A pandemia estava a acalmar, a vacinação ajudou, o país aberto por completo. Tudo motivos para que a economia começasse a crescer e as previsões fossem positivas. Só a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê uma forte recuperação da economia portuguesa, com o produto interno bruto (PIB) a aumentar 14%, entre 2021 e 2023. Na prática, a instituição perspetiva um crescimento de 4,8% em este ano, 5,8% no próximo e uma subida mais modesta de 2,8% em 2023. O PIB deverá ultrapassar o nível pré-crise só à volta de meados de 2022.
O turismo também está a dar sinais de recuperação com algumas regiões já a superar níveis pré-pandémicos e a taxa de desemprego manteve-se em outubro face a setembro. No entanto, os novos casos de covid-19 estão a aumentar e pode interromper esta rampa de lançamento no crescimento.
“Restrições à circulação de pessoas penaliza sobretudo os setores mais dependentes da proximidade social”, alerta Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. E acrescenta: “Quanto maiores forem as restrições maior será o impacto nos setores de serviços mais sujeitos a presença física e, consequentemente, penalização da economia como um todo”.
Ao i o economista diz não ter dúvidas que “o setor do turismo é um dos mais penalizados e o peso deste na economia portuguesa nos últimos dez anos tem subido gradualmente”.
A opinião é partilhada por Nuno Mello, analista da corretora XTB ao garantir que “a variante covid-19 Omicron traz um risco acrescido para a recuperação mundial”.
O analista explica que “os investigadores tentam ainda perceber esta nova variante mas daquilo que é conhecido ao dia de hoje, parece ser mais contagiosa mas ter efeitos secundários pouco gravosos”. E, com os casos já detetados em Portugal, bem como o aumento do número de infeções diárias, o país teve que impor novas restrições. “As novas medidas restritivas impostas pelo Governo estão a levar a uma testagem muito superior da população portuguesa, o que inevitavelmente resultará num maior número de casos”, alerta o analista da XTB que diz que, posto isto, acredita “que o Governo não terá outra solução do que impor ainda mais medidas restritivas, que irão penalizar todos os setores da economia mas sobretudo a restauração e hotelaria, a cultura, o setor dos transportes e da diversão noturna”. Tudo isto deverá levar a uma revisão em baixa do crescimento para o próximo ano.
Recorde-se que Nuno Mello já tinha adiantado ao Nascer do SOL que “se as medidas restritivas se agravarem e as administrações públicas tiverem que adotar novas medidas de apoio à economia, então muito dificilmente Portugal conseguirá começar a reduzir a dívida em 2022 e processo de ajustamento da economia portuguesa”.
Já Paulo Rosa garante que as restrições se agravarem “poderemos ter um expressivo impacto negativo na economia”. No entanto, defende que “as atuais restrições parecem não ser suficientes para invalidarem uma recuperação económica e impulsionarem o crescimento económico em 2022 e 2023”.