A novela em torno da detenção de Manuel Pinho e da mulher, Alexandra Pinho, no âmbito do caso EDP, adensa-se cada vez mais. O Ministério Público quer ver aplicada uma caução ao casal, que é suspeito dos crimes de corrupção e branqueamento de capitais. O perigo de fuga e o facto de o casal ter fixado residência em Alicante, Espanha, é uma das razões evocadas pelos investigadores Carlos Casimiro e Hugo Neto para exigir o pagamento desta caução.
Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de José Sócrates, foi detido ontem de manhã, após interrogatório no âmbito do caso EDP, e acabou por ter de passar a noite na esquadra de Moscavide. A detenção de Manuel Pinho, bem como o interrogatório da sua mulher na qualidade de arguida, são justificados pelo Ministério Público como fundamentais para terminar o inquérito do caso EDP, onde Pinho é arguido desde 2017, e que está na corrida final para a acusação.
Recorde-se que o antigo ministro foi detido, na terça-feira, por ordem do Ministério Público, que pediu ao juiz de instrução que alterasse as medidas de coação que lhe foram aplicadas anteriormente. Perante o juiz, o ex-ministro não quis prestar declarações.
Já Alexandra Pinho, que entre 2004 e 2014, trabalhou no BES como curadora da coleção de arte do banco, foi ouvida pela primeira vez. A demora justificou-se com o facto de o juiz a ter de confrontar com os cerca de 600 factos que o MP reuniu na investigação e sobre os quais pretende obter a sua versão.
O que está em causa O antigo ministro da Economia é acusado dos crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais, num caso em que o Ministério Público suspeita que terá arrecadado quase 4 milhões de euros de sociedades offshore, durante o período em que foi ministro da Economia no Executivo de José Sócrates, entre 2005 e 2009.
Pinho foi constituído arguido no âmbito do caso EDP em 2017, com base em alegadas transferências de dinheiro provenientes do Grupo Espírito Santo. Para agravar a situação, o seu nome foi mencionado numa investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas (Pandora Papers), incluindo-o numa lista de políticos que terão escondido fortunas em paraísos fiscais. Alexandra Pinho acabou por sair em liberdade.
Dia triste Quem não ficou feliz neste episódio foi, por sua vez, Sá Fernandes. “É um dia triste para a justiça portuguesa”, declarava o advogado de Manuel Pinho, à saída do Departamento Central de Investigação de Ação Penal (DCIAP) em Lisboa.
Sá Fernandes aclarou que o seu cliente “nunca fugiu às suas responsabilidade”, e afirmou ainda: “Isto tem a ver com certeza com uma errada conceção do segredo de justiça”, acrescentando que a corrupção “não é para ser combatida com o atropelo dos diretos das pessoas”.