Caso Paulo Rangel ganhe as diretas do PSD, o eurodeputado apenas poderá escolher quem serão os seus cabeças de lista pelas distritais. Assim o decidiu a direção do partido, para expectável desagrado dos rangelistas. Segundo esta lógica, Rangel, mesmo que vencendo, ficará impedido de escolher o corpo das suas listas: apenas poderá escolher as diferentes cabeças.
Tal ficou decretado através do cronograma aprovado na passada segunda-feira pela Comissão Política do PSD. Este, que contém os critérios para a elaboração das listas de deputados para as legislativas, apresenta uma pequena (mas significativa) diferença. Agora, em vez de ser o “presidente do partido” a indicar os cabeças de lista, será o “presidente eleito”: uma maneira de Rio, por um lado, não se mostrar inflexível com Rangel e, por outro, colocar-se numa situação em que continua presente quer perca quer ganhe. Para justificar esta sua posição, Rio e o seus partidários falam de questões legais e de agenda, já os rangelistas desvalorizam e dizem que isto não passa de bluff para galvanizar apoios.
A direção de Rio, munindo-se dos estatutos, reclama ser seu o direito de, após ouvidas as concelhias e as distritais, ser sempre ela apresentar o corpo das listas às legislativas. “Isto não é a minha opinião, é o que está nos estatutos”, disse Rio aos jornalistas sobre o assunto. À hipótese de, no caso da vitória de Rangel, se fazer um acordo de cavalheiros e a direção de Rio assinar as listas do primeiro, Rio responde “nunca ter assinado de cruz”. “Assinar de cruz nunca foi uma característica minha. Se isso fosse assim e se o partido quisesse um líder que assinasse de cruz, eu nunca tinha sido líder do partido”. Para Rui Rio, a CPN não é um “notário” que “põe um carimbo” em cima da lista que o presidente eleito quiser.
Segundo a argumentação da direção do PSD, caso se altere o líder do partido, este não terá tempo para conduzir o processo de entrega de listas ao Tribunal Constitucional, cuja data limite é dia 20 de dezembro (um dia depois da tomada de posse da nova direção). A direção de Rio defende que, caso não seja ela a conduzir o processo, não haverá tempo para se fazer tudo de forma legal sem que se corra o risco de impugnação. E Rio não está para isso: “Podem escrever: se o PSD não tiver listas, não será por minha responsabilidade”. No entender de Rio, apenas a falta de “bom senso do Conselho Nacional (CN)” poderá fazer com que as listas não sejam entregues a tempo ao Tribunal Constitucional. Ademais, Rio nota ainda que se o CN não aprovar as listas, Rangel não terá tempo para fazer umas novas: “Não vejo como é possível, se as listas têm de ser apresentadas dia 20, e se o congresso termina dia 19… se não fizermos isto chegamos a dia 19 à tarde e é preciso accionar todos os mecanismos para as fazer”, sacudindo responsabilidades: “Se der asneira e chegarmos ao dia 20 e tivermos listas apresentadas de forma ilegal ou se não tivermos listas, poderão todos escrever que não é por minha responsabilidade”.
“Rio está a jogar tudo até dia 27” Ao i, um proeminente social-democrata alinhado com Rangel explica que a estratégia de Rio não passa de bluff para galvanizar apoios. Para este social-democrata, o líder abandonará efetivamente o barco cor de laranja caso perca nas diretas. “O que o Rio está a tentar fazer é manter acesa a expectativa dos seus apoiantes poderem ir para as listas. No dia 27, se perder, entrega tudo a Rangel”. Munindo-se da retórica, questiona: “Não sendo indigitado para candidato a primeiro-ministro, porque haveria ele de querer fazer as listas de deputados? Para defender os lugares dos amigos?”.
Há, segunda esta fonte, toda uma estratégia por detrás: “Mesmo esta questão do calendário, de querer forçar a indicação de nomes de concelhias até dia 25, é para que haja chatices dentro das concelhias. Ele até dia 27 irá jogar tudo”. E não tem dúvidas quanto à forma como decorrerão as coisas daqui em diante: o “presidente eleito é quem faz as listas. Haverá uma cooperação institucional com a CPN em funções e nunca se chegará ao ponto de o Conselho Nacional rejeitar as listas”. Porque, aliás, “não pode ser de outra forma” – remata.
“Rio deu a Rangel o que podia dar” Já Hugo Carvalho, deputado PSD, sai em defesa do líder do seu partido. Ao i, o membro da direção de campanha de Rio, explica que o trabalho de esculturar as listas “precisa de ser adiantado”, garantindo que o que não “seria normal” era que o “líder eleito, fosse qual fosse, fizesse as listas em dois ou três dias sem ouvir concelhias, distritais ou bases”, notando isto serem “regras” e não algo que Rio “queira fazer”. No seu entender, a direção do PSD não está a fazer nada mais nada menos do que um “calendário para que todas as concelhias se possam pronunciar”. Rejeita, ainda, a ideia de haver as ‘listas de um’ e as ‘listas de outro’: “as listas são exercícios feitos entre distritais, nacionais e concelhias. Se me disserem que o ‘Rio só deu uma partezinha ao Rangel’, eu respondo que deu o que podia dar”.
Relembrando as vezes que Rio “alertou” para os problemas de calendário caso se realizassem as diretas agora, o jovem deputado atira a batata quente para Bruxelas: “Rangel é que quis fazer as eleições desta forma”. Apesar de não acreditar que Rio ou Rangel entrem “numa contenda pós-eleições internas” – comungando com o seu camarada acima citado -, Hugo observa estas diretas já estarem a criar “confusão no partido”, sendo este assunto uma prova disso.