Depois de, na sexta-feira, ter sido anunciado que o Chega vai dar uma “última oportunidade” ao Governo regional dos Açores, liderado pelo PSD, André Ventura esclareceu ontem que, como líder do partido, “respeita a decisão da estrutura regional do Chega/Açores” de “dar ao presidente do Governo Regional dos Açores uma última oportunidade de honrar os compromissos assumidos”.
“Recomendámos que este apoio cessasse, a estrutura acha que deve dar um último apoio ao Governo dos Açores. Eu respeito. Se me perguntar se acredito que o PSD vai arrepiar caminho, tenho sérias dúvidas que o aceite fazer”, indicou, não escondendo que tem “pouca esperança” de que isto aconteça.
Assumindo que a estabilidade política “não é tudo”, aquele que foi candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures, nas eleições autárquicas de 2017, sublinhou que o deputado do Chega nos Açores “vai votar contra o orçamento” se os sociais-democratas não cumprirem o “combate à corrupção, a redução das clientelas políticas, a anulação da contratação de familiares e o apoio às empresas”.
“Um cenário eleitoral nos Açores não é o desejável, todos tentamos evitá-lo e o Chega fez isto permanentemente, mas o PSD recorre sempre à mesma técnica e por isso queremos deixar isto como um alerta para as eleições de 30 de janeiro que é olhar para o lado, não lutar contra a corrupção, não lutar contra a subsidiodependência, aumentar o clientelismo, mas depois dizer que é o interesse nacional”, disse o dirigente que, na sexta-feira, havia frisado que “no que depender da Direção Nacional do Chega e do presidente”, o apoio ao Governo regional tinha cessado naquela mesma data.
Na véspera do início do debate do Orçamento Regional dos Açores – que arranca esta segunda-feira na Horta, ilha do Faial –, depois de ter recuado de decisão “fortemente definitiva” para um “cenário não fechado”, Ventura garantiu “total sintonia” com José Pacheco, o representante do partido na região autónoma. Na sexta-feira, em conferência de imprensa em Ponta Delgada, o deputado elucidou que “o diálogo está a decorrer finalmente”, admitindo que se sentia “mais confortável”, mas reconhecendo que “ainda há caminho a fazer”. “Esta será a última oportunidade dada pelo Chega”, declarou, asseverando, por um lado, que “as negociações não estão fechadas” e, por outro, que “o acordo acaba de ser rasgado”.
Recorde-se que, há cinco dias, Ventura referiu que “Rui Rio deixou claro que ‘abdicará de governar caso tenha de se entender com o Chega’ e é insustentável que um partido sustente esses apoios depois dessas palavras de um líder nacional”, apontou, acreditando que o líder social-democrata “não merece a consideração do Chega” e que “o partido não merece qualquer apoio”.
Apesar de ter orientado Pacheco no sentido de permitir que o governo regional caísse já durante o debate do orçamento, o político que lecionou na Universidade Autónoma de Lisboa, de 2013 até 2019, e na Universidade Nova de Lisboa, de 2016 até 2018, pareceu querer aguardar os próximos desenvolvimentos na medida em que a Assembleia Legislativa é composta por 57 eleitos e a coligação de direita, com 26 deputados, necessita de mais três parlamentares para ter maioria absoluta, sendo que a coligação assinou um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD com a Iniciativa Liberal (IL).
Uma luta que se prolonga A animosidade existente entre o Chega e o PSD tem vindo a ser notada há algum tempo. A título de exemplo, no final de outubro do ano passado, Ventura enviou uma carta aos dirigentes regionais do Chega no arquipélago anteriormente mencionado, definindo as exigências a fazer ao PSD para a abertura de negociações com o objetivo de criar condições para, então, a nova maioria parlamentar de direita viabilizar um Governo Regional liderado por este partido.
Na carta, a que o i teve acesso, André Ventura apelou à calma e a “não alimentar a especulação nas redes sociais ou na imprensa”, porém, definiu as condições indispensáveis para “qualquer conversa com o PSD”: 1 – A participação [do PSD] no processo de revisão constitucional em curso; 2 – O compromisso de redução, nos quatro anos de legislatura, para metade, dos beneficiários de RSI na Região Autónoma dos Açores; 3 – O compromisso de apresentação de um plano regional de luta contra a corrupção e clientelismo na Região dos Açores no prazo de um ano. Sem estas condições, não existiria qualquer conversa entre as duas forças políticas.
Um ano depois de as eleições legislativas regionais dos Açores terem resultado no fim da maioria absoluta do PS na região e numa minoria da esquerda no Parlamento Regional, Ventura lembra agora os requisitos que exigiu naquela época, insistindo que o PSD não os cumpriu.