangel, do outro. O segundo levou a melhor em tudo – algo, aliás, esperado, pois Rangel já saíra vitorioso do último Conselho Nacional. De momento, tem cerca de 70 conselheiros alinhados a seu favor – o suficiente para ter mão no órgão máximo entre congressos. E assim foi.
Rui Rio levou a Aveiro a seguinte proposta: diretas a 20 de novembro; congresso a 10, 11 e 12 de dezembro; abrir os cadernos eleitorais a todos os militantes ativos e não apenas àqueles com quotas em dia. Rangel, por sua vez, propôs diretas a 27 de novembro e congresso a 17,18 e 19 de dezembro. Por fim, uma terceira proposta, do histórico Alberto João Jardim (partidário de Rio): adiar as diretas e o congresso para depois das legislativas – ou seja, aquela que Rio defendia até quinta-feira à noite. Vingou a de Rangel, com 76 votos a favor, 28 contra e 19 abstenções.
Rio tenta cartada a seu favor Se há coisa unânime na corrida à São Caetano à Lapa é que Rangel conta com o apoio dos dirigentes locais e Rio com o das bases. Ou seja, Rangel tem do seu lado os que, teoricamente, mobilizam e Rio tem os que, teoricamente, são mobilizados. Ora, naturalmente, os ‘mobilizados’ são mais do que os que ‘mobilizam’ e, nesse sentido, Rio olha estrategicamente para os primeiros como uma boa fonte de votos. Precisamente com o intuito de os conseguir ‘sacar’, o líder do PSD sugeriu alargar-se o poder de voto a todos os militantes ativos (aqueles que têm quotas pagas nos últimos dois anos). A razão, alegou, é estarem numa “situação excecional”, algo que exige uma “solução excecional”. Indo tal avante, Rio mudaria o atual paradigma eletivo: atualmente, são elegíveis para votarem nas diretas do PSD apenas os militantes com quotas pagas – um universo de 27 mil pessoas ao dia de hoje. Tal, contudo, não foi avante: o seu caudal dentro do Conselho Nacional não foi suficiente para levar a melhor sobre Rangel.
Rio recebeu dois travões a esta proposta: o primeiro veio do Conselho Nacional de Jurisdição, que a considerou impraticável. O segundo veio dos seus opositores, que não cederem às suas vontades. “Não se mudam as regras a meio de jogo”, terá dito, em reunião, Paulo Rangel. Não foi, todavia, este, o único assunto que resultou em ‘bife’ entre as duas alas: houve mais, nomeadamente um que resultou em zanga direta entre generais dos dois pelotões.
“Paulo Mota Pinto tem uma atitude persecutória” No rescaldo do Conselho Nacional, Miguel Pinto Luz – apontado como número dois da candidatura de Rangel –, recorreu ao Facebook para criticar um comportamento do Presidente da Mesa, Paulo Mota Pinto – influente Rioista.
Miguel Pinto Luz fez acompanhar uma fotografia do Conselho Nacional em que Mota Pinto segura sete delegações de voto com a seguinte descrição: “Imparical e equidistante” (ironia), “Será mesmo possível? Ao que chega a falta vergonha!”.
Contactado pelo i, o Vice-Presidente da Câmara de Cascais considerou a postura demonstrada por Paulo Mota Pinto incorreta. No seu entender, o “Presidente da Mesa de Congresso deveria ser imparcial e o mais equidistante possível”. “Ainda que Mota Pinto tenha tido delegações de votos, podia ter sido outro elemento a representá-los que não o Presidente da Mesa”. E afia a crítica: “não basta ser-se sério, tem que se parecer sério”. Nota, ainda, que este comportamento de Mota Pinto não é isolado e que se trata de um “padrão de há muito tempo”: “desde que é presidente de mesa, nos Congressos, no Conselho Nacional, tem uma atitude persecutória e não equilibrada na forma como trata uns e outros”.
Pinto Luz, que está “confiante” na vitória de Rangel, acredita que este Conselho Nacional poderá ter sido um “virar de página”. No seu entender, “ficou claro o que os militantes querem”. “A direção teve mais uma derrota, mantendo uma postura errática devido à constante mudança de posições”. Embora critique o “constante digladiar de posições”, rejeita que o PSD esteja a ir no mesmo caminho do CDS: “O nosso CN está sólido. Pareceu-me tudo coerente. Há uma grande diferença entre os dois. Tenho a certeza de que o caminho do PSD não é o mesmo. A democracia saiu reforçada”. Por fim, assertou que a candidatura de Rangel – um homem como “uma dimensão intelectual e política e um profundo conhecimento dos dossiês” – o “motiva para o futuro próximo do PSD e do país”.
Paulo Mota Pinto não respondeu às tentativas de contacto do i.