Sem campanha eleitoral interna nem debates, Rui Rio venceu as eleições diretas do PSD, no passado sábado.
Com mais de 52% dos votos dos militantes social-democratas, Rio reforçou a sua liderança do PSD, e prepara agora terreno para as eleições legislativas de 30 de janeiro. Uma vitória dos “militantes de base”, como a denominou. Por sua vez, Rangel assumiu a derrota serenamente, deixando “um apelo muito importante à unidade”. O eurodeputado fez ainda um pedido para que se mantivesse o “espírito de cooperação” de “ambos os lados”.
“Dentro de dois meses, teremos uma batalha decisiva, que são as eleições legislativas. E é muito importante que todo o partido esteja unido em torno da estratégia que teve vencimento e do líder que a protagoniza”, decretou, afirmando dar a sua “colaboração leal e efetiva” a Rio, cuja legitimidade como líder do PSD ficou “reforçada” com estas eleições.
Mãos à obra Resolvido o imbróglio interno do PSD, é hora de pôr mãos à obra com as eleições legislativas em mente. O sufrágio acontecerá a 30 de janeiro, e o prazo limite para a entrega da lista de deputados termina a 20 de dezembro, apenas um dia depois de terminar o Congresso do partido, que decorrerá entre 17 e 19 de dezembro, na FIL, em Lisboa.
Com a vitória de Rio, aliás, resolveu-se também – ou melhor, evitou-se – uma eventual crise relacionada com a definição das listas. Rangel prometia, em campanha interna, que devia ser o líder eleito a conduzir o processo de organização das listas, ao passo que o atual presidente do partido defende o papel dos estatutos, que atribuem à Comissão Política Nacional (CPN) a responsabilidade de propor essa lista ao Conselho Nacional, órgão que tem a última palavra a dizer sobre a mesma.
Agora, no entanto, resta saber como entrarão os líderes distritais e regionais em paz com Rio, depois de alguns deles terem apoiado abertamente a candidatura de Rangel à liderança do partido. Mas o líder do PSD não pareceu mostrar-se muito nervoso com a situação. “Fazer listas com nomes, seja para o Conselho Nacional, para a Comissão Política Nacional, seja o que for, é sempre difícil em qualquer partido. No nosso sempre foi e continuará a ser”, referiu, durante o seu discurso de vitória, no sábado.
Os problemas até poderão vir de outras zonas do país, mas, dos Açores, onde o líder social-democrata obteve 77% dos votos, não há dúvidas do seu apoio, sendo que José Manuel Bolieiro, líder do PSD/Açores, já foi seu vice-presidente. Luís Pereira, secretário-geral do braço regional do partido, citado em nota de imprensa, começou por felicitar o líder social-democrata “pela sua reeleição como presidente do partido”, com “grande satisfação com a forte participação dos militantes de todo o país”. Pereira considera ainda que “terminado que está o ato eleitoral, o tempo agora é de reforçar a união do partido, de forma que se abra um novo ciclo de esperança para Portugal e para os portugueses nas eleições legislativas nacionais”.
As distritais do país têm até amanhã para aprovar as suas escolhas, passando-se depois para o passo seguinte: até 6 de dezembro, ficará aberto um período de negociações com a Comissão Política Nacional. Já foi até marcado o Conselho Nacional para aprovar as listas, que deverá acontecer a 7 de dezembro. Se não for possível aprovar as listas nesse dia, o processo continuará no 10 de dezembro.
Coligar, ou não coligar? Uma das grandes questões na mente de Rui Rio é a de criar eventuais acordos pré-eleitorais. O líder social-democrata já se mos trou a favor da ideia de se juntar ao CDS-PP de Francisco Rodrigues dos Santos, numa proposta conjunta às eleições legislativas. A ideia não ganhou grande tração no Conselho Nacional do partido, em Aveiro, mas poderá não estar completamente descartada. Afinal de contas, a proposta não foi a votos, e Rio já admitiu que vai levar à Comissão Política Nacional uma proposta para ser votada, como o mesmo afirmou à Renascença.
Aliás, o próprio Francisco Rodrigues dos Santos tinha já dado uma pista sobre este assunto, ainda antes das eleições diretas do PSD. “A possibilidade de uma coligação pré-eleitoral está naturalmente em cima da mesa, qualquer que seja o desfecho das eleições diretas no PSD”, revelou o líder centrista aos jornalistas. “Nesse sentido, é natural que, perspetivando as eleições legislativas, o cenário de coligação estivesse em cima da mesa, como está. Eu coloco-o, assim como o doutro Rui Rio o coloca”, disse.