É hoje que os militantes sociais-democratas vão a votos e, nas primeiras diretas com ‘voto em mobilidade’, decidirão quem tomará o gabinete na São Caetano à Lapa e será ‘candidato a primeiro-ministro’ contra António Costa nas eleições legislativas de 30 de janeiro próximo. Ambos os candidatos são do norte: um com experiência autárquica e outro com experiência europeia. Um que procura «governar ao centro» e outro um pouco mais à direita. Um que quer ganhar através do «voto livre» e outro que apostou nos barões e no aparelho. De um lado, Rui Rio; do outro, Paulo Rangel. O primeiro traz duas diretas no bolso (contra Santana Lopes e Luís Montenegro), o segundo vem à busca da sua primeira vitória (sendo que perdeu contra Pedro Passos Coelho, em 2010).
As contas feitas pelo Nascer do SOL concluem que a batalha está muito renhida. Apesar de Rangel ter do seu lado a maioria dos presidentes das distritais, Rui Rio parece colher particular fortuna na esfera do que ele próprio chama de «voto livre». Aliás, uma recente sondagem da TVI/CNN revelou que, «junto do eleitorado do PSD», 60% considera que Rio seria melhor primeiro-ministro do que Rangel, ao passo que só 27% acharia o contrário. Segundo esta sondagem, o mesmo grupo de «eleitorado do PSD» considera, ainda, que Rio é superior a Rangel em várias frentes, como «conseguir apoios nos outros partidos», ter «mais capacidade para ganhar eleições legislativas», «mudar Portugal para melhor», ser «mais próximo das pessoas», «ser mais honesto», «ser melhor líder da oposição» (com a menor margem das mencionadas), ou, não sendo isto propriamente positivo, «ser mais arrogante». O mesmo «eleitorado do PSD» só coloca Rangel à frente de Rio em duas frentes: «dinamismo» e capacidade para «unir o partido». A mesma sondagem dava melhores resultados nas legislativas ao PSD com Rui Rio (32,1%) do que com Paulo Rangel (23,9%). Mas esta sondagem não tem como amostra os militantes sociais-democratas com quotas pagas.
Os corredores são de Rangel, mas as ruas são de Rio
Nestes, se, por um lado, as previsões são praticamente unânimes a darem Rangel como claro dominador do aparelho partidário local, por outro lado, também há muito a ideia de que Rio tem vindo a manifestar maior capacidade de mobilização do voto direto (tanto que tem Call Centers a ligar para os seus afetos instruindo-os sobre como votar).
Há, porém, um factor que dificulta as previsões: é que, pela primeira vez, o partido abriu portas ao «voto em mobilidade». Ou seja, entre 5 e 12 de novembro, os militantes que estavam deslocados da morada da sua concelhia puderam exercer o seu direito de voto noutra secção.
Peguemos no mapa e façamos contas, ouvidos elementos das ‘máquinas’ dos dois candidatos: das 19 distritais do PSD do país (correspondentes aos 18 distritos, mas sendo que Lisboa é dividida em duas – separando a Região Oeste), Rio conta com maioria eleitoral em 11 (Porto, Aveiro, Bragança, Évora, Viana do Castelo, Viseu, Leiria, Santarém, Lisboa Oeste, Portalegre e Beja). Já Rangel conta com maioria eleitoral nas restantes oito (ou seja, Lisboa, Braga, Setúbal, Faro, Guarda, Coimbra, Castelo Branco e Vila Real). Sendo que as ilhas, Madeira e Açores, deverão tender para o atual líder.
Apesar do exposto, e atendendo ao facto de que as distritais não são todas iguais em matéria de peso eleitoral, importa saber quem ganha nas mais relevantes. Nesse campo, os candidatos saem empatados. Segundo os cadernos eleitorais do PSD, as distritais com maior número de eleitores são Porto, Braga, Área Metropolitana de Lisboa (AML) e Aveiro. Destas, Porto e Aveiro estarão sob domínio de Rio – apesar de os dirigentes locais portuenses alinharem com Rangel e isso poder traduzir-se em eventuais alterações – e a distrital de Lisboa e a de Braga pendem para Rangel.
Nos 19 concelhos do Porto – cidade dos dois beligerantes -, apenas um, a nível das cabeças de estrutura, é apoiante declarado de Rio: o da Póvoa de Varzim (via Afonso Martins, vice-presidente da bancada do PSD). Não obstante a vitória ‘formal’ de Rangel no distrito, as expectativas da candidatura de Rio é de que os votantes não sigam a indicação de voto dos líderes locais: por isso, Rio recorda a votação das bases sempre que concorreu e o apoio com que sempre contou quando foi presidente da Câmara local.
Quanto a Braga, à exceção de Barcelos e Guimarães, o distrito é quase todo dominado por Paulo Rangel, nas cúpulas e também nas bases. Note-se, por exemplo, que oito dos novos autarcas sociais-democratas em Braga são rangelistas: Vila Verde, Vieira do Minho, Braga, Amares, Vila Nova de Famalicão, Celorico de Basto, Esposende e Terras do Bouro. Dos autarcas minhotos, a alçar a espada por Rio só está mesmo Mário Constantino, edil em Barcelos. Não se pense, todavia, que Barcelos é ‘carne para canhão’: o concelho aumentou exponencialmente (em 683) o seu número de eleitores face às ultimas diretas e passou, assim, a ser a segunda maior concelhia do país, perfazendo o total de 1750 eleitores.
Rio podia ter ganho Oeiras
Nota ainda para uma cara conhecida que salta da Place du Luxembourg diretamente para cacicar o concelho de Vila Verde: José Manuel Fernandes – o herdeiro de Rangel nas lides europeias. José Manuel Fernandes, que sempre apoiou Rio, tem um papel importantes a arregimentar votos no concelho. E a seu lado tem a sua mulher, Júlia Fernandes, que é agora presidente da Câmara.
Já em Lisboa, o recém-eleito líder da distrital, Ângelo Pereira, aguardou que encerrassem as eleições distritais para anunciar o seu sentido de voto. Palavra dada, palavra honrada: esta semana, o vereador lisboeta saiu a terreiro para anunciar o seu voto favorável a Rangel. De notar, ainda, que Rangel conseguiu colocar do seu lado Luís Newton e Paulo Ribeiro. Também Cascais, onde capitaneiam Pinto Luz e Carreiras, deverá revelar-se terreno fértil de votos para Rangel.
Rio, por seu lado, terá perdido a hipótese de equilibrar as contas no distrito, quando desistiu de dar o apoio formal do PSD à candidatura de Isaltino de Morais em Oeiras – caso em que os sociais-democratas deste concelho poderiam servir de contrapeso e reduzir a influência dos homens-fortes de Cascais no aparelho laranja.
Por outro lado, Aveiro foi, talvez, o maior palco de batalha destas diretas. Distrital do seu homem mais forte – Salvador Malheiro -, Rio fez tudo para a conquistar. E conseguiu, admitem ao Nascer do SOL fontes próximas da campanha de Rangel.